Index Librorum Prohibitorum

A Reforma Protestante se iniciou em 1517 e houve a reação católica, chamada de Contrarreforma, para confrontar o protestantismo que se espalhara pela Europa, com muitas guerras e conflitos entre eles, terminando apenas em 1648, com a Paz de Vestfalia que demarcou os territórios e fronteiras políticas e religiosas de protestantes e de católicos. A Contrarreforma ou Reforma Católica contou com movimentos místicos, as ordens franciscana, dominicana e jesuíta, o Concílio de Trento, a rejeição explícita ao protestantismo, a oficialização do Tomismo e da Vulgata, a Inquisição e a condenação de livros apócrifos ou deuterocanônicos, com a divulgação da lista dos livros proibidos – o Index Librorum Prohibitorum de 1559, para a reconquista de territórios que o catolicismo havia perdido para os protestantes.

Index Librorum Prohibitorum durante o papado de Bento XIV (1758)

O Index Librorum Prohibitorum ou “Index Expurgatorius” foi uma lista de publicações proibidas pela Santa Sé (ou sede), por serem consideradas heréticas e de várias linhas de pensamentos divergentes, desde o início do cristianismo, mas que se acirrou principalmente por conta das divergências com os protestantes e iluministas. A Igreja Católica desde seu início se acostumou a censurar o conhecimento de seus fiéis, intimidando sua busca de verdades e infundindo medo de heresias e desvios doutrinários.

No século 16, o Papa Pio V instituiu a Sagrada Congregação do Índice (index) e a primeira lista ou índice (Index) católico foi adotado no Concílio de Latrão de 1515, confirmado no Concílio de Trento de 1546, sua primeira edição, com este título Index Librorum Prohibitorum, é de 1557, mas foi oficializado em 1559, pelo Papa Paulo V, ficando sob a supervisão do Santo Ofício da Inquisição, depois chamada de “Congregação para a Doutrina da Fé”.

Até ao século 18 quem ousasse ler obras proibidas pelo Index eram acusadas de hereges e levadas aos tribunais da Inquisição. No século 20 (1948) já incluía 4 mil títulos proibidos e somente em 1966 o Vaticano (Papa Paulo VI) anunciou o fim deste Index dos livros que os “bons católicos” eram proibidos de ler desde o século 16, tendo vigorado por mais de 400 anos.

Desta lista constavam livros fora dos critérios católicos, seja por heresias ou por superstições, paixões carnais, deficiências morais, sexo explícito, incorreções políticas, polêmicas e outras razões menores. Os autores “indexados” poderiam reescrever suas obras, parcial ou totalmente, de acordo com as exigências dos censores da Igreja, até obterem a permissão do papa para sua publicação. Os bispos e os inquisidores inspecionavam impressões e livrarias, criteriosamente, e os autorizados recebiam o carimbo “imprimatur” (que seja publicado).

O index era a lista de todas as obras proibidas pela Igreja, atualizada periodicamente, quando surgiam novas obras. Ele incluiu importantes filósofos, teólogos, pensadores, cientistas, autores e iminentes escritores como Copérnico, Galileu, Kepler, Maquiavel, Erasmo de Roterdã, Hobbes, Lutero, Calvino, Bacon, Voltaire, Victor Hugo, Alexandre Dumas, Montaigne, Descartes, Montesquieu, Kant, Pascal, Spinoza, Rousseau, Berkeley, Hume, Locke, Diderot, Zola, Balzac, Flaubert, Nietzsche, Darwin et al. Até mesmo foi proibido o estudo ou pesquisas sobre as origens e a história do próprio cristianismo, em 1910, pela Papa Pio X. Alguns destes autores se tornaram obras raras e difíceis de serem encontradas.

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