A Semana de Arte Moderna foi um evento de grande importância que aconteceu em fevereiro de 1922 no Theatro Municipal de São Paulo.
Os artistas que participaram da Semana de 22, como ela ficou conhecida, eram jovens idealistas e visionários que procuravam uma renovação das artes e da cultura em solo brasileiro.
Assim, eles se inspiraram nas vanguardas europeias - correntes artísticas inovadoras do início do século XX - para construir uma estética ousada que tratasse das questões nacionais.
Foram várias as personalidades que estiveram presentes no evento, de distintas linguagens artísticas como a pintura, escultura, música e literatura.
Alguns homens que participaram da Semana de Arte Moderna em imagem de 1924 no Hotel Terminus. Foto: Arquivo NacionalA pintora, desenhista e professora Anita Malfatti foi talvez a mulher de maior relevância a participar da Semana de Arte Moderna.
Anita Malfatti em retrato de 1912Entre 1910 e 1914, Anita estudou na Alemanha e lá entrou em contato com as tendências de vanguarda, como o expressionismo, que se manifesta fortemente em seu trabalho.
Apresentando uma pintura alinhada com o modernismo europeu, ela já havia causado polêmica em 1917 ao realizar uma exposição, que foi duramente criticada, principalmente pelo escritor Monteiro Lobato (1882-1948).
Assim, em 1922 participou da Semana com cerca de 20 telas, entre elas A boba (1916). A pintura traz muitas características do modernismo, com cores marcadas, irreverência, deformidades, rejeição ao academicismo e às figuras realistas.
A boba (1916), de Anita MalfattiDepois da Semana de 22, Anita Malfatti seguiu produzindo algumas pinturas com elementos modernos, mas deixou de lado as rupturas e ousadias, apoiando-se no fauvismo e arte naif.
Para saber mais, leia: Anita Malfatti: biografia, obras e exposições
Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, ou apenas Di Cavalcanti, foi um dos criadores da Semana de Arte Moderna.
Retrato de Di Cavalcanti. Foto: Arquivo NacionalDesenhista, caricaturista, pintor e escritor, foi ele quem criou o cartaz e o catálogo do evento. Além disso, expôs mais de 10 trabalhos na ocasião.
Buscava através de sua obra a valorização da cultura brasileira, trazendo temas regionais, como as festas populares e o povo.
Catálogo e cartaz da Semana de Arte Moderna, de Di CavalcantiUma das grandes influências para Di Cavalcanti foi o pintor cubista Pablo Picasso, além do muralismo mexicano de Diego Rivera.
O intelectual Mario de Andrade foi, além de escritor, crítico de arte, fotógrafo e pesquisador de música e de folclore.
Retrato de Mario de Andrade em 1928. Foto: Michelle RizzoEle desenvolveu um intenso trabalho de valorização da identidade e diversidade nacional, se tornando um dos expoentes da cultura no país.
Sua atuação na Semana de 22 foi muito significativa, sendo um dos principais organizadores do evento.
Foi nesse ano também que ele lança Paulicéia Desvairada, um marco para o movimento modernista, inaugurando sua primeira fase.
No livro são apresentados poemas que exibem de maneira ousada a efervescência e tensão na metrópole paulistana no início do século XX.
Para conhecer melhor o escritor, leia: Mario de Andrade: biografia, obras e poemas.
Outro grande articulador da Semana de 22 foi o escritor e agitador cultural Oswald de Andrade.
Oswald de Andrade na década de 20Vindo de uma família de posses, Oswald permaneceu um tempo na Europa e lá conheceu de perto algumas tendências da arte moderna que estava em seu auge.
Ao retornar ao Brasil, sente necessidade de colocar em prática algumas dessas influências europeias, mas buscando tratar de questões e temas nacionais.
Assim, organiza-se com amigos e pensa em uma maneira de mostrar essa nova estética, criando a Semana de Arte Moderna.
Mais tarde, casa-se com Tarsila do Amaral (1886-1973). A importante pintora não esteve presente na Semana de 22, mas foi um nome essencial para a implementação do modernismo no Brasil.
Juntos, criam o Movimento Antropofágico, que tinha como objetivo a valorização da cultura brasileira e foi muito relevante na primeira fase do modernismo nacional.
Para saber mais: Oswald de Andrade: biografia, obras e poemas e Tarsila do Amaral: biografia e obras.
Quando se fala em escultura moderna na arte brasileira, um nome que se destaca é o do ítalo-brasileiro Victor Brecheret.
Brecheret também teve parte de sua formação artística na Europa, o que influenciou diretamente seu trabalho.
A simplicidade das formas e a valorização da expressividade são características de suas esculturas.
Eva (1920), de Victor BrecheretAssim, em 1922 o artista também estava entre os modernistas que se apresentaram na Semana, exibindo 12 peças no Theatro de São Paulo.
Manuel Bandeira é um mais renomados escritores da primeira geração modernista. Conhecido principalmente pela sua poesia, Bandeira também foi cronista, tradutor e professor.
Manuel Bandeira em 1955. Foto: Arquivo NacionalEm 1917 publicou seu primeiro livro, A cinza das horas, que reúne poemas onde alguns aspectos da estética modernista já aparecem.
Mais tarde conhece Oswald de Andrade e se envolve em discussões acerca das novas formas de arte presentes nas vanguardas europeias.
Assim, participa da Semana de 22 com o poema Os sapos, recitado por Ronald de Carvalho. A apresentação foi vaiada, pois o público não compreendeu e não aceitou o texto, cheio de críticas ao conservadorismo.
Temas recorrentes em sua produção são as situações do cotidiano, melancolia e a infância, exibidos em versos livres e uma escrita informal.
Leia também: Manuel Bandeira: biografia, obras e melhores poemas
O multi-instrumentista e maestro Heitor Villa-Lobos foi um dos artistas brasileiros que teve uma enorme importância no contexto modernista, no início do século XX, deixando um legado precioso.
Villa-Lobos em 1922Participou da Semana de 22 tocando nos três dias do evento, pois sua música reunia as características essenciais do modernismo, aliando música clássica e popular, resultando em uma produção ousada e transformadora.
São muitas as suas músicas de destaque, como a série de composições intitulada Bachianas Brasileiras, produzidas a partir da década de 30.
Foram poucas as mulheres presentes na Semana de 22, mas no campo da música merece destaque a pianista Guiomar Novaes.
Guiomar Novaes em 1919Artista precoce, Novaes inicia os estudos no piano ainda criança e tem formação na França. Na década de 20 vem ao Brasil e em 1922 participa da Semana tocando músicas da Chopin.
Guiomar Novaes consolida sua carreira internacionalmente, levando a outros países o trabalho de seu colega Villa-Lobos.
Menotti Del Picchia foi um dos articuladores da Semana de Arte Moderna.
Escritor, político, advogado e pintor, Menotti teve uma atuação importante no evento, inaugurando a segunda noite, a mais polêmica.
Menotti Del Picchia nos anos 20Com Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Mário de Andrade e Oswald de Andrade, forma o Grupo dos Cinco, que defendia a ideologia modernista proposta na Semana.
Entretanto, contraditoriamente, mais tarde se junta com Plínio Salgado (1895-1988), Guilherme de Almeida (1890-1969) e Cassiano Ricardo (1895-1974) e idealiza o Movimento Verde-Amarelo, que se opunha aos valores antropofágicos de Tarsila e Oswald, fundando assim uma corrente nacionalista com viés fascista.
A mostra de pintura na Semana de Arte Moderna contou também com trabalhos do jovem artista pernambucano Vicente do Rego Monteiro.
O pintor, que na época tinha 23 anos, já possuía uma produção madura, trazendo muitas influências das vanguardas europeias. Isso porque havia estudado artes em Paris no começo da juventude, entrando em contato direto com as inovações que lá surgiam.
O menino e a ovelha (1925), de Vicente do Rego MonteiroUma das tendências que mais aparece em suas telas é o cubismo. Seus quadros são marcados por formas geométricas e simplificações, exibindo as figuras de forma quase escultórica.
Teresa Aita, conhecida como Zina Aita, é uma artista pouco lembrada atualmente, mas foi uma das precursoras da arte moderna, especialmente em Minas Gerais, seu estado de origem.
Também estudou na Europa, como a maioria dos artistas modernos. Quando retorna ao Brasil se aproxima do grupo modernista, se tornando amiga de Anita Malfatti e Mario de Andrade.
Sua obra, composta por pinturas, cerâmicas e desenhos, integra elementos do pós-impressionismo e art nouveau.
Homens trabalhando (1922), de Zina AitaDois anos após a Semana, Aita passa a morar na Itália, onde suas peças em cerâmica fazem sucesso e ela se torna reconhecida.
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