O Círio de Nazaré é uma procissão católica que acontece todos os anos em Belém do Pará, no Norte do Brasil, no segundo domingo de outubro.
A procissão consiste em levar a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, carinhosamente chamada pelos seus devotos de Naza ou Nazinha, da Catedral de Belém (onde permanece durante todo o ano) até a Praça Santuário de Nazaré.
Catedral de Belém do Pará em dia de CírioA tradição do Círio de Nazaré surgiu algum tempo depois de um homem encontrar uma imagem da santa.
A esse fato são atribuídas diferentes versões. Uma das mais credíveis é baseada em um manuscrito de Dom Frei João Evangelista, quinto bispo do Pará, onde ele afirma que no final do mês de outubro de 1700, Plácido José de Souza teria encontrado uma imagem da santa perto de um igarapé localizado à margem de um córrego e decidido levá-la para casa.
No dia seguinte, a imagem havia desaparecido e Plácido a teria encontrado novamente no mesmo local onde a tinha visto pela primeira vez. O fato se repetiu durante dias e, assim, Plácido entendeu que a imagem deveria ser mantida no local onde sempre reaparecia, construindo ali uma pequena capela para abrigar a santa.
Maquete do Museu da Memória de Nazaré, que reproduz o momento em que Plácido encontrou a santaPor ficar localizada perto de uma estrada, muitos que passavam conheciam a imagem e costumavam deixar velas e esculturas de cera, para além de outros tipos de ofertas.
Com o passar do tempo, cada vez mais pessoas visitavam a capelinha. Depois da construção original, ainda foram construídas outras três capelas (em momentos diferentes), cujas dimensões eram sempre maiores do que que a das anteriores, que estavam substituindo. Essa necessidade de ampliação culminou na construção da majestosa Basílica Santuário.
Acreditava-se que a imagem teria sido de missionários jesuítas portugueses. Em 1773, Dom Frei João Evangelista Pereira a enviou para ser restaurada em Portugal e solicitou à então Rainha Dona Maria I e ao Papa Pio VI uma licença oficial para honrar a santa com uma festividade.
A autorização foi dada em 1790, mas só chegou a Belém em 1792.
VEJA TAMBÉM: Lendas da Região NorteEm 1792 o então capitão-geral do antigo estado do Grão-Pará e Rio Negro, Francisco de Souza Coutinho, visitou o local onde havia sido construída a capela para a abrigar a imagem de Nossa Senhora de Nazaré encontrada perto do córrego.
Francisco ficou muito impressionado com a quantidade de devotos que comparecia ao local e após autorização concedida por Portugal, decidiu organizar uma grande feira de produtos agrícolas para atrair a atenção de todo o estado para Belém.
Após alguns meses de preparação, o capitão adoeceu. Com receio de não poder fazer a abertura da feira, prometeu que se recebesse a graça da cura, pediria a celebração de uma missa e depois levaria a imagem de Nossa Senhora de Nazaré em um palanquim, junto com a população, até a capela.
Ao alcançar a cura, o capitão cumpriu sua promessa e aconteceu assim o primeiro Círio de Nazaré, com uma grande procissão que ocorreu no dia 8 de setembro de 1793.
O Círio de Nazaré é uma festa religiosa que consiste em várias subdivisões oficiais. Confira abaixo as principais.
O traslado consiste no primeiro percurso feito pela Imagem de Nossa Senhora de Nazaré durante o Círio. A imagem segue em cima de um automóvel, da Basílica de Nazaré até a Igreja de Nossa Senhora das Graças (igreja matriz), que fica em Ananindeua, município vizinho de Belém.
Lá, a santa permanece durante a noite, acompanhada por uma vigília de fiéis.
Após a vigília noturna em Ananindeua, a imagem da santa segue para a Vila de Icoaraci, em Belém, e é acompanhada por ambulâncias e carros de autoridades oficiais, como polícia, bombeiros, etc.
No Círio fluvial, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré segue de barco pela Baía do Guajará, de Icoaraci até o cais do porto da cidade de Belém, e é acompanhada por canoas, Jet Skis, barcos e iates enfeitados para homenagear a santa.
A moto-romaria ocorre logo depois do Círio fluvial. Nela, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré parte da Estação das Docas, rumo ao Colégio Gentil Bittencourt, acompanhada por um grande número de motos, muitas delas enfeitadas, que ao som da buzina anunciam a passagem da santa.
A trasladação é um procissão que acontece uma noite antes do Círio propriamente dito. Durante o seu percurso, a imagem de Nossa Senhora de Nazaré é conduzida em uma berlinda atrelada a uma corda de cerca de 400 metros.
Na trasladação, a santa segue do Colégio Gentil Bittencourt e para a Catedral da Sé, em uma berlinda carregada por pessoas, ou seja, sem auxílio de nenhum automóvel.
O percurso da trasladação ocorre no sentido oposto ao do percurso da Procissão do Círio.
A procissão do Círio de Nazaré reúne mais de 2 milhões de fiéis e segue um trajeto que vai da Catedral da Sé até a Basílica de Nazaré.
Esta romaria é considerada o auge do Círio. O percurso começa com a celebração de uma missa e em seguida, a imagem da santa é conduzida pelo arcebispo até a berlinda, para seguir o trajeto até a basílica.
Muitos devotos formam um cordão humano ao longo da corda. Alguns seguem descalças, outros carregam com eles crucifixos, imagens da santa e/ou objetos que estejam relacionados com alguma graça alcançada, como forma de agradecimento ou pedido.
Chegando lá, a santa fica em exposição ao público durante uma semana, na praça do santuário.
O Recírio é uma procissão de despedida que ocorre duas semanas depois do Círio. A romaria inicia com a celebração de uma missa que termina com o arcebispo de Belém retirando a imagem original da santa de dentro da berlinda e a erguendo para abençoar os devotos.
Em seguida, a santa original é colocada em uma redoma de cristal no altar principal da Basílica Santuário e permanece no local até o Círio do ano seguinte.
Uma imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré segue em romaria rumo ao Colégio Gentil Bittencourt, ficando lá até o Círio do ano a seguir.
Confira abaixo alguns símbolos que caracterizam o Círio de Nazaré.
A berlinda é uma espécie de pequeno santuário onde é transportada a imagem de Nossa Senhora de Nazaré.
É um símbolo que passou a fazer parte do Círio em 1882 e costuma ser decorada com belíssimos arranjos de flores naturais.
Antes de cada Círio, ela sempre passa por pequenos reparos.
A cada ano a imagem de Nossa Senhora de Nazaré é envolta por um novo manto, um dos símbolos mais importantes da romaria.
O manto que adorna a santa já foi confeccionado por diferentes pessoas. Dentre elas, está uma irmã da Congregação das Filhas de Sant’Ana, uma ex-aluna do Colégio Gentil Bittencourt (local que abriga a imagem peregrina) e também famosos estilistas.
A confecção é toda feita com base em doações e costuma ser inspirada em trechos do Evangelho.
A corda do Círio de Nazaré é utilizada na Trasladação e na Procissão do Círio.
Ela foi utilizada pela primeira vez em 1885, para puxar a berlinda que havia ficado atolada após uma enchente ocorrida no momento da procissão. Desde então, passou a integrar a procissão.
Com 400 metros de comprimento, feita de sisal e pesando cerca de 700 quilos, é atrelada à berlinda e costuma ser disputada pelos peregrinos durante as romarias: são muitos os que querem seguir a procissão bem de perto, segurando na corda.
No fim da romaria, mesmo contrariando as indicações da Diretoria do Círio, os devotos costumam cortar a corda pois têm fé de receber bençãos e proteção ao ficar com um pedaço dela.
Nos carros de promessas, os promesseiros costumam colocar objetos em cera (como velas e esculturas de partes do corpo que receberam a cura de alguma enfermidade), miniaturas de casas e de barcos como agradecimento pela conquista desses bens, dentre outros.
O objetivo é sempre fazer uma promessa para ter um pedido atendido ou agradecer uma graça pedida e já recebida.
O Arraial de Nazaré é uma tradição que começou na primeira edição do Círio de Nazaré, em 1793. Na época, consistiu em uma grande feira de produtos agrícolas.
Com o passar do tempo o arraial passou a ser formado por uma série de brinquedos direcionados para o divertimentos dos fiéis, bem como por várias barracas de venda de artesanato, comidas típicas e outros produtos industrializados, todos localizados em um espaço próximo da Basílica Santuário.
VEJA TAMBÉM: Cultura do norte: conheça sua riqueza!Uma característica bastante marcante no que diz respeito ao Círio de Nazaré está relacionada com a culinária.
Com a aproximação da romaria, é muito comum sentir pelas ruas de Belém do Pará o cheiro do preparo da maniçoba. O prato é feito com folhas da mandioca, que precisam ser cozinhadas durante 7 dias para deixarem de ser venenosas.
Outro característica é o preparo de um prato igualmente tradicional dessa quadra religiosa: o pato no tucupi.
Além do preparo das refeições, é costume encontrar casas e ruas enfeitadas para saudar Nossa Senhora de Nazaré.
VEJA TAMBÉM: Lenda do açaíNão pare por aqui! O Toda Matéria selecionou uma série de textos riquíssimos sobre o folclore para ajudar você a ampliar os seus conhecimentos.
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