Escrever uma crônica requer planejamento, o que significa que antes de começar a redigir o seu texto você precisa pensar na forma como pretende tratar cada um dos elementos que compõem a crônica: qual o tema, em que tempo e em que espaço se situa, quais os personagens. Para tanto, vamos recordar o que um texto precisa para ser uma crônica.
Crônica é um texto curto que narra uma situação cotidiana de forma criativa e humorada. Caracteriza-se por utilizar linguagem simples, poucos personagens e ter tempo e espaço reduzidos.
Entenda-se por texto curto um texto que você não demora muito para ler. Embora não possamos definir um tamanho, pode-se dizer que uma crônica pode ser lida de uma vez, sem exigir do leitor paragens durante a leitura.
Há vários tipos de crônicas - narrativa, dissertativa, humorística, descritiva, reflexiva - e cada uma delas apresenta alguma característica particular.
Uma das principais características da crônica é a abordagem de assuntos cotidianos ou muito falados no momento.
Relações conjugais, rotina semanal, férias em família e situações constrangedoras são temas sempre atuais. Mas se você quiser algo do momento, esteja atento às notícias e a situações com as quais as pessoas se identifiquem atualmente.
Exemplo de crônica que tem como tema relações conjugais:
“Minha mulher e eu temos o segredo para fazer um casamento durar: Duas vezes por semana, vamos a um ótimo restaurante, com uma comida gostosa, uma boa bebida e um bom companheirismo.
Ela vai às terças-feiras e eu, às quintas.”
(Trecho de Crônica Engraçada, de Luis Fernando Verissimo)
Se o tema escolhido for algo que se mantém atual ao longo dos tempos, você pode escolher falar tanto no presente como no passado.
E se o tema está em voga, você não precisa necessariamente situá-lo no tempo presente. Esta é uma oportunidade de trazer um toque de humor a sua crônica abordando algo da atualidade, mas sob uma perspectiva passada.
Exemplo de crônica que se contextualiza na quarentena 2020:
“Quando abrir esta revista, você poderá estar chorando. Ou não, você poderá estar ouvindo o disco do Caetano com os filhos — para mim, um verdadeiro ansiolítico — ou confiante, ou mesmo mergulhado em pessimismo. Eu, aqui da minha quarentena privilegiada de São Conrado, não tenho como conhecer seu estado de espírito, como também não conheço seu estado civil e muito menos seu estado de saúde. No entanto, há uma coisa a seu respeito que eu sei, e é sobre isso que me arrisco aqui: você está em casa. Em casa. Seus amigos, se não forem médicos ou frentistas ou enfermeiros ou farmacêuticos ou entregadores, também estão em casa, assim como seu maior desafeto ou o seu primeiro amor.”
(Trecho de crônica de Maria Ribeiro para a revista Veja)
Na crônica, o espaço em que a história se desenrola é limitado. Isso acontece porque a crônica deve ser curta, não havendo capacidade para desenvolver um texto que abranja uma série de locais diferentes.
Exemplo de crônica sujo espaço escolhido é o Rio de Janeiro:
“Não sei como as coisas se passam em outros sítios. Aqui, no Rio, é uma calamidade, os jardins de infância faturam por fora em nome dos santos juninos, e os pais são obrigados a gastar os tubos com fantasias caipiras que as crianças sem entender e sem amar. Até o presidente da república bota na cabeça um chapéu de palha em frangalhos e convida os ministros para um quentão oficial geralmente substituído por uísque 12 anos.”
(Trecho de Noites de Junho, Noites de Outrora, de Carlos Heitor Cony)
Tal como o tempo e o espaço na crônica são limitados, os personagens também são.
Uma vez que o texto da crônica é curto, não há oportunidade para um grande elenco esboçar as suas ações.
Exemplo de crônica que se desenvolve em torno de um personagem:
“Foi em 1868. Estávamos alguns amigos no Club Fluminense, Praça da Constituição, casa onde é hoje a Secretaria do Império. Eram nove horas da noite. Vimos entrar na sala do chá um homem que ali se hospedara na véspera. Não era moço; olhos grandes e inteligentes, barba raspada, um tanto cheio. Demorou-se pouco tempo; de quando em quando, olhava para nós, que o examinávamos também, sem saber quem era. Era justamente o Dr. Sarmiento, vinha dos Estados Unidos, onde representava a Confederação Argentina, e donde saíra porque acabava de ser eleito presidente da República. Tinha estado com o Imperador, e vinha de uma sessão científica. Dois ou três dias depois, seguiu para Buenos Aires.”
(Trecho de O Futuro dos Argentinos, de Machado de Assis)
O foco narrativo utilizado na crônica é uma escolha importante, porque o narrador é o elemento que dá voz ao texto.
Se optar pelo narrador personagem, além de contar a história, o narrador também desempenha o papel de personagem da crônica e, por isso, narra em primeira pessoa. Já o narrador observador é o que narra em terceira pessoa.
Outra opção é o narrador onisciente, aquele que conta a história conhecendo tudo o que acontece nela, inclusive os pensamentos de todos os personagens. Pode narrar em primeira ou terceira pessoa.
Exemplo de crônica cujo narrador é narrador personagem:
“É inútil deixar de confessar que tenho estado cerca de quatro horas por dia vendo futebol na televisão, e não há esperança de que isso melhore antes de 11 de julho. Suponho que o leitor também esteja intoxicado de futebol, e então, para variar, vou contar uma partida realizada há quase 37 anos, nesta cidade do Rio de Janeiro. Aqui está minha narrativa, com pequenos cortes:”
(Trecho de Ultimamente têm Passado Muitos Anos, de Rubem Braga)
Depois de planejar o seu texto, é o momento de redigir a sua crônica.
Lembre-se que esse gênero textual requer linguagem simples, e que pode ter um toque de humor, além do que se caracteriza por ser um texto curto.
Aproveite os momentos em que está mais predisposto para escrever e escolha o ambiente mais adequado para ajudar no seu trabalho.
No fim, revise a crônica atentando para eventuais erros de português ou de digitação. Ler em voz alta também ajuda no processo de afinação do texto.
Para você entender melhor:
Show life that you have a thousand reasons to smile
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