Mulheres negras inspiradoras

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    Juliana Bezerra Professora de História

    As mulheres negras sofrem uma dupla discriminação, pois tem que superar as barreiras de gênero e de cor.

    Porém, mesmo enfrentando todo o tipo de preconceito, algumas mulheres afro descendentes conquistaram seu lugar ao sol.

    Vejamos agora 10 mulheres negras cujas vidas servem de exemplo para todos.

    1. Josephine Baker (1906-1975) - cantora, dançarina e ativista política

    Josephine Baker

    Josephine Baker nasceu no estado de Missouri, nos Estados Unidos. De família humilde, trabalhou como faxineira, ajudando sua mãe nas despesas domésticas.

    Sua paixão, no entanto, era a dança. Ao ganhar um concurso aos 14 anos, une-se à várias companhias que excursionavam pelo país, apresentado-se em teatros para o público afrodescendente. Consegue pequenos papéis na Broadway e ali, conheceria o adido cultural americano da embaixada de Paris, que a leva para a França.

    A mudança para este país fez de Josephine Baker uma estrela. Os ritmos americanos como o charleston e o jazz, conquistaram os parisienses. O jeito desinibido de Josephine, aliado à sua voz, a tornaram uma solicitada artista que comandaria sua própria casa de espetáculos.

    Ao visitar os Estados Unidos, se depara com a segregação racial e, por isso, se recusa a se apresentar em clubes que não permitem a entrada de pessoas negras. Posteriormente, solicitaria a cidadania francesa.

    Com o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), envolve-se na resistência francesa e, ao fim do conflito, seria condecorada com a Legião de Honra pelos serviços prestados.

    Nas décadas de 50 e 60, participa ativamente ao lado de Martin Luther King nas marchas pelos direitos civis e contra a segregação racial.

    Além da sua intensa carreira de dançarina, atriz e cantora, Josephine Baker adotou doze crianças órfãs de diferentes países e religiões, para mostrar que era possível a convivência pacífica entre os seres humanos.

    Faleceu aos 68 anos e foi a primeira afro-estadunidense a receber honras militares durante seu enterro em Paris.

    VEJA TAMBÉM: Racismo

    2. Rosa Parks (1913-2005) - costureira e ativista política

    Rosa Parks

    Rosa Parks nasceu no estado do Alabama, onde vigoravam leis de segregação racial. Segundo estas leis, negros e brancos não poderiam frequentar os mesmos espaços como escolas, restaurantes e cemitérios.

    Em 1932, casou com Raymond Parks, que militava na "Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor" (NAACP, na sigla em inglês). Ele a animou a continuar com seus estudos, sob o argumento que os negros precisavam provar que eram tão inteligentes e capazes quanto os brancos.

    Apesar disso, Rosa Parks trabalhava como costureira, na cidade de Montgomery. Ao voltar para casa, em 1º de dezembro de 1955, Rosa Parks pegou o ônibus e sentou-se no espaço reservado aos negros.

    No entanto, o coletivo começou a encher e o motorista percebeu que três brancos estavam em pé. Imediatamente, mandou que os quatro negros que estavam sentados se levantassem para ceder-lhes seus lugares. Rosa Parks foi a única que não o fez. Avisada que seria presa, Parks continuou a recusar a dar o seu lugar.

    Assim, foi levada à prisão imediatamente. Em apoio ao seu gesto, a comunidade negra se mobilizou. Liderados pelos pastores Martin Luther King e Ralph Abernathy, os afro-americanos impuseram um boicote aos transportes públicos da cidade, alegando que a segregação nestes veículos era inconstitucional.

    Após mais um ano de luta, a Suprema Corte americana declarou que a segregação era ilegal. Mesmo assim, o casal Parks sofreria as consequências, perdendo seus empregos, e sendo obrigados a mudar da cidade.

    Rosa Parks tornou-se um símbolo dos Direitos Civis nos Estados Unidos e no mundo todo. Recebeu várias condecorações ao longo de sua vida e faleceu em 2005.

    VEJA TAMBÉM: Movimento Negro

    3. Mercedes Baptista (1921-2014) - bailarina e coreógrafa

    Mercedes Baptista

    Mercedes Baptista nasceu em Campos dos Goytacazes (RJ) e desde cedo sentiu o preconceito racial, pois era a única negra na escola onde frequentava.

    Sua família mudou-se para o Rio de Janeiro e ela passou a assistir as aulas de dança de Eros Volúsia (1914-2004), que eram voltadas para a cultura brasileira. Em seguida, estuda na Escola de Danças do Theatro Municipal, no Rio de Janeiro, onde entra em contato com a dança clássica.

    Mercedes Baptista é aprovada no concurso para o corpo de baile do Theatro Municipal e torna-se, assim, a primeira bailarina negra a integrá-lo. Sem obter bons papéis por causa da sua cor, acaba dedicando-se a outros projetos que privilegiavam a temática negra como o Teatro Experimental do Negro, de Abdias Nascimento.

    Mais tarde é convidada pela bailarina americana Katherine Dunham (1909-2006) para se aperfeiçoar nos Estados Unidos. Dunham foi uma das primeiras a usar os movimentos do vodu na dança moderna.

    Quando volta ao Brasil, funda sua escola de dança, onde concilia a técnica clássica e moderna com os elementos afro-brasileiros. Dessa forma, torna-se a pioneira ao criar uma linguagem e metodologia própria para ensinar e criar coreografias a partir da cultura afro-brasileira.

    Mercedes Baptista colaboraria como coreógrafa para escolas de samba, teatro e diversos espetáculos pelo Brasil e em todo mundo.

    Faleceu em 2014, no Rio de Janeiro. Dois anos depois, a prefeitura da cidade inauguraria uma estátua da artista, no bairro da Saúde.

    VEJA TAMBÉM: Principais Características da Cultura Afro-Brasileira

    4. Alice Coachman (1923-2014) - atleta e medalhista olímpica

    Alice Coachman no mais alto do pódio

    Alice Coachman nasceu no estado da Geórgia, Estados Unidos, onde havia uma série de leis de segregação racial contra os negros.

    Sempre destacou-se nos esportes, mas não tinha a mesma oportunidade de treinar como seus companheiros brancos. No entanto, seu talento a fez ganhar uma bolsa para estudar e continuar seu treinamento.

    Durante dez anos foi campeã americana e em 1948, pôde mostrar ao mundo suas habilidades nas Olimpíadas de Londres.

    Ali, aos 24 anos, ela ganhou a medalha de ouro no salto em altura, tornando-se a primeira negra a fazê-lo e a única americana a recebê-la nestes Jogos Olímpicos.

    Ao voltar para os Estados Unidos foi recebida pelo presidente Harry Truman. No entanto, apesar da sua histórica vitória, o prefeito da sua cidade recusou-se a apertar sua mão.

    Após deixar o atletismo, Coachman dedicou-se ao ensino e, desde 1994, uma escola na sua Albany natal leva seu nome.

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    5. Maria d'Apparecida (1935-2017) - cantora lírica

    Maria d'Apparecida

    Maria d’Apparecida nasceu no Rio de Janeiro e estudou no Conservatório Brasileiro de Música.

    Logo após se formar, ganhou um concurso de canto na Associação Brasileira de Imprensa. No entanto, ouviu de um dos diretores que ela tinha uma voz bonita, mas que era negra e, por isso, nunca cantaria no Theatro Municipal.

    Sem renunciar ao sonho de fazer uma carreira artística, trabalhou como locutora de rádio e juntou dinheiro para ir à Europa. Na Itália ficou em segundo lugar num concurso de canto lírico e depois foi para Paris, onde estudou no Conservatório de Música desta cidade.

    Maria d’Apparecida era mezzo-soprano e brilhou nos palcos da França, Rússia e Bulgária. Em 1967, recebeu o maior prêmio da música lírica na França, o Orfeu de Ouro, pela sua atuação na ópera "Carmen", de Bizet. Ironicamente, foi a primeira negra a interpretar este papel na Ópera de Paris, algo que lhe foi negado no seu país natal.

    Somente após o sucesso na Europa foi convidada para se apresentar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

    Sem nunca esquecer suas raízes brasileiras, gravou discos de compositores eruditos como Waldemar Henrique e Heitor Villa-Lobos.

    Depois de sofrer um acidente automobilístico, sua voz já não foi a mesma e ela passa a se dedicar à música popular, registrando obras de Baden Powell, Vinícius de Moraes e Paulo César Pinheiro.

    Faleceu completamente esquecida em Paris e quase foi enterrada como indigente. Diante da mobilização da comunidade e do consulado brasileiro, a cantora recebeu uma sepultura digna.

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    6. Ellen Johnson Sirleaf (1938) - ex-presidente da Libéria e prêmio Nobel da Paz

    Ellen Sirleaf

    Ellen Sirleaf nasceu na Monróvia, capital da Libéria. Foi para os Estados Unidos com o marido e ali estudou economia na Universidade de Harvad, formando-se em Administração Pública.

    De volta à Libéria, trabalhou em vários cargos do governo, inclusive como Ministra da Fazenda, até o golpe de estado de 1980. Neste momento, a Libéria passa por uma guerra civil sangrenta e Ellen Sirleaf tem que se exilar algumas vezes.

    Concorre às eleições presidenciais pela primeira vez em 1997, mas é derrotada. Em 2003, a guerra civil termina e dois anos depois, Ellen Sirleaf volta a apresentar-se como candidata e, desta vez, é eleita democraticamente para o cargo.

    Com isso, torna-se a primeira mulher africana a ocupar este posto e é reeleita em 2011. Neste ano, recebe o Prêmio Nobel da Paz pelos “seus esforços por promover a paz e a sua luta pela promoção dos direitos das mulheres”.

    Apesar de ser admirada em todo mundo, Ellen Sirleaf foi acusada de nepotismo ao nomear seus filhos para cargos estratégicos no seu governo.

    Atualmente, integra o Conselho de Mulheres Líderes Mundiais, uma rede internacional de atuais e ex-mulheres Presidentes e Primeiras-ministras.

    7. Wangari Maathai (1940-2011) - bióloga e prêmio Nobel da Paz

    Wangari Maathai

    Wangari Muta Maathai nasceu no Quênia e foi a primeira mulher africana a receber o Nobel da Paz, em 2004, por "sua contribuição ao desenvolvimento sustentável, à democracia e à paz".

    Como se destacava na escola, recebeu uma bolsa do governo americano para estudar neste país. Posteriormente, se formaria em Biologia e cursaria o mestrado na Universidade de Pittsburgh.

    Retorna a Nairóbi, e realiza seus estudos de doutorado nesta cidade e na Alemanha. Torna-se, assim, a primeira mulher a obtê-lo na África Central e a primeira professora universitária no seu país.

    Preocupada com a devastação florestal, cria o movimento “Cinturão verde” com o objetivo de plantar árvores em todo o país. Com isso, as mulheres começam a preparar sementes e mudas, conquistando também a independência financeira.

    Em 1998, lutou contra o governo queniano e impediu a destruição das florestas e a privatização do Parque de Uhuru.

    Calcula-se que ela e suas companheiras tenham plantado mais de 50 milhões de árvores, permitindo a recuperação do entorno natural no Quênia.

    Wangari Maathai faleceu em 2011 como consequência de um câncer de ovário.

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    8. Angela Davis (1944) - filósofa e ativista feminista

    Angela Davis

    Nascida no Alabama, Angela Davis desde cedo conviveu com a segregação racial imposta neste estado americano. Morava num bairro chamado “Colina Dinamite”, pois várias casas haviam sido dinamitadas por membros da Ku Klux Kan.

    Aos 14 anos pôde prosseguir seus estudos, graças a uma bolsa e foi para Nova York. Nesta cidade entrou em contato com as ideias marxistas que moldariam sua filosofia e atuação política.

    Entra na Universidade de Brandeis para estudar francês e ali assiste várias conferências do escritor James Bladwin e do filósofo Herbert Marcuse. Este último a aconselharia a estudar filosofia na universidade de Frankfurt.

    Sua estada na Europa é marcada pela participação de protestos contra a Guerra do Vietnã (1955 -1975). Ao voltar aos Estados Unidos, se filia ao Partido Comunista e participa do movimento Black Power.

    Na década de 70, vê-se acusada de sequestro e assassinato. Sua prisão causa comoção mundial e a faz um símbolo da luta antirracista e feminista. Mais tarde, seria absolvida de todas as acusações.

    O pensamento de Angela Davis coloca a questão racial e feminina dentro do contexto de classes. Dessa maneira, o racismo e a misoginia de uma sociedade só seriam banidas quando a exploração do capital terminasse.

    Angela Davis continua ativa, escrevendo livros e dando palestras em todo mundo.

    VEJA TAMBÉM: Feminismo

    9. Oprah Winfrey (1954) - apresentadora e filantropa

    Oprah Winfrey

    Oprah Winfrey, nasceu do estado de Mississípi, nos Estados Unidos, e é considerada a primeira bilionária afro-americana e uma das pessoas mais influentes do mundo.

    Nasceu numa família pobre e desestruturada, mas que estimulava seus dotes de oradora. Foi escolhida como Miss Tennessee, trabalhou como locutora e ganhou uma bolsa para estudar Jornalismo.

    Como atriz, seu papel no filme "A Cor Púrpura", de Steven Spielberg, em 1985, lhe rendeu uma indicação para o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.Também atuou como produtora de cinema e dubladora de desenhos animados.

    Tornou-se a primeira negra a ser âncora de um telejornal e, posteriormente, a ter seu próprio programa de entrevistas. Inovou o formato ao contar sua vida para os espectadores e assim ganhar sua cumplicidade.

    Como o aumento da sua popularidade, passou a entrevistar celebridades de Hollywood e estrelas da música como Michael Jackson, Tom Cruise ou Tom Hanks, entre outros.

    No século XXI, Oprah abriu seu próprio canal de televisão e criou uma revista voltados para temas como espiritualidade, questões femininas, e as relações familiares.

    Atualmente, Oprah dedica-se ao seu trabalho em filantropia ajudando no emponderamento de meninas e abriu uma escola de liderança na África do Sul.

    10. Chimamanda Adichie (1977) - escritora e feminista

    Chimamanda Adichie

    Nasceu em Engu, Nigéria, em 1977, numa família de classe média, onde seus pais trabalhavam na Universidade da Nigéria.

    Inicialmente, começou a estudar Medicina e Farmácia, mas mudou de área e recebeu uma bolsa para estudar Comunicação nos Estados Unidos. Ainda completaria com especializações na Universidade John Hopkins e em Yale.

    Escreveu romances sobre seu país natal como “A Flor Púrpura” que foi muito bem recebido pela crítica e ganhou o Prêmio de Melhor Romance da Commonwealth, em 2005. Também seu livro "A Outra Metade do Sol" levou o Prêmio Orange, em 2008.

    Em 2009 ficou famosa pelas suas intervenções no ciclo de conferências TEDx onde alertava sobre o perigo de conhecermos apenas uma versão da história.

    No entanto, foi o seu ensaio “Todos deveríamos ser feministas” que a catapultou para a fama mundial. Adichie defende que a história seja contada a partir da ótica das mulheres e assim todos teriam consciência da importância do seu papel da sociedade. Alguns trechos do livro foram citados na canção Flawless, de Beyoncé.

    Atualmente, Chimamanda Adichie vive entre Estados Unidos e Nigéria, e terá um dos seus títulos, “Americanah” adaptado ao cinema.

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    Juliana Bezerra Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.

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