Naturalismo

December 2020 0 6K Report
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    window.sg_perf && performance.mark('img:visible'); Daniela Diana Professora licenciada em Letras

    O naturalismo foi um movimento artístico e cultural que se manifestou na literatura, no teatro e nas artes plásticas, e teve como principais características a objetividade, a impessoalidade e o retrato fiel da realidade.

    Ele surgiu na França, em meados do século XIX, e se espalhou rapidamente para outros países da Europa e do mundo.

    Oposto ao Romantismo, que apresentava uma face sonhadora, com idealizações, subjetivismos e fuga da realidade, o naturalismo prezou pelo objetivismo científico.

    Influenciado pelas correntes científicas e filosóficas que surgiam na Europa como o determinismo, o darwinismo e o cientificismo, para os artistas naturalistas, tudo estava determinado e possuía uma explicação lógica pautada na ciência.

    Através de uma visão imparcial dos fatos, nada era sugerido ou apresentado de maneira subjetiva. O ser humano passou a ser visto como uma máquina, sem livre arbítrio, e influenciado pelo meio social e físico em que está inserido.

    Assim, surge uma arte de denúncia social, focada nos temas da pobreza, das desigualdades, da disputa de poder e das patologias sociais.

    No Brasil, o movimento naturalista começa em 1881 com a publicação da obra O Mulato, de Aluísio de Azevedo. Já em Portugal, o movimento surge em 1875 com o romance O crime do padre Amaro, do escritor Eça de Queiroz.

    Características do naturalismo

    Determinismo: segundo essa corrente teórica, a natureza determina o caráter e o comportamento do ser humano, uma vez que tudo já está pré-determinado e estabelecido. Por essa perspectiva, o homem é influenciado pelo meio em que vive, sendo fruto dele.

    Positivismo: corrente filosófica que se apoia na ciência para atingir o conhecimento verdadeiro. Para esses teóricos, o conhecimento científico é utilizado para explicar as teorias e as leis científicas, bem como o ser humano e a sociedade.

    Objetivismo científico: para os naturalistas, a ciência era a chave e os fatos eram explicados à luz das correntes científicas que vigoravam em meados do século XIX. Assim, os artistas naturalistas não projetam em suas obras utopias e ideias idealizadas.

    Darwinismo social: pautado nas ideias de Charles Darwin, como a seleção natural e o evolucionismo, esse conceito sugere que os mais fortes sobrevivem às adversidades da sociedade, enquanto os outros enfraquecem.

    Oposição ao Romantismo: avesso às ideias românticas de fuga da realidade e subjetividade, o naturalismo focou em aspectos da objetividade, além de retratar a realidade sem idealismos.

    Imparcialidade e impessoalidade: apoiados em correntes científicas para explicar a realidade, os autores do naturalismo costumam ser objetivos, imparciais e impessoais em suas descrições. Assim, deixam de lado os juízos de valores e opiniões que não estejam fundamentados em teorias.

    Descrições detalhadas: na literatura naturalista, existe grande preocupação com as minúcias, pois os autores pretendem fazer um retrato fiel de onde se passa a trama. Para isso, as narrativas naturalistas costumam ser lentas e cheia de detalhes.

    Zoomorfização: influenciado pelo darwinismo social, no naturalismo as personagens apresentam características animalescas e instintivas, através de uma perspectiva biológica. Assim, os comportamentos humanos se aproximam dos animais, mostrando que o homem é condicionado pelo meio em que vive.

    Retrato fiel da realidade: na arte naturalista, é notória a preocupação em observar o mundo e as coisas que nos rodeiam de maneira bastante minuciosa para entregar ao expectador um retrato verossímil da realidade.

    Temas degradantes e de patologia social: na arte naturalista, o tom é de denúncia com foco para os problemas sociais e morais. Os temas mais explorados pelos artistas são: a pobreza extrema, as injustiças, as desigualdades sociais, a violência, as perversões, os crimes e a falta de caráter.

    Passividade do ser humano: na arte naturalista, os seres humanos são produtos das forças do mundo, e, por isso, não possuem livre-arbítrio. Eles são guiados pelas leis científicas e influenciados pelo meio social e físico em que vivem.

    Veja também: Características do Naturalismo.

    O naturalismo na literatura

    A literatura naturalista surge em 1867, na França, com a publicação da obra Thérèse Raquin, de Émile Zola (1840-1902). Esse é considerado o primeiro romance naturalista e que posteriormente inspirou muitos escritores.

    Naquele momento, a obra foi criticada por abordar temas relacionados com a morte, os interesses e a sexualidade. Sobre a publicação de Thérèse Raquin, Ferragus, crítico do século XIX, comenta:

    Estabeleceu-se há alguns anos uma escola monstruosa de romancistas, que pretende substituir a eloqüência da carnagem pela eloqüência da carne, que apela para as curiosidades mais cirúrgicas, que reúne pestíferos para nos fazer admirar as veias saltadas, que se inspira diretamente do cólera, seu mestre, e que faz sair pus da consciência. (…) Thérèse Raquin é o resíduo de todos esses horrores publicados precedentemente. Nele, escorrem todo o sangue e todas as infâmias…

    Embora Thérèse Raquin tenha inaugurado a literatura naturalista, a obra de Émile Zola, Germinal (1881), foi considerada uma das mais importantes do naturalismo francês. Nela, o escritor apresenta as condições subumanas de trabalho em uma mina de carvão.

    Vale ressaltar que o romance naturalista também é conhecido pelo nome “romance de tese”, pois defende um ponto de vista. Apoiado em diversas correntes teóricas como o determinismo, o positivismo e o evolucionismo, ele busca na ciência explicações para os fenômenos.

    Entenda mais sobre a Prosa Naturalista.

    Realismo e naturalismo

    Surgidos no século XIX na Europa, os movimentos realista e naturalista apresentam diferenças e similaridades.

    Opostos ao movimento artístico anterior, o Romantismo, ambos buscam apresentar um retrato fiel da realidade, sem idealismos e subjetividades.

    Na literatura realista e naturalista, os escritores fazem descrições minuciosas do ambiente e das personagens. No entanto, como diferenças, podemos apontar as personagens e os temas abordados.

    No naturalismo, há uma animalização das personagens, as quais são movidas por instintos. Geralmente, são apresentadas personagens de classe mais baixa. Os temas mais explorados são a pobreza, as desigualdades, a corrupção, a violência, o sensualismo e o erotismo.

    Já no realismo, as personagens também são pessoas comuns, com defeitos e manias, mas pertencentes à classe média. No realismo, há um maior aprofundamento psicológico das personagens e os temas preferidos pelos escritores versam sobre o cotidiano, os defeitos humanos, as instituições, o poder e as diferenças sociais.

    Dessa maneira, podemos considerar o naturalismo como um desdobramento do realismo, sendo mais radical e exagerado que ele.

    Leia mais sobre:

    • Realismo e Naturalismo
    • Questões sobre realismo e naturalismo

    O naturalismo no Brasil

    O naturalismo brasileiro surge no final do século XIX em meio a agitação política e social promovida pela crise do Segundo Reinado, que culminaria na Proclamação da República, em 1889.

    Na literatura, o marco inicial do naturalismo brasileiro é a publicação da obra, em 1881, O Mulato, do escritor Aluísio Azevedo. Considerado o primeiro romance de tese do Brasil, a obra aborda o tema do preconceito racial, muito vigente na sociedade da época.

    Além do precursor do movimento naturalista, Aluísio de Azevedo, outros autores que contribuíram com seus escritos foram: Raul Pompeia, Adolfo Caminha e Inglês de Sousa.

    Autores naturalistas brasileiros e suas obras

    Aluísio de Azevedo (1857-1913), nascido em São Luís do Maranhão, foi um dos principais escritores do movimento naturalista.

    Embora O Mulato seja o romance que inaugura o movimento naturalista no Brasil, sem dúvida, O Cortiço, publicado em 1890, é sua obra de maior importância.

    Nela, o escritor retrata a vida de diversos personagens que vivem em um cortiço no Rio de Janeiro, revelando aspectos da sociedade carioca em finais do século XIX.

    Suas obras de maior destaque são: O Mulato (1881), Casa de Pensão (1884) e O Cortiço (1890).

    Trecho da obra O Cortiço

    Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.

    Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da ultima guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.

    A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas. Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam.

    Raul Pompeia (1863-1895), nascido em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, colaborou com a produção literária naturalista e realista no Brasil.

    De estética naturalista destaca-se seu romance O Ateneu (1888) que apresenta forte crítica social e moral. A obra é repleta de descrições do ambiente em que a trama se passa (colégio interno), além de apresentar um retrato psicológico das personagens e de suas características animalescas.

    Além de O Ateneu, outras obras do escritor são: Uma Tragédia no Amazonas (1880) e As Joias da Coroa (1883).

    Trecho da obra O Ateneu

    Freqüentara como externo, durante alguns meses, uma escola familiar do Caminho Novo, onde algumas senhoras inglesas, sob a direção do pai, distribuíam educação à infância como melhor lhes parecia. Entrava às nove horas, timidamente, ignorando as lições com a maior regularidade, e bocejava até às duas, torcendo-me de insipidez sobre os carcomidos bancos que o colégio comprara, de pinho e usados, lustrosos do contato da malandragem de não sei quantas gerações de pequenos. Ao meio-dia, davam-nos pão com manteiga. Esta recordação gulosa é o que mais pronunciadamente me ficou dos meses de externato; com a lembrança de alguns companheiros — um que gostava de fazer rir à aula, espécie interessante de mono louro, arrepiado, vivendo a morder, nas costas da mão esquerda, uma protuberância calosa que tinha; outro adamado, elegante, sempre retirado, que vinha à escola de branco, engomadinho e radioso, fechada a blusa em diagonal do ombro à cinta por botões de madrepérola. Mais ainda: a primeira vez que ouvi certa injúria crespa, um palavrão cercado de terror no estabelecimento, que os partistas denunciavam às mestras por duas iniciais como em monograma.

    Adolfo Caminha (1867-1897), nascido em Aracati, no Ceará, foi um grande expoente do naturalismo no Brasil. Suas obras fazem duras criticas à sociedade e evocam diversos temas relacionados com tragédias e violências.

    Na estética naturalista, seu romance de maior relevância é A Normalista, publicado em 1893. Nele, o autor aborda o tema do incesto entre a personagem normalista, Maria do Carmo, e seu padrinho.

    Outro romance de Adolfo Caminha que merece destaque é Bom crioulo (1895). Nesta obra, o autor traz à tona o assunto da homossexualidade, um tabu na época em que foi publicada e, por isso, foi duramente criticada.

    Trecho da obra A Normalista

    Achava a Teté uma mulher gasta: queria uma rapariga nova e fresca, cheirando a leite, sem pecados torpes, a quem ele pudesse ensinar certos segredos do amor, ocultamente, sem que ninguém soubesse... Estava farto do “amor conjugal”. Nunca experimentara o contato aveludado de um corpo de mulher educada, virgem das impurezas do século. E quem melhor que Maria do Carmo, uma normalista exemplar e recatada, poderia satisfazer os caprichos de seu temperamento impetuoso? Era sua afilhada, mas, adeus! não havia entre ele e a menina o menor grau de consangüinidade, portanto, não podia haver crime nas suas intenções... Se Maria houvesse de cair nas garras de algum bacharelete safado fosse ele, João da Mata, o primeiro a abrir caminho...

    Demais, argumentava de si para si, podia arranjar tudo sem que ninguém soubesse. O segredo ficaria entre ele e a afilhada, inviolável como a sepultura de um santo. E ia parafusando num meio simples e natural de conquistar o coração de Maria. — Toda a questão era de oportunidade.

    Inglês de Souza (1853-1918), nascido na cidade de Óbidos, no Pará, participou da fundação da Academia Brasileira de Letras (ABL), embora tenha se destacado na política.

    Alguns críticos o consideram introdutor do naturalismo no Brasil, com a publicação da obra O Coronel Sangrado (1877). No entanto, esse romance não teve muito reconhecimento no momento em que foi publicado.

    A obra que o consagrou foi O Missionário, publicada em 1891, que aborda os aspectos morais de um religioso que começa a se interessar por uma mestiça, Clarinha.

    Trecho da obra O Missionário

    E daí em diante, nos dias seguintes, sempre aquele vulto de mulher, indo e vindo pelo quarto, cuidadosa, falando meigamente, e com uma solicitude incômoda. E então a figura de João Pimenta, calado e estúpido, limitando-se a duas saudações por dia, a do Felisberto, falando sem parar, curioso, impertinente, fatigante com o seu latim das brenhas e as suas receitas da mãe Benta de Maués para todas as moléstias, e a da Clarinha, a mameluca, a irmã do Felisberto, com a sua saia de chita verde sobre a camisa, sem anáguas, e o seu cabeção rendado que, num descaro impudente, deixava ver a pele acetinada e clara, trotavam-lhe na cabeça, num vaivém contínuo de entradas e saídas, entremeadas de palavras ocas duma sensibilidade extrema, de cuidados excessivos que lhe deixavam, sobretudo as palavras e os cuidados da rapariga, uma impressão penosa. Aquela mameluca incomodava-o, irritava-lhe os nervos doentes, com o seu pisar firme de moça do campo, a voz doce e arrastada, os olhos lânguidos de crioula derretida.

    Saiba mais sobre o Naturalismo no Brasil.

    O naturalismo em Portugal

    O naturalismo em Portugal tem início na década de 70, se manifestando na literatura e na pintura.

    O marco da literatura naturalista portuguesa é a publicação do romance O crime do padre Amaro, em 1875, do escritor Eça de Queiroz. Essa obra reúne aspectos da escola realista e naturalista, movimentos que se complementaram e aconteceram de maneira simultânea.

    Além do introdutor do movimento português naturalista, Eça de Queiroz, outros escritores são: Abel Botelho e Júlio Lourenço Pinto.

    Na pintura naturalista portuguesa, os artistas que tiveram grande notoriedade foram: Silva Porto (1850-1893), José Malhoa (1855-1933) e Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929).

    Todos eles fizeram parte de um grupo que ficou conhecido como o “Grupo do Leão”, formado por artistas naturalistas que se reuniam em Lisboa e contribuíram para a divulgação da arte naturalista.

    Grupo do Leão (1885), obra do pintor naturalista Columbano Bordalo Pinheiro

    Autores naturalistas portugueses e suas obras

    Eça de Queiroz (1845-1900), nascido na cidade de Póvoa do Varzim, no norte de Portugal, foi considerado um dos maiores escritores portugueses.

    Sua obra que inaugura o movimento naturalista em Portugal, O crime do Padre Amaro (1875), relata o envolvimento amoroso de um pároco com uma mulher noiva. O livro recebeu diversas críticas, pois abordou temas polêmicos para a época.

    Além desse romance, merece destaque: O Mistério da Estrada de Sintra (1970) e A Tragédia da Rua das Flores (1877).

    Trecho da obra O crime do Padre Amaro

    E esta paixão, sendo para ele como a indefinida justificação das suas misérias, tomava-o aos seus próprios olhos interessante. Era "um mártir de amor"; isto consolava-o, como o consolara nas suas primeiras desesperações considerar-se "uma vítima das perseguições religiosas". Não era um pobre-diabo banal a quem o acaso, a preguiça, a falta de amigos, a sorte e os remendos do casaco mantêm fatalmente nas privações da dependência: era um homem de grande coração, a quem uma catástrofe em parte amorosa e em parte política, um drama doméstico e social, forçara assim, depois de lutas heróicas, a viajar de um a outro cartório com um saco de lustrina cheio de autos. O destino tornara-o igual a tantos heróis que lera nas novelas sentimentais... E o seu paletó coçado, os seus jantares a quatro vinténs, os dias em que não tinha dinheiro para tabaco, tudo atribuía ao amor fatal de Amélia e à perseguição duma classe poderosa, dando assim, por um instinto muito humano, uma origem grandiosa às suas misérias triviais…

    Abel Botelho (1856-1917), nascido em Tabuaço, na região norte de Portugal, teve uma carreira política, militar e diplomata. Além disso, ele foi crítico literário e contribuiu com seus escritos para os movimentos realista e naturalista. Escreveu uma série de romances focados em temas de patologia social.

    Em Barão de Lavos (1891), o autor versa sobre o tema da homossexualidade e faz críticas à sociedade portuguesa da época. Além desse romance, destacam-se: Amanhã! (1901), Fatal Dilema (1907) e Próspero Fortuna (1910).

    Trecho da obra Barão de Lavos

    A plenitude da vida, a arrogância genital, a evolução orgânica ao máximo, própria dos 32 anos, mantinham no barão ainda fortes e dominantes as tendências naturais da virilidade. Ele tinha por enquanto junto do efebo os mesmos apetites de penetração e de posse que o homem sente de ordinário para com a mulher. Todavia, em raros momentos de vertigem, ao contato da sua carne com aquela outra virilidade impetuosa e fresca, percorria-lhe os músculos, fugidio, breve, um movimento efeminado; faiscava-lhe no espírito uma pregustação de prazer que tivesse por base a passividade, o abandono; entrava de suporar-lhe da vontade uma solicitação em escorço de não se entregar, de ser possuído, de ser femeado, em suma. O que era, a um tempo, corolário do seu temperamento, é sinal patognômico do finalizar de uma raça inútil, do agonizar de uma família que vinha assim desfazer-se, podre das últimas aberrações e das últimas baixezas, na pessoa do seu representante derradeiro.

    Júlio Lourenço Pinto (1842-1907) nasceu no Porto, no norte de Portugal, e se destacou como crítico literário e escritor realista-naturalista.

    Publicada em 1879, sua obra Margarida apresenta críticas à sociedade portuguesa do final do século XIX, desvendando patologias sociais, morais e psíquicas.

    Além dela, escreveu os romances: Vida Atribulada (1880), O Homem Indispensável (1883) e O Bastardo (1889).

    Trecho da obra Margarida

    E ai d’daquela de entre vós, a desgraçada! se alguma ahi commette porventura o nefando crime de esconder algum pensamento ruim, de ocultar algum pecado, de abrigar no coração, como uma víbora venenosa, alguma impureza não confessada. Ai d’ela! essa seria a ovelha leprosa entre o rebanho imaculado, essa seria, como uma herva ruim, de que as outras deveriam fugir! E se essa tal, de coração impuro, ahi está, que se apresente, que se afaste das outras, que confesse humilde e contricta o seu hediondo pecado, que se roje aos pés do*Senhor, que desarme, em quanto é tempo, a cólera celeste. E ai d’aquela que n’este momento augusto for indigna de tocar com os seus lábios maculados o pão eucharistico, este pão dos anjos, este alimento delicioso, precioso sangue do divino Esposo. Ai. d’quela que n’este momento solemnissimo não derrama sinceras lagrimas de arrependimento pelas ofensas que fez a Deus, porque sobre ela recairá todo o rigor das penas eternas!

    Saiba mais sobre o Naturalismo em Portugal.

    A pintura naturalista

    Além da literatura, o naturalismo se destacou na pintura. Na arte naturalista, os pintores apresentam paisagens naturais e cenas cotidianas com personagens de classe mais baixa.

    Da mesma forma que na literatura, a pintura naturalista se opõe à escola romântica, focando na objetividade e na representação mais fiel da realidade, sem idealizações e subjetivismos.

    Na França, destaca-se o pintor Honoré Daumier (1808-1879) e na Alemanha Johann Georg Grimm (1846-1887), que se radicou no Brasil.

    Os jogadores de xadrez (1863), obra de Honoré DaumierVista da Ponta de Icaraí (1884), obra de Johann Georg Grimm

    No Brasil, grande parte dos pintores de estética naturalista faziam parte do Grupo Grimm, orientado pelo alemão Georg Grimm e focado nas pinturas de paisagens.

    Alguns nomes mais representativos do grupo Grimm são:

    • Antônio Parreiras (1860-1937)
    • Garcia y Vasquez (1859-1912)
    • Joaquim de França Júnior (1838-1890)
    • Francisco Joaquim Ribeiro (1855-1900)
    • Giovanni Battista Castagneto (1851-1900)
    • Hipólito Boaventura Caron (1862-1892)
    Paisagem do campo do Ipiranga (1893), obra de Antônio ParreirasPorto do Rio de Janeiro (1884), obra de Giovanni Battista Castagneto

    O teatro naturalista

    Muitos literatos do naturalismo produziram textos de dramaturgia e, assim, o teatro teve também um grande destaque no movimento. Os palcos naturalistas estavam focados nos detalhes para melhor representar os objetos em cena.

    O precursor do naturalismo literário na França, Émile Zola, foi um dos que contribuíram para o desenvolvimento do teatro naturalista, com sua obra de dramaturgia Thérèse Raquin, de 1873.

    O escritor francês adaptou seu romance que inaugurou o movimento literário naturalista em uma peça teatral, dividida em 4 atos.

    Na Alemanha, Gerhart Hauptmann (1862-1946) é considerado um dos introdutores da estética naturalista no teatro. Sua obra mais emblemática do período é Os Tecelões, escrita em 1892. Nela, o autor retrata a luta de trabalhadores de uma fábrica de tecido e suas inquietações.

    Na Rússia, destaca-se o dramaturgo Máximo Gorki (1868-1936) e sua obra teatral Pequenos burgueses, escrita em 1901, e que aborda o tema das classes sociais e o espírito burguês.

    Saiba mais sobre A Linguagem do Naturalismo.

    window.onload = function() { new Feedback({ environment: "production", project_id: "48", project_name: "todamateria.com.br", author_id: "49", author_name: "Daniela Diana", content_type: "article", content_id: "4860", content_url: "naturalismo-movimento-naturalista", content_title: "Naturalismo" }); } Daniela Diana Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.

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