Nero

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    window.sg_perf && performance.mark('img:visible'); Pedro Menezes Professor de Filosofia

    Nero Cláudio César Augusto Germânico (37-68 d.C.), nascido Lúcio Domício Enobarbo, foi o quinto imperador de Roma, último da dinastia júlio-claudiana, entre os anos de 54 e 68 d.C.

    Foi um jovem e excêntrico imperador, governando o Império Romano dos 16 aos 30 anos.

    Durante esse curto período, dedicou-se à política, mas também foi um profundo admirador da música, do circo, do teatro e do esporte. Julgava-se um excelente cantor e poeta, disputou e "venceu", ou melhor, se declarou vencedor das olimpíadas.

    Foi acusado da morte de seu irmão, sua mãe, de duas esposas, uma estando grávida, e de um grande número de opositores.

    Ficou conhecido também por ser responsável pelo Grande Incêndio de Roma, mas ainda hoje discute-se sobre a sua real causa. Uma das maiores personalidades da história da humanidade, sua figura ainda hoje é tema de debate, fonte de algumas incertezas e ambiguidades.

    Isso se dá porque a maioria dos relatos de sua época foram perdidos e a maior parte da documentação preservada são posteriores ao seu mandato, contando com uma forte oposição ao seu governo.

    Assim, se coloca em questão a veracidade dos eventos relatados e a narrativa construída, desde então, acerca de Nero. É certo que ele foi severo com seus opositores, ordenando diversas execuções.

    Boa parte do que se sabe ainda hoje sobre o jovem imperador romano, compreendido como demoníaco, considerado por muitos como o "anticristo", é uma interpretação com base em historiadores que eram seus opositores.

    A verdade sobre Nero permanece como um mistério, muito difícil de ser revelada, repleta de contradições, mas que movimenta muitas pesquisas atualmente.

    A ascensão de Nero ao poder

    Nero era sobrinho do Imperador Cláudio e este casou-se com sua mãe, Agripina e o adotou como filho, transformando-o no sucessor direto ao trono por ser mais velho que seu meio-irmão, Britânico. Foi educado e recebeu o auxílio de seu preceptor, o filósofo Sêneca.

    Há indícios de que sua mãe tenha planejado o assassinato de Cláudio para facilitar a chegada ao poder de Nero.

    Com a morte de Cláudio, Nero, aos 14 anos, foi declarado o sucessor do trono, mas como era jovem demais, deveria esperar até estar formado. Aos 16 anos foi nomeado César (em latim cæsar), nome dado ao imperador romano. Nero foi o quinto césar, o último da dinastia júlio-claudiana.

    Em 54 d.C., o imperador Nero, apoiado por sua mãe e Sêneca, conseguiu estabelecer alguns anos de paz, diminuiu a atividade bélica. Os primeiros anos de sua administração foram marcados pela prosperidade dos territórios dominados e consideráveis avanços administrativos no que diz respeito às decisões políticas.

    Os anos do Império de Nero

    Ele pregava uma separação bem definida entre sua vida particular e sua atuação como político. Essa divisão agradou parte do Senado e possibilitou ao imperador desenvolver seus interesses pessoais, em extensos banquetes públicos e em suas atividades como cantor, músico lirista, com sua poesia ou em corridas de bigas.

    Busto de Nero, Museu Palatino em Roma

    Nero proibiu as lutas com morte e em contra-partida, estimulou as atividades no circo e as competições atléticas. Ele também permitiu que os escravos denunciassem as injustiças cometidas por seus senhores.

    Entretanto, seu irmão Britânico, possuía o apoio de parte do senado e era uma ameaça a seu governo. No dia antes de Britânico atingir a maioridade, faleceu em decorrência de um ataque epilético suspeito.

    Os historiadores romanos Tácito e Dião Cássio afirmam que Nero e sua mãe conspiraram e envenenaram seu meio-irmão para garantir seu poder.

    Esse episódio marca o fim do período pacífico e início de uma mudança no governo de Nero, fundamentado na sua desconfiança de tudo e de todos, inclusive de sua mãe, com quem tinha uma relação conflituosa.

    Segundo os relatos da época, Agripina, mãe de Nero era uma mulher poderosa e controladora. Foi acusado de ter relações incestuosas com sua mãe. Em 59 d.C, o imperador enviou assassinos para executá-la, sob suspeita de que teria conspirado contra seu governo.

    A vida afetiva de Nero também foi muito conturbada. O imperador casou-se quatro vezes. Sua primeira esposa, Cláudia Otávia, era sua meia-irmã, irmã de Britânico. O casamento não durou muito. Nero engravidou Popeia Sabina, em uma relação extra conjugal, divorciou-se de Cláudia Otávia e baniu-a de Roma.

    O banimento de sua primeira esposa, querida pelo povo romano, gerou inúmeros protestos, Nero percebeu que a situação causava instabilidade e ordenou que a matassem fazendo parecer uma morte natural.

    Casou-se com Popeia e ela gerou sua única filha, mas a criança morreu com apenas 4 meses de vida e recebeu o título de augusta, uma grande honraria do império romano.

    Em 63, Popeia Sabina estava grávida novamente e, segundo relatos de seus opositores, em uma discussão, foi agredida por Nero com chutes na barriga e acabou morrendo em decorrência da agressão.

    Os historiadores modernos propõem que a morte teria sido causada por complicações no parto ou por um aborto espontâneo. Há relatos de que Nero não cremou sua esposa, como era o costume, rendeu-lhe honrarias divinas, queimou incenso e embalsamou-a, uma ação que seria contraditória à agressão.

    Posteriormente, casou-se ainda com Estacília Messalina e também com Esporo, um escravo liberto que o imperador mandou castrar e o desposou-o. Historiadores da época relatam a semelhança de Esporo com Popeia Sabina e dizem que Nero chamava-o pelo nome da esposa morta.

    O grande incêndio de Roma

    Um dos episódios mais marcantes da vida de Nero foi o grande incêndio que destruiu boa parte de Roma, em 64 d.C. Esse evento, gerou diversas hipóteses e controvérsias. O incêndio tomou grandes proporções afetando dez das catorze zonas da Roma antiga.

    Sobre esse evento há uma disputa entre diversas hipóteses.

    Uma das narrativas disseminadas no período posterior a sua morte afirma que Nero teria colocado fogo na cidade para servir-lhe de inspiração para sua composição como artista.

    Alguns relatos da época dizem que Nero estava o Imperador estava fora de Roma durante o incêndio. Outra possibilidade aponta para a vontade de Nero de reconstruir a cidade e propor um projeto urbanístico a seu modo, ou mesmo para a construção do novo palácio.

    De fato, após o incêndio, Nero deu início à construção da Casa Dourada (Domus Aurea), um palácio em uma área de cerca de 2 000 000 m2, revestido de ouro, marfim e pedras preciosas. O palácio também contava com lagos artificiais, jardins e inúmeras salas para festas, atividade favorita de Nero.

    Na hipótese mais aceita, os soldados romanos teriam iniciado o incêndio acidentalmente em uma perseguição aos cristãos. O próprio Imperador culpou os cristãos pelo incêndio, o que justificou uma maior perseguição.

    O Grande Incêndio de Roma dá o início do declínio do governo de Nero. Após esse evento, a oposição a Nero intensificou-se, culminando em sua queda em 68 d.C.

    O fim do império de Nero e sua morte

    O avanço da oposição a Nero se deu por conta do aumento dos impostos no império e pela intensificação da perseguição aos cristãos.

    O clima de insegurança se alastrou pelo império e acabou gerando uma reação, a partir de uma série de complôs contra o governo. Estudos recentes apontam que Nero foi mantido no poder por obter um grande apoio das camadas mais populares do povo romano.

    Entretanto, sua vaidade o levou a realizar uma longa turnê pela Grécia em 67/68 d.C., para demonstrar seus dotes artísticos. O afastamento da capital do império contribuiu para a perda de apoio e possibilitou o golpe de estado.

    Por fim, em 68 d.C., o Senado declarou Nero como inimigo público e escolheu Galba como seu sucessor no poder. Nero decidiu fugir de Roma, mas segundo relatos, ao ser alcançado por um soldado romano, optou por tirar a própria vida.

    Após sua morte, seguiu-se um período de instabilidade no poder conhecido como "o ano dos quatro imperadores"(68-69 d.C.). Nesse período governaram o Império: Galba, Otão, Vitélio e, por fim, Vespasiano, que ficou no poder até 79 d.C.

    Segundo os historiadores contemporâneos, a morte de Nero dá continuidade a sua figura dúbia. Ao que parece, a classe dos poderosos e mais algumas parcelas da população comemoraram a sua morte, enquanto uma parte das camadas mais populares sofreu por sua perda.

    Por conta do intenso ataque aos cristãos, Nero ficou conhecido como o anticristo. Isso contribuiu para sua péssima fama e para a ampliação da narrativa de seus opositores, após a ascensão cristã na Europa.

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    Referências Bibliográficas

    Champlin, Edward. Nero. Harvard University Press, 2009. Henderson, Bernard William. The life and principate of the emperor Nero. Methuen & Company, 1903. Joly, Fábio Duarte. "Suetônio e a tradição historiográfica senatorial: uma leitura da Vida de Nero." História (São Paulo) 24.2 (2005): 111-127. Varner, Eric R. Monumenta Graeca et Romana: Mutilation and transformation: damnatio memoriae and Roman imperial portraiture. Vol. 10. Brill, 2004.

    Pedro Menezes Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestrando em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (FPCEUP).

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