O livro “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda, foi lançado em 1936.
Como o próprio título diz, o livro investiga as origens da formação do povo brasileiro. Para tanto, Sérgio Buarque utiliza as teorias sociológicas do alemão Max Weber para compor seu estudo.
Trata-se de uma obra essencial para conhecer o Brasil junto a “Casa-Grande e Senzala”, de Gilberto Freyre e "Formação Contemporânea do Brasil", de Caio Prado Júnior.
Neste capítulo, o autor analisa a sociedade ibérica, especialmente a portuguesa. Conclui que um dos traços característicos dos povos ibéricos é a cultura da personalidade. Esta consiste em se apegar a uma pessoa, mais do que seus títulos ou posição social.
A consequência do personalismo será uma sociedade que não consegue organizar-se por si mesma. É preciso uma força exterior que diga o que seus membros devem fazer para que ela possa funcionar.
Desta maneira, as relações sociais são marcadas a partir das pessoas pelas quais se tem empatia, seja a família de sangue ou de afinidade. O personalismo, portanto, e atravessa todas as camadas sociais.
A obediência também é vista como uma virtude entre esses povos e daí o conceito de lealdade a um líder ser tão importante, ainda que muito flexível.
Sérgio Buarque analisa os dois tipos que predominaram na colonização do Brasil: o trabalhador e o aventureiro.
O trabalhador seria o tipo que planeja os riscos, se lança ao projeto pensando em longo prazo e de forma responsável. Por sua parte, o aventureiro é o oposto: busca riqueza fácil e rápida, sem precisar colocar muito empenho na tarefa. Trata-se de uma pessoa audaz, imprevidente e irresponsável.
Toda a tentativa de valorizar o trabalho, como foi feito pelos holandeses, resultou em fracasso ou teve alcance limitado.
A estrutura da sociedade colonial tem raízes rurais e até hoje percebemos sua influência na sociedade brasileira.
Neste capítulo, Sérgio Buarque comenta como a mentalidade escravocrata e aventureira impediu a industrialização do Brasil ao longo do século XIX.
Para os latifundiários era muito difícil abandonar a mentalidade do ganho fácil para a atividade industrial que exigia esforço, tecnologia e prazos longos. Assim, conclui o autor, não estranha que o Brasil só tenha abolido a escravidão em 1888 e que o modo de vida rural tenha invadido a cidade.
Neste capítulo, o autor compara as duas colonizações ibéricas na América: identifica o português como o semeador; e o castelhano, como o ladrilhador.
O semeador seria aquele que ocupa a terra sem planejamento e sem intenção de permanecer. Por isso, há pouca preocupação em construir cidades e quando o fazem é de maneira desleixada.
Já o ladrilhador tem preocupação em transportar o traçado da metrópole aos trópicos e por esta razão, as faz de maneira cuidadosa. Igualmente, isto reflete o grau de interferência do Estado no empreendimento colonial. Enquanto nas colônias portuguesa, sente-se menos a participação da Coroa, nas colônias hispano-americanas, o governo teria estado mais presente.
Este é o capítulo mais discutido do livro e, talvez, o mais incompreendido.
A palavra “cordial” é geralmente usada no sentido de ser cortês. Desta maneira, muitos pensavam que Sérgio Buarque a usava como um elogio, afirmando que o brasileiro era educado por natureza.
No entanto, Sérgio usava a palavra no seu sentindo etmológico, ou seja: cordis, em latim, significa “coração”. Por isso, o cordial seria o ser humano que se deixava levar pela emoção, cujo centro é o coração. Ao contrário de outros povos que se guiavam pelo cérebro, pela razão, o brasileiro seria governado pelas paixões. Outros estudiosos afirma que Sérgio Buarque de Holanda estava sendo irônico, pois de cordial (educado e cortês) o brasileiro não teria nada.
O personalismo é a essência do “homem cordial”, pois ele prefere construir laços de amizade antes de fazer um negócio, por exemplo.
Igualmente, as relações com o governo só aconteceriam através desses vínculos e beneficiariam aqueles que possuem os contatos certos diante da autoridade pública.
No penúltimo capítulo, o autor trata do liberalismo e da democracia no Brasil e afirma que eles sempre foram um “mal-entendido” no País. Os movimentos de reforma social sempre vieram de cima para baixo, com as elites comandando as mudanças.
Sérgio Buarque de Holanda afirma que o liberalismo democrático pressupõe o trato impessoal com os governantes, algo que os brasileiros não assimilam, pois preferem a familiaridade do que a distância exigida em cargos públicos.
Um dos exemplos seria chamar os políticos pelo primeiro nome, e o uso dos diminutivos e apelidos pelos mesmos.
A abolição da escravidão é vista como um marco, pois separa o Brasil rural do Brasil urbano. Os latifundiários perderam sua influência no governo, segundo o autor.
A instalação da República no Brasil foi feita também de maneira improvisada e ele enfatiza que em toda América do Sul ocorreu o mesmo:
As constituições feitas para não serem cumpridas, as leis existentes para serem violadas, tudo em proveito de indivíduos e oligarquias, são fenômenos corrente em todo a história da América do Sul. [...] outros serviam do lema “Liberdade”, ainda mais prestigioso, ao mesmo passo em que procuravam consolidar em nome dele um poder positivamente ditatorial e despótico.
Neste último capítulo, Sérgio Buarque de Holanda diz que o Brasil só terá democracia plena quando houver uma revolução feita de baixo para cima. Também será preciso aceitar a impessoalidade da democracia e que direitos e deveres são para todos.
Importante destacar que Sérgio Buarque de Holanda foi o organizador da coleção História Geral da Civilização Brasileira, uma referência para o estudo da História do Brasil.
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