SALVADOR, Brasil, 16 de maio de 2022 /PRNewswire/ -- Em janeiro último, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) divulgou os resultados da primeira etapa do Censo Escolar realizada em 2021, onde foram registradas 46,7 milhões de matrículas na educação básica, 627 mil a menos que em 2020. A rede municipal atende 49,6% desse segmento, seguida da rede estadual com 32,3%, sendo que a rede privada atende a 17,4%. A federal fica com a minúscula fatia de 0,8% dos alunos desse grupo. Vemos que a rede municipal é a principal responsável pelo ingresso dos alunos no ensino fundamental e, quanto ao ensino médio, a rede estadual se sobrepõe à municipal, atendendo a 84,5% dos alunos.
A pandemia da Covid-19, em 2020, atingiu o setor educacional com o fechamento de escolas, quando crianças e adolescentes tiveram aulas presenciais interrompidas por, pelo menos, oito meses (período mais longo em comparação com outros países), trazendo consequências que só o futuro determinará a extensão. Essas perdas foram estudadas pela Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, trazendo como resultado simulado a perda de aprendizado por parte dos alunos, principalmente em Matemática, comparado à Língua Portuguesa, sendo os mais prejudicados os do Ensino Fundamental. Conforme dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica, o Brasil fez um retorno à proficiência educacional de quatro anos atrás em Língua Portuguesa e três anos em Matemática.
Baseado em estudos do Banco Mundial, a Fundação Getúlio Vargas considerou o aprendizado de um ano típico, o tempo da interrupção das aulas e o eventual aprendizado com o ensino remoto. Na interrupção das aulas presenciais os alunos dependem do acesso tecnológico e este é desigual no Brasil. O estudo nos revela que, em ambas as etapas de ensino, os alunos das regiões Norte e Nordeste foram mais prejudicados que os do Sul e Sudeste. Os resultados afetam, em grande escala, os menos favorecidos e mostram a necessidade de políticas públicas que assegurem, de forma urgente, o ensino remoto de qualidade a todos e todas na tentativa de evitar perda crescente de aprendizado e aumento do fosso das desigualdades educacionais.
Em novembro de 2021, tivemos o leilão do 5G (5ª geração da internet móvel), envolvendo 47 bilhões de reais com a proposta de fazer a revolução nas tecnologias. Isso nos leva a crer que além de ampliar o mundo tecnológico (robôs em fábricas, automação na área agro, etc.) a internet chegará aos cantos mais recônditos desse país, beneficiando a educação pública. Não é bem assim. Conforme Jackson Almeida, membro do Conselho da Associação Brasileira de Provedores da Internet e Telecomunicações (Abrint), a infraestrutura carece de vários ajustes para que a rede 5G funcione plenamente. A própria Abrint divulgou um manifesto em fevereiro desse ano apresentando "inquietações" sobre a proposta de Regulamento de Compartilhamento de Postes entre Distribuidoras de Energia Elétrica e Prestadoras de Serviços de Telecomunicações. Existem vários alinhamentos institucionais a serem feitos até que os serviços sejam plenamente disponibilizados. Aguardamos as soluções regulatórias e continuamos a patinar nas soluções para oferecer acesso à internet pelas escolas públicas.
Enquanto deixamos de priorizar a educação no Brasil, vemos outras nações que cresceram por fazê-lo. Tomando como exemplo a Coreia do Sul, onde, em 1960, os níveis econômicos e sociais estavam entre países mais pobres da Ásia e, atualmente, o país figura entre as primeiras economias do mundo, exportando tecnologia de ponta. Os coreanos priorizaram a educação primária e, quando a mesma se tornou realidade, o governo investiu recursos no segundo e terceiro grau. Em 1996, foi adotado um plano "Educação Inteligente" com o propósito de melhorar o sistema educacional focado na introdução de soluções tecnológicas. Com 100% da população alfabetizada, a Coreia do Sul mudou seu passado pobre, transformando-se em potência global.
Sou filho de professora. Tive a sorte de ter tido excelentes referências de professores na minha vida que me levaram a acreditar que a educação pode ser determinante para o desenvolvimento e as escolhas democráticas do cidadão. E, para nossa reflexão, fica a frase do famoso educador baiano Anísio Teixeira: "Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a escola pública".
Sobre Paulo Câmara
Paulo Câmara é deputado estadual pela Bahia.
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FONTE Paulo Sérgio de Sá Bittencourt Câmara
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