Cantigas de Roda são um tipo de canção popular, que está diretamente relacionada com a brincadeira de roda. A prática é comum em todo o Brasil e faz parte do folclore brasileiro. Consiste em formar um grupo com várias crianças, dar as mãos e cantar uma música com características próprias, como melodia e ritmo equivalentes à cultura local, letras de fácil compreensão, temas referentes à realidade da criança ou ao seu universo imaginário e geralmente com coreografias.
Elas também podem ser chamadas de cirandas, e têm caráter folclórico. Esta prática, hoje em dia não tão presente na realidade infantil como antigamente devido às tecnologias existentes, é geralmente usada para entretenimento de crianças de todas as idades em locais como colégios, creches, parques, etc.
Há algumas características que elas têm em comum, como por exemplo a letra. Além de ser uma letra simples de memorizar, é recheada de rimas, repetições e trocadilhos, o que faz da música uma brincadeira. Muitas vezes fala da vida dos animais, usando episódios fictícios, que comparam a realidade humana com a realidade daquela espécie, fazendo com que a atenção da criança fique presa à história contada pela música, o que estimula sua imaginação e memória. São os casos das músicas “A barata diz que tem”, “Peixe vivo” e “Sapo Jururu”.
Em outros casos, algum objeto cria vida, ou fala-se de amor que para as crianças é representado principalmente pelo casamento, já que o exemplo mais próximo delas é o dos pais. Há ainda as que retratam alguma história engraçada, divertida para as crianças. Contudo, não podemos deixar de destacar as cantigas que falam de violência ou de medo. Apesar de esse ser um tema da realidade da criança, em algumas cantigas ele parece ser um estímulo à violência ou ao medo. Atualmente algumas canções vêm sendo alteradas por pessoas mais preocupadas com a influência das músicas na mente infantil.
Não há como detectar o momento em que as cantigas de roda, já que além de terem autoria anônima, são continuamente modificadas, adaptando-se à realidade do grupo de pessoas que as canta. São também criadas novas cantigas naturalmente em qualquer grupo social.
De acordo com Cascudo (1988), autor que se destaca pelo seu brilhante estudo e grande empenho a respeito do assunto, as cantigas de roda tem um caráter constante. "(...) apesar de serem cantadas uma dentro das outras e com as mais curiosas deformações das letras, pela própria inconsciência com que são proferidas pelas bocas infantis." (ibid., p 676 ) Elas são transmitidas oralmente abandonadas em cada geração e reerguidas pela outra "numa sucessão ininterrupta de movimento e de canto quase independente da decisão pessoal ou do arbítrio administrativo." (ibid., p. 146 )
Como podemos confirmar é de acordo com a sua utilização pelas crianças que a cantiga vai se tornando popular. As cantigas hoje conhecidas no Brasil têm origem européia, mais especificamente de Portugal e Espanha. Não é notável, porém, esta origem, pois as mesmas já se adaptaram tanto ao folclore brasileiro que são o retrato do país.
As cantigas de roda são de extrema importância para a cultura de um local. Através dela dá-se a conhecer costumes, cotidiano das pessoas, festas típicas do local, comidas, brincadeiras, paisagem, flora, fauna, crenças, dentre muitas outras coisas. O folclore de determinado local vai sendo construído aos poucos através não só de cantigas de roda, mas também de histórias populares contadas oralmente, cantigas de ninar, lendas, etc.
"O folclore inclui nos objetos e fórmulas uma quarta dimensão sensível ao seu ambiente" (Câmara Cascudo)
Veja a letra de algumas das cantigas de roda mais executadas no Brasil.
Marcha Soldado
Marcha Soldado Cabeça de Papel Se não marchar direito Vai preso pro quartel
O quartel pegou fogo A polícia deu sinal Acuda acuda acuda A bandeira nacional
Samba Lelê Samba Lelê está doente Está com a cabeça quebrada Samba Lelê precisava De umas dezoito lambadas
Samba , samba, Samba ô Lelê Pisa na barra da saia ô Lalá (BIS)
O Cravo e a Rosa
O Cravo brigou com a rosa Debaixo de uma sacada O Cravo ficou ferido E a Rosa despedaçada
O Cravo ficou doente A Rosa foi visitar O Cravo teve um desmaio A Rosa pos-se a chorar
Ciranda Cirandinha
Ciranda Cirandinha Vamos todos cirandar Vamos dar a meia volta Volta e meia vamos dar
O Anel que tu me destes Era vidro e se quebrou O amor que tu me tinhas Era pouco e se acabou
Nesta Rua
Nesta rua, nesta rua, tem um bosque Que se chama, que se chama, Solidão Dentro dele, dentro dele mora um anjo Que roubou, que roubou meu coração
Se eu roubei, se eu roubei seu coração É porque tu roubastes o meu também Se eu roubei, se eu roubei teu coração É porque eu te quero tanto bem
Se esta rua se esta rua fosse minha Eu mandava, eu mandava ladrilhar Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante Para o meu, para o meu amor passar
Atirei o Páu no Gato Atirei o páu no gato tô tô Mas o gato tô tô Não morreu reu reu Dona Chica cá Admirou-se se Do berro, do berro que o gato deu Miau !!!!!!
Fui no Tororó
Fui no Tororó beber água não achei Achei linda Morena Que no Tororó deixei Aproveita minha gente Que uma noite não é nada Se não dormir agora Dormirá de madrugada
Oh ! Dona Maria, Oh ! Mariazinha, entra nesta roda Ou ficarás sozinha !
Sozinha eu não fico Nem hei de ficar ! Por que eu tenho o Pedro Para ser o meu par !
Pézinho
Ai bota aqui Ai bota aqui o seu pézinho Seu pézinho bem juntinho com o meu (BIS)
E depois não va dizer Que você se arrependeu ! (BIS)
Terezinha de Jesus
Terezinha de Jesus deu uma queda Foi ao chão Acudiram três cavalheiros Todos de chapéu na mão
O primeiro foi seu pai O segundo seu irmão O terceiro foi aquele Que a Tereza deu a mão
Terezinha levantou-se Levantou-se lá do chão E sorrindo disse ao noivo Eu te dou meu coração
Dá laranja quero um gomo Do limão quero um pedaço Da morena mais bonita Quero um beijo e um abraço
Peixe Vivo
Como pode o peixo vivo Viver fora da água fria Como pode o peixe vivo Viver fora da água fria
Como poderei viver Como poderei viver Sem a tua, sem a tua Sem a tua companhia Sem a tua, sem a tua Sem a tua companhia
Os pastores desta aldeia Ja me fazem zombaria Os pastores desta aldeia Ja me fazem zombaria
Por me verem assim chorando Por me verem assim chorando Sem a tua, sem a tua Sem a tua companhia Sem a tua, sem a tua Sem a tua companhia
Sapo Jururu
Sapo Jururu na beira do rio Quando o sapo grita, ó Maninha, diz que está com frio A mulher do sapo, é quem está la dentro Fazendo rendinha, ó Maninha, pro seu casamento
São João Da Ra Rão
São João Da Ra Rão Tem uma gaita-ra-rai-ta Que quando toca-ra-roca Bate nela Todos os anja-ra-ran-jos Tocam gaita-ra-rai-ta Tocam tanta-ra-ran-to Aqui na terra
Maria tu vais ao baile, tu “leva” o xale Que vai chover E depois de madrugada, toda molhada Tu vais morrer
Maria tu vais “casares”, eu vou te “dares” Eu vou te “dares” os parabéns Vou te “dares” uma prenda Saia de renda e dois vinténs
Escravos de Jó Escravos de Jó jogavam caxangá Tira, bota deixa o Zé Pereira ficar Guerreiros com guerreiros fazem zigue zigue za (bis)
A Barata diz que tem
A Barata diz que tem sete saias de filó É mentira da barata, ela tem é uma só Ah ra ra, iá ro ró, ela tem é uma só !
A Barata diz que tem um sapato de veludo É mentira da barata, o pé dela é peludo Ah ra ra, Iu ru ru, o pé dela é peludo !
A Barata diz que tem uma cama de marfim É mentira da barata, ela tem é de capim Ah ra ra, rim rim rim, ela tem é de capim
A Barata diz que tem um anel de formatura É mentira da barata, ela tem é casca dura Ah ra ra , iu ru ru, ela tem é casca dura
A Barata diz que tem o cabelo cacheado É mentira da barata, ela tem coco raspado Ah ra ra, ia ro ró, ela tem coco raspado
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