Primeiro romance escrito por Érico Veríssimo, Clarissa deixa marcas em sua obra (e também em sua vida, já que sua filha será chamada Clarissa devido à popularidade de sua personagem), pois o autor ainda traz a história de sua personagem em outros 2 livros: Música ao Longe e Um lugar ao Sol.
Nesta obra, temos a pequena Clarissa, com apenas 13 anos de idade, conhecendo as coisas do mundo com uma visão fantástica, e até algumas vezes assustada.
Recém-chegada do interior, Clarissa vai morar numa pequena pensão em Porto Alegre. Em contato com criaturas frustradas, entregues às pequenas misérias do cotidiano, a garota descobre a vida aos poucos, ora tranqüila ora aos sobressaltos. Nesta história, espécie de iniciação à vida adulta, Clarissa se depara com uma realidade que se revela em toda a sua crueza. Seu sonho, porém, é maior do que tudo.
Diferentes tipos de pessoas e ambientes são retratados por Érico Veríssimo de forma minuciosa, quase fotográfica, embora seja limitado ao território da pensão da tia, pois o o que de fato interessa é a descoberta de Clarissa em relação aos seres e às coisas que a cercam.
Um mundo juvenil, povoado de sonhos e fantasias é o que vemos nesta obra. No entanto, também o lado obscuro e amargo da vida ganha lugar no contexto de Clarissa, através de Amaro, o músico frustrado, já na casa dos quarenta anos, que contempla juventude de Clarissa tudo aquilo que a vida lhe negou: segurança, alegria, imaginação. Amaro ama Clarissa à sua maneira, transferindo para ela a imagem da mulher que sempre idealizara e sabe que nunca chegará a possuir.
Outra marca da identidade do autor é a preferência por personagens femininas. Neste romance, a força e a vitalidade está representada mais nas mulheres (autoritárias como Tia Zina, sonhadoras como Clarissa) do que nos homens, que, em geral, são indolentes, frustrados ou insensíveis.
Clarissa marca o início de uma atividade criadora no qual Érico Veríssimo elevou o romance sulino ao seu ponto mais alto.
"Uma vez, há muitos, muitos anos, um menino olhou o mundo com olhos interrogadores. Tudo era mistério em torno dele. Era numa casa grande. O arvoredo que a cercava amanhecia sempre cheio de cantos de pássaros. O mundo não terminava ali no fim daquela rua quieta, que tinha um cego que tocava concertina, um cachorro sem dono que se refestelava ao sol, um português que pelas tardinhas se sentava à frente de sua casa e desejava boa tarde a toda a gente. Não. O mundo ia além. Além do horizonte havia mais terras, e campos, e montanhas, e cidades, e rios e mares sem fim. Dava em nós vontade de correr mundo, andar nos trens que atravessavam as terras, nos vapores que cortam os mares. Nos olhos do menino havia uma saudade impossível, a saudade de uma terra nunca vista."
(VERISSIMO, Erico. Clarissa; páginas 34-5, editora Cia. das Letras, 5ª edição.)
Fontes: http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/c/clarissa http://artigosefemeros.blogspot.com.br/2009/09/clarissa-de-erico-verissimo.html
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