A natureza do conhecimento científico sempre esteve diretamente relacionada à sua forma de abordagem. As pesquisas sobre a natureza da ciência, o progresso científico e a verdade científica trazem novos questionamentos à construção teórica, numa perspectiva interpretativa e analítica das ciências contemporâneas. As discussões sobre a relação da ciência à educação científica se apresentam como uma possibilidade teórico-reflexiva à elaboração de abordagens científico-filosóficas e às aplicações na formação docente.
Dessa forma, o questionamento filosófico e a decorrente elaboração conceitual, à busca da compreensão sobre que é ciência, poderão produzir determinadas respostas e aproximações das outras áreas do conhecimento. Desse modo, pensar ciência sob a ótica interdisciplinar, de modo a compreendê-la, seja uma das tarefas da educação em ciências, de modo que venha incorporar contribuições de outros campos dos saberes humanos. Conforme Cachapuz (2011), “a educação em ciências, enquanto área emergente do saber em estreita conexão com a ciência necessita da epistemologia para uma fundamentada orientação, devendo ser ainda um referencial seguro para uma adequada construção das suas análises. A epistemologia ao pretender saber das características do que é específico da cientificidade e tendo como objeto de estudo a reflexão sobre a produção da ciência, sobre seus fundamentos e métodos, sobre seu crescimento, sobre os contextos de descoberta, não constitui uma construção racional isolada. Ela faz parte de uma teia de relações, muitas vezes oculta, mas que importa trazer ao de cima numa educação científica que ao refletir sobre suas finalidades, sobre seus fundamentos e raízes, sobre as incidências que produz no ensino praticado e nas aprendizagens realizadas pelos alunos se esclarece na própria orientação epistemológica que segue”.
Cabe destacar que o conhecimento científico está envolvido na comunicação de algo a alguém e lida com significados, que são entidades sociais encarnadas e presentes na linguagem. Estes podem sofrer alterações ou perdas quando da sua aplicação e/ou execução, como nos registros significativos da literatura e cultura científicas e até mesmo nos lugares restritos dos laboratórios de pesquisa. Constituir-se-ia em erro tomar taissignificados como formas históricas ou tipos naturais dados. Por outro lado, seria igualmente erro afirmar que os resultados produzidos pela ciência são artefatos arbitrários ou meros discursos.
Constata-se hoje que as ciências naturais obtiveram relativo sucesso na transmissão contínua das suas tradições mais relevantes e na manutenção do consenso compartilhado entre seus praticantes. Tradicionalmente, a literatura científica adota uma postura objetiva, que desconsidera aparentemente possíveis contribuições hermenêutico-filosóficas. Porém, a filosofia analítica da ciência toma os elementos da cultura e da história e as experiências vividas como proposições e valores a serem incorporados à ciência, inserindo-os nos processos de descoberta e de compreensão, de modo que elementos e saberes de outras áreas possam tornar-se significativos aos processos de investigação e interpretação dos fatos científicos.
Referências: CACHAPUZ, António et al. A Necessária Renovação do Ensino das Ciências. São Paulo: Editora Cortez, 2011. CACHAPUZ, A. 1999. Epistemologia e ensino das ciências no pós – mudança conceitual: análise de um percurso de pesquisa In: II Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, Valinhos: São Paulo. Atas II – ENPEC.
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