Evidência anedótica

Com o advento das redes sociais em escala global, muitas são as informações difundidas na internet. É preciso ter em mente que nem tudo o que é divulgado na internet é verdade. Muitas pessoas se aproveitam da internet para divulgar informações falsas, sem base científica, simplesmente porque acham que está certo. E por muitas vezes as opiniões geradas para os mais diversos assuntos são somente a opinião de cada um.

A evidência anedótica (ou anecdotal evidence) é o nome dado a uma anedota que, em uma discussão ou reflexão, deixa o seu caráter pessoal e específico e adquire caráter científico. Ocorre quando há falsa relação de causa e efeito, que muitas vezes vai contra as informações científicas do assunto em questão. São histórias difíceis de verificar a veracidade, e normalmente se baseiam em experiências pessoais de quem está falando ou “ouviu falar”.

Outra característica importante é que na evidência anedótica duvidamos dos fatos, muitas vezes bem fundamentados, com dados estatísticos inclusive e relatamos nossa experiência pessoal para refutar as evidências. Um bom exemplo disso é o caso de bebida x direção. Estatisticamente, quem dirige embriagado tem maiores condições de provocar um acidente. Mas quem dirige embriagado tenta sempre negar o fato, dizendo que “eu sempre dirijo embriagado e nunca me aconteceu nada”. Mesmo que sejam demonstrados os dados estatísticos, e várias provas em contrário, esses dados não são considerados pelo sujeito que dirige bêbado, que ainda pode lembrar de vários amigos que fazem o mesmo e nada acontece. Ou seja, a sua experiência pessoal é uma verdade absoluta, sem chance para nenhuma argumentação ou contestação. As evidências anedóticas possuem algumas razões que as caracterizam:

  • 1) Generalização falaciosa – apresenta poucos casos para depois generalizar para todos os outros, assumindo que o que temos é uma amostra válida;
  • 2) “Cherry picking” – são escolhidos fatos que satisfazem o ponto de vista em questão, deixando de lado os fatos que o refutam;
  • 3) Tendência para a confirmação e de relembrar apenas os positivos (confirmation bias) – procura-se somente o que se quer encontrar, negligenciando o que não é o foco da procura.
  • 4) Falhas de atenção / percepção – só se procura o que se quer encontrar;
  • 5) Falácia (ou em latim, post hoc ergo propter hoc, traduzido: "depois disso, logo, causado por isso") – ocorre quando se acha que há uma relação causa efeito entre dois fenômenos  consecutivos.

Um bom exemplo de evidência anedótica (falácia) é o que ocorre na relação cloroquina x coronavírus, difundida não só no Brasil, mas também em alguns lugares do mundo. Na pandemia da Covid-19, muito se fala entre a relação entre o medicamento cloroquina e a cura da Covid-19. Essa falácia é construída a partir de dois eventos que acontecem em uma sequencia cronológica e podem estar ligados, constituindo uma relação de causa e efeito. No caso em questão, toma-se o medicamento (cloroquina) e a doença é curada (Covid-19). É considerada uma evidência anedótica, porque não há comprovação científica, através de estudos e pesquisas que comprove a eficácia do medicamento no combate a doença. Pelo contrário, existem relatos que afirmam que a cloroquina não cura a doença, e ainda pode trazer efeitos colaterais à saúde, se tomada sem acompanhamento médico.

Deve-se sempre procurar embasamento científico quando se quer difundir notícias pela internet para não se correr o risco de que sejam divulgadas informações que não condizem com a verdade.

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