Fundamentalismo

O termo fundamentalismo significa a adesão estrita a um conjunto específico de doutrinas teológicas (fundamentos) tipicamente contrárias à teologia modernista. Foi criado originalmente por protestantes norte-americanos do Seminário Presbiteriano de Princeton (século 19), conseguindo adeptos e defensores de fundamentos teológicos, como uma lista específica de credos teológicos que se desenvolveu no início do século 20, com a Controvérsia Fundamentalista-Modernista. A primeira formulação das crenças fundamentalistas ocorreu na Conferência Bíblica de Niágara (1910), durante a Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana que gerou os "cinco fundamentos":

  • A Bíblia é inspirada pelo Espírito Santo e inerrante (sem erros);
  • o nascimento virginal de Cristo;
  • a morte de Cristo para a redenção do pecado;
  • a ressurreição de Cristo;
  • a realidade histórica dos milagres de Jesus.
  • Curtis Lee Laws, pastor batista, definiu a expressão formalmente (1920) como movimento protestante americano contrário aos protestantes liberais do século 19 e o fundamentalista como alguém disposto a recuperar territórios perdidos para o Anticristo e “lutar pelos fundamentos da fé”. Para Karen Armstrong (2006), as campanhas fundamentalistas têm caráter bélico, líderes utilizando imagens de batalhas no âmbito doutrinal e exegético, pregando a necessidade de afirmação dos dogmas do protestantismo tradicional em reação à abertura que outros protestantes davam para discursos científicos como a teoria da evolução das espécies.

    O fundamentalismo não se abre ao diálogo e milita a favor de seus dogmas que são a verdade absoluta e indiscutível. A expressão que nasceu desses debates teológicos foi utilizada pela imprensa diretamente relacionada às ações violentas e à intolerância religiosa. Fundamentalismo religioso é forte aderência a qualquer conjunto de credos em face do criticismo ou impopularidade, com conotações religiosas ou atitudes de pessoas preocupadas com os fundamentos, preceitos doutrinários, sectários e ideológicos de determinada religião, tirando-as do mero campo dos debates e partindo para a intolerância e violência. Qualquer grupo religioso minoritário, violento ou intolerante, movimentos étnicos extremistas com inspirações religiosas, são popularmente considerados fundamentalistas étnicos.

    O fundamentalismo volta aos princípios fundamentais ou vigentes na fundação de seu grupo, seita, facção ou segmento, mas, refere-se aos demais grupos dissidentes como desviados, corrompidos que não se identificam intencionalmente com o grupo maior ou divergem de seus princípios, sendo hostis ou contraditórios à identidade original. Por esta razão, fundamentalismo foi considerado anti-modernista, crença irracional ou exagerada, fanatismo.

    Modernamente, muitas ideologias se serviram de doutrinas religiosas para fins fundamentalistas, como o IRA, grupo paramilitar católico que pregava a agenda política de separação da Irlanda do Norte do Reino Unido, com discursos políticos misturados com doutrina católica. Nos EUA, a Ku Klux Klan é seita fundamentalista que misturava ideologias raciais, eugenistas com o protestantismo puritano.

    O judaísmo e judeus haredi, verdadeiros judeus da Torah; o islamismo tendo conflitos entre xiitas e sunitas desde o século 7, o wahhabismo (século 18) que desenvolveu associações de terroristas islâmicos, ideologias radicais de revolução social misturadas com o fundamentalismo islâmico combatem os jamaat (enclaves religiosos) e apoiam a jihad islâmica (luta contra a cultura ocidental) para que se submetam ao islamismo original prescrito na determinação divina (Sharia).

    Os fundamentalistas objetivam atrair e converter os religiosos da comunidade maior, tentando convence-los de que eles não estão experimentando a versão autêntica da religião professada.

    Referências bibliográficas:

    ARMSTRONG, Karen. Em nome de Deus: o fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo. Trad. Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

    GAARDER, J.; HELLEN, V.; NOTAKER, H. O livro das religiões. São Paulo: Editora Schwarcz, 2000.

    ZILLES, Urbano. Religiões crenças e crendices. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

    CARVALHO, Olavo de. Sapientiam autem non vincit malitia: o maior dos genocídios. Disponível em: http://www.olavodecarvalho.org/semana/omaior.htm.

    GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

    ______. Os andarilhos do bem: feitiçaria e cultos agrários nos séculos XVI e XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

    HAUGHT, James A. Perseguições religiosas. Trad. Bete Torii. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

    MILLS, Don. Para esses dias. 1979 (1976). Ontario: George J. McLeod Ltd. and bibliography. Disponível em português em: http://paraessesdias.wordpress.com/2010/06/24/a-igreja-catlica-e-a-perseguio-aos-judeus-durante-a-histria.

    SILVA, Marcos (org.) et al. A cabala e a cultura criptojudaica na diáspora atlântica dos sefarditas. Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano IV, n. 12, Janeiro 2012. Disponível em: http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/index.html. Acesso em 10 jan. 2017.

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