Durante os protestos pelo Brasil em junho de 2013, se disseminou pela mídia a utilização de gases de ação lacrimogênea como um meio dispersante da multidão, assim como possíveis propriedades que o vinagre teria em anular os seus efeitos. Esse texto tem por objetivo trazer alguns esclarecimentos sobre o tema.
Ainda em relação ao gás lacrimogêneo, abordou-se questões que apontavam o vinagre como uma substância que poderia anular os efeitos desse gás. Entretanto, como o vinagre trata-se de uma solução de ácido acético (CH3COOH) à concentração de aproximadamente 5%, e este ácido não possui nenhuma atuação neutralizante sobre os gases lacrimogêneos, geralmente compostos clorados ou bromados, esta questão está mais para um mito popular do que para uma fundamentada teoria científica. Dessa forma, apresentou-se midiaticamente títulos como “A Revolta do Vinagre”, ou “A Resistência do Vinagre”, os quais podem melhor serem apontados como simbologia de uma movimentação social do que por apresentarem algum embasamento científico no que poderia se referir a uma reação orgânica de neutralização.
Referindo-se novamente ao vinagre, “esse ingrediente, porém, contém ácido acético e pode ajudar a aliviar os casos mais graves de contato com o gás: as queimaduras alcalinas na pele. Mas esse tipo de ferimento só ocorre em casos extremos, quando policiais atiram muitas cápsulas de pó lacrimogêneo numa área pequena (algo que são treinados para não fazer). Manifestantes que demoram a sair das nuvens de pó lacrimogêneo também podem ter essa queimadura, sobretudo se estiverem com roupas úmidas, que facilitam a absorção do gás pelo tecido”1.
Tais gases lacrimogêneos podem ter seus efeitos minimizados aos se utilizar, por exemplo, uma máscara de carvão ativado, o qual é responsável pela adsorção das moléculas gasosas. Mas, com relação ao vinagre, a irritação cutânea poderá se dar inclusive pela ação deste ácido, uma vez que é irritante em concentrações maiores do que a apresentada na solução de vinagre. Temos aqui mais um caso de repercussão desorientada, motivada, provavelmente, por um efeito visual de repercussão iniciada casualmente.
Algumas recomendações são interessantes e fundamentadas ao se ter contato com um gás lacrimogêneo, como “tirar a roupa o quanto antes puder e sair do local para inalar o mínimo possível, pois em longos períodos o gás pode provocar, além da irritação, bronquite, pneumonia e lesões definitivas nos olhos”2. De modo caseiro, o carvão que resta nas churrasqueiras, enrolado por um tecido, poderia ser utilizado para cobrir as vias respiratórias, atuando similarmente ao carvão ativado e adsorvendo parte das moléculas gasosas irritantes.
Referências: 1. http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1300209-ar-fresco-e-melhor-do-que-vinagre-contra-efeito-de-gas-lacrimogeneo.shtml 2. http://itnet.com.br/saudelegal-21084
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