Leptospirose Bovina

A leptospirose é uma doença contagiosa causada pela infecção por qualquer espécie de bactéria patogênica do gênero leptospira.

Foi, primeiramente, identificada por Weil, no homem, no ano de 1886. Entretanto, sua etiologia só foi estabelecida no ano de 1915, quase que simultaneamente na Alemanha, por Uhlenhuth e Fromme, e no Japão por Inada e Ido.

Esta é uma zoonose onde os animais são hospedeiros primários, sendo essenciais para a persistência dos focos de infecção, e os humanos são os hospedeiros acidentais, pouco eficientes na perpetuação desta doença. Os impactos da leptospirose em relação à saúde animal são, particularmente, da esfera econômica. Nos bovinos, as perdas econômicas causadas pela leptospirose bovina estão relacionadas, tanto de forma direta como indireta, às falhas reprodutivas (infertilidade, abortamento, queda na produção de carne e leite), além das despesas com médicos veterinários, vacinas e medicamentos.

Inicialmente, o gênero leptospira foi dividido em duas espécies: Leptospira interrogans (“complexo Leptospira interrogans”) e Leptospira biflexa (“complexo Leptospira biflexa”). Esta classificação baseava-se em critérios sorológicos, nos quais eram incluídos os sorogrupos e sorovares de leptospiras patogênicas e saprófitas. Entretanto, em 1992, o Subcomitê em Taxonomia da Leptospira propôs a divisão da L. interrogans em sete espécies: L. borgenpetersenii, L. interroganes, L. noguchii, L. santarosai, l. weilii, L. kirscheneri, baseando-se em critérios de diferenciação molecular entre diversos sorovares.

Leptospira interrogans

Estas bactérias são microrganismos espiralados, com aproximadamente 0,1μm de diâmetro, seu comprimento varia de 6-12 μm, são aeróbicos obrigatórios, possuem um flagelo que é responsável por sua ágil locomoção. São cultivados em meios especiais, de preferência, contendo soro, pois são extremamente frágeis, morrendo facilmente.

Todos os mamíferos são susceptíveis à leptospira, contudo a espécie bovina é uma das mais afetadas, sendo afetados pelos sorovares hardjo, pomona, grippotyphosa eicterohaemorrhagiae. Uma vez introduzido em um rebanho, este sorovar estabelece níveis variáveis de infecção, podendo persistir por longos períodos. A infecção pelo sorovar hardjo independe de estações chuvosas e sistemas de criação.

A prevalência desta bactéria se dá em regiões de clima tropical, com alto índice pluviométrico, em solos neutros ou alcalinos. Fatores como susceptibilidade do indivíduo e adaptação ao microrganismo determinam a gravidade da doença. Desta maneira, existem animais que na apresentam sinais clínicos da doença e tornam-se disseminadores deste espiroqueta.

No meio rural os roedores Rattus novergicus, Mus musculus e Rattus rattus representam um papel importante na disseminação da doença, pois são também reservatórios da doença nos bovinos.

A transmissão da infecção entre os hospedeiros de manutenção, geralmente é eficiente e a incidência da mesma é relativamente alta, sendo na maior parte dos casos direta, envolvendo o contato com urina infectada, fluídos placentários ou leite. Além disso, a infecção pode ser transmitida por via venérea ou via transplacentária. A infecção de hospedeiros acidentais é geralmente indireta, pelo contato com urina dos hospedeiros de manutenção, em áreas infectadas.

Esta doença é considerada septotóxica. Pode ocorrer a contaminação quando a bactéria, que está presente nas águas, penetra no organismo através da pele lesada e até mesmo integra, ou quando a água ou alimentos contaminados por urina são ingeridos. Neste último caso, as bactérias podem penetrar pela mucosa digestiva ou nasal. Outra forma de contaminação é através do contato direto com a urina dos doentes ou portadores, sendo a mucosa conjuntival também considerada uma possível via de infecção. No caso de ruminantes, devido à barreira químico-mecânica representada pelo rúmen, à via digestiva só seria receptível em sua parte anterior representada pela boca e faringe.

Após a penetração, as leptospiras permanecem incubadas por um período que varia de três a quatorze dias, dependendo da quantidade de microrganismo ingerida e da virulência do tipo. Em seguida alcançam a corrente sangüínea. Dependendo do estado imunitário do animal, e devido à produção de anticorpos circulantes, as leptospiras deixam a corrente circulatória em direção ao fígado, baço, rins, trato reprodutivo, olhos e SNC. Estas bactérias podem permanecer nos rins e trato urinário, podendo ser eliminadas por semanas a meses, após a infecção (leptospirúria). Em bovinos, a leptospirúria pode persistir durante um período de 36 dias (10 a 118 dias), e o índice mais alto da excreção ocorre na primeira metade desse período.

A doença pode ocorrer tanto na forma aguda, como subaguda e crônica. Na forma aguda, o animal apresenta febre, hemoglobinúria, icterícia, anorexia, aborto e queda na produção do leite causada por uma mastite atípica, com o úbere podendo apresentar-se edematoso e flácido à palpação, e o leite torna-se amarelado ou sanguinolento, sinais clássicos da infecção pela sorovar hardjo. A forma subaguda difere da aguda só em grau, são também descritas diminuição na produção do leite, febre, leve icterícia e diminuição da ruminação. Na forma crônica, as alterações estão restritas à esfera reprodutiva, mais associada aos sorovares hardjo e pomona, culminando em abortos, geralmente no terço final da gestação, retenção de placenta, infertilidade, natimortos e morte fetal.

O estado de fertilidade do rebanho (índice de concepção a partir da primeira cobertura, número de coberturas por concepção em vacas prenhes, intervalo entre concepções e nascimento de bezerros) diminuem consideravelmente, principalmente durante o ano em que o diagnóstico foi feito.

O diagnóstico da leptospirose é dependente de uma boa história clínica, da vacinação, da disponibilidade de testes laboratoriais e de pessoal com experiência no diagnóstico da leptospirose.

No laboratório podem-se realizar provas específicas tanto bacteriológicas como sorológicas ou provas inespecíficas de natureza bioquímica. Algumas das provas laboratoriais que podem ser realizadas são:

  • Microscopia de campo escuro
  • Microscopia de fluorescência
  • Cultivo do espiroqueta
  • Soroaglutinação microscópica (SAM)
  • ELISA
  • PCR
  • Teste genômico de DNA

O principal objetivo do tratamento é o controle da infecção antes da instalação de danos irreparáveis no fígado e rins. De preferência, utilizar a dihidroestreptomicina ou alguma das tetraciclinas o mais rápido possível após o aparecimento dos sinais. No geral, os resultados do tratamento são desapontadores, porque na maioria dos casos os animais são avaliados apenas quando a septicemia já cedeu. O objetivo secundário do tratamento é o controle da leptospirúria dos animais “carreadores”,tornando-os seguros para continuarem no rebanho.

O tratamento com estreptomicina, 12 mg/kg, durante três dias, por via intra muscular  é eficaz no tratamento da forma aguda da doença. Para eliminar a infecção nos bovinos, recomenda-se a administração de uma única dose de 25 mg/kg de estreptomicina.

Se faz necessário o controle da leptospirose para prevenir a doença clínica, as perdas econômicas e minimizar o risco de infecção humana.

O controle depende da eliminação dos animais portadores da doença, de medidas higiênicas adequadas para evitar a propagação do processo infeccioso e da vacinação dos animais susceptíveis. A maioria das vacinas contém bacterinas inativadas por formalina com um ou mais sorotipos. Vacinas com adjuvante completo de Freund induzem a maior resposta sorológica, mas não necessariamente maior proteção. A resposta imune é específica ao sorotipo. Nos rebanhos fechados está indicada a vacinação anual de todos os bovinos com bacterinas apropriadas, ou duas vacinações anuais em rebanhos abertos. A vacinação deve começar com bezerros de quatro a seis meses de idade. As revacinações devem ser anuais.

Fontes: Clínica Veterinária. Um Tratado de Doenças dos Bovinos, Ovinos, Suínos, Caprinos e Eqüinos - RADOSTITS O.M., GAY C.C., BLOD D.C. et al. (Ed) 9. Rio de Janeiro :Guanabara Koogan, p. 874-887, 2002.

JUNQUEIRA, J.R.C.; ALFIERI, A.A. Falha da reprodução na pecuária bovina de corte com ênfase. para causa infecciosas. In: SEMINA: SIÊNCIAS AGRÁRIAS, 2, 2006, Londrina. Anais...Londrina: Semina: Ciências Agrárias, 2006. p.289-298.

http://www.biologico.sp.gov.br/artigos_ok.php?id_artigo=10

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