O menino e o velho

No conto “O menino e o velho”, do livro Invenção e memória, Lygia relata por meio da personagem-narradora, as observações que fizera em dias alternados, da misteriosa amizade entre um velho e um menino. Aquela amizade termina com a morte do senhor, enforcado pelo menino.

A narradora do conto descreve em três momentos a história dos dois personagens que conheceu sentados sempre em uma mesma mesa de um pequeno restaurante da praia.

O contato entre o velho e o menino chama a sua atenção. Numa primeira impressão, a narradora pensa que se trata de um avô com o neto, mas logo muda de idéia.

Analisa que há um contraste entre os dois. Aquele senhor vestia com simplicidade, mas tinha um estilo, e aquele menino era um encardido, de uma escola pobre qualquer, e possuía uma mochila velha. O menino teria treze ou catorze anos.

O garçom que atendeu a personagem-narradora, ao acompanhá-la até a porta, após passar pela mesa onde estavam o velho com o menino, comenta rapidamente que aquele senhor era um homem bom.

A narradora retornou àquele mesmo restaurante nas próximas duas ou três semanas e cruzou com os dois na mesma mesa. Agora o menino trajava roupas boas, tinha o cabelo bem cortado e uma mochila nova. E o senhor, como sempre, bem vestido.

Depois de alguns meses, a narradora ao voltar novamente ao restaurante, fica sabendo por meio do garçom amigo sobre o fim trágico daquela amizade misteriosa. Ele conta que o menino enforcou o velho com uma cordinha de náilon e fugiu e, mais uma vez, afirma que aquele senhor era um homem muito bom. O corpo nu e maltrado, fora encontrado na segunda-feira, pelo motorista. Estava morto desde o sábado.

A linguagem utilizada pela autora é simples e objetiva. As frases com letras iniciais maiúsculas dentro de outras frases mostram o fluxo das idéias e como se saíssem diretamente dos pensamentos e lembranças da narradora.

Lygia Fagundes Telles trata nos seus contos de tudo o que acontece em sua volta e em torno de todos nós, mas principalmente do que está no nosso interior, dos transtornos de que nós humanos somos herdeiros. A autora recolhe do cotidiano o material da vida e o transforma em símbolo de arte. O que escreve é como um registro de uma época.

Fontes: Cadernos de Literatura Brasileira. 1a. reimpressão, jan. 2002. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 1998. (n.05, mar. 1998). http://www.pactoaudiovisual.com.br

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