“O Retrato” é o 2º volume da obra “O Tempo e o Vento” do escritor gaúcho Érico Veríssimo.
A primeira parte da obra, “O Continente”, termina o relato no ano de 1895, durante um cerco da Revolução Federalista de 1895, na disputa entre os maragatos e os chimangos na cidade de Santa Fé, que também é uma luta pessoal entre as famílias rivais Terra-Cambará e Amaral.
As 4 partes de “O Retrato” (Rosa-dos-Ventos, Chantecler, A Sombra do Anjo e Uma Vela para o Negrinho) continuam com a histórias dos Terra-Cambará e o Sobrado de Santa Fé, mas trazem um novo Rodrigo Cambará, bisneto do capitão, e a história se passa na virada do século XIX para o século XX.
Rodrigo é formado em Medicina e volta para a pequena Santa Fé, que lentamente vai se modernizando, trazendo muitos ideais na sua cabeça. Embora seja mais acostumado com a vida na cidade, lentamente o instinto de Rodrigo vai se sobrepondo à “civilização” que adquiriu em Porto Alegre. Aos poucos, ele vai revelando sua semelhança com o bisavô, o gosto pela novidade, o espírito aventureiro e as mulheres, o homem gaúcho “tipo” caracterizado nas obras literárias.
A linguagem de Érico Veríssimo muda em sua narrativa de “O Retrato”, já que o épico é trocado pelo caráter psicológico. Santa Fé é vista pelo olhar de Rodrigo, diferente de seu irmão, Toríbio, que preocupa-se com o campo e com a estância. Destaca-se aqui a presença feminina maracante de Maria Valéria Terra que assume o papel de Bibiana, sendo a Madrinha, a Dinda, dos meninos que crescem à sua sombra, após a morte da mãe na tomada do Sobrado no último episódio de “O Continente”.
Mesmo com uma narrativa mais lenta, O Retrato não deixa de apresentar a marca histórica já proposta por Érico Veríssimo no volume anterior, já que temos com plano de fundo a República nascente no início do século XX, com toda a sua corrupção, as eleições cheias de falcatruas, grandes renomes políticos, enfim, um tempo em que se encontram fatos sociais interessantíssimos como a campanha civilista, o agitado governo de Hermes da Fonseca, os princípios da Primeira Guerra Mundial, o aparecimento do Cometa Halley, que muitos julgavam ser o prenúncio do fim do mundo, e, finalmente, o assassínio de Pinheiro Machado.
A explicação para o título do livro é esta: o retrato é uma pintura feita por um pintor de Rodrigo com vinte e quatro anos em que a própria personalidade de Rodrigo, junto com seu passado presente e futuro, parece transpirar.
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