Conto de Lygia Fagundes Telles, que faz parte da obra Invenção e Memória, Suicídio na granja é dividido em três tempos narrativos que são entrelaçados pela memória do narrador, a partir de um tema comum: o suicídio.
Assemelha-se a uma ficção autobiográfica, já que conta com uma “personagem-autor”, ou seja, são as recordações de Lygia quando criança, retomadas pelo protagonista do conto, e que apontam um retorno ao seu universo infantil. São memórias, mas que aparecem mescladas com fatos inventados pela autora. O narrador, em um tempo contemporâneo, reflete sobre a morte e o que leva uma pessoa a cometer o suicídio: “Alguns se justificam e se despedem através de cartas, telefonemas ou pequenos gestos [...] outros se vão no mais absoluto silêncio.”
Daí, estimulado pelas memórias, ele relembra sua infância que o levam a uma reflexão a respeito do suicídio, definindo-o como “chamado que vem lá das profundezas e se instala e prevalece”.
Dentre as recordações, a personagem lembra de sua infância na chácara, dos bichos, das roseiras, da felicidade de criança, ao mesmo tempo que lembra de um certo coronel que havia se suicidade colocando diversas pedras no bolso e pulando em um rio. Lembra também de seu pai lhe explicando que somente os seres humanos se matam.
Em seguida, lembra de um galo e um ganso que conviviam como amigos, e lhes atribui comportamentos e sentimentos humanos, quase como em uma fábula. Chega até mesmo a nomeá-los, o ganso de Platão, e o galo de Aristóteles. Aconteceu, pois, que o ganso foi cozido para o jantar, e alguns dias depois o galo amanheceu morto, contrariando, assim, a teoria do pai.
Estes fatos parecem ter marcado profundamente a protagonista, como se fossem seus primeiros contatos com situações de morte. Ela se utiliza destes fatos para ir filosofando a respeito do que levaria uma pessoa a tirar a própria vida.
A partir daí o texto vai elencando prováveis motivos para que uma pessoa se suicide, como por exemplo, a falta insuportável do outro, como foi o caso destes animais. A protagonista afirma, ainda, que depois deste episódio, nunca mais teria tido coragem de voltar àquela granja.
Fonte: Maria do Rosário Alves Pereira. ENTRE A LEMBRANÇA E O ESQUECIMENTO. ESTUDO DA MEMÓRIA NOS CONTOS DE LYGIA FAGUNDES TELLES. Belo Horizonte. Faculdade de Letras da UFMG 2008.
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