Escritor e integrante do movimento antimanicomial, Austregésilo Carrano Bueno nasceu em Curitiba, capital do Paraná, em 1957. No livro “O canto dos Malditos”, Austragésilo conta suas experiências nas instituições psiquiátricas pelas quais passou devido ao uso de drogas. Os relatos sobre o uso de eletrochoques como tratamento e as denúncias sobre as condições sub-humanas e outras violências sofridas pelos pacientes que viviam nos manicômios lhe garantiu visibilidade no cenário nacional.
Austregésilo foi internado pela primeira vez em 1974, aos 17 anos. Seu pai, ao descobrir um cigarro de maconha no bolso de um dos seus casacos, o levou a força até um dos grandes hospitais psiquiátricos da cidade de Curitiba. Somados, foram três anos internados em períodos distintos, em duas instituições psiquiátricas.
No livro “O canto dos Malditos”, publicado pela primeira vez em 1990, Austregésilo denuncia as torturas, maus-tratos e violências sofridas por pessoas internadas nos manicômios. A publicação do livro resultou em processos contra Carrano, movidos pelos médicos (e familiares) responsáveis pelas 21 sessões de Eletroconvulsoterapia as quais foi submetido.
Carrano vendia exemplares de seu livro em palestras, seminários, feiras e shoppings, já que este não era vendido em livrarias. Foi dessa forma, que o livro chegou às mãos da cineasta Laís Bodanszky, que contou a história de Carrano no filme “Bicho de Sete cabeças”, lançado em 2001.
Em 1998, Austregésilo deu entrada com uma ação Indenizatória por erro, tortura e crime psiquiátrico, sendo essa a primeira ação com esse teor na história forense do Brasil. No entanto, de vítima passou a réu, sendo condenado a pagar uma indenização de 60 mil reais aos médicos e familiares denunciados em seu livro.
Em 2002, o livro “O canto dos Malditos” teve sua venda proibida em todo o Brasil, sendo um dos poucos livros censurados e recolhidos após o fim da ditadura militar. Dois anos e meio depois, Austregésilo e seu advogado conseguiram a liberação do livro, que foi reeditado com a inclusão de um posfácio no qual Carrano acrescentou novas denuncias sobre o sistema psiquiátrico.
Em 2003, Austregésilo Carrano foi homenageado pelo então presidente Luis Inácio Lula da Silva, por sua luta no movimento antimanicomial.
Carrano publicou ainda o livro “Textos – Teatro”, e teve um de seus textos premiados na ECO 92, realizada no Rio de Janeiro.
Austregésilo Carrano faleceu aos 51 anos, no dia 27 de maio de 2008, em decorrência de um câncer no fígado.
Em 2009, o Ministério da Cultura criou o Prêmio Loucos pela diversidade, que em sua primeira edição recebeu o nome de Austregésilo Carrano. Também em 2009, um grupo de amigos de Carrano criou o “Prêmio Carrano de Luta Antimanicomial e Direitos Humanos”, que tem como objetivo dar continuidade a luta de Austregésilo Carrano por uma mudança nas condições de tratamento de pessoas com transtorno mental.
Referências:
REVISTA CAROS AMIGOS. Gato Seco – Nos Telhados da Loucura & Biblioteca Pública Alceu Amoroso Lima. Disponível em:
GRUPO TORTURA NUNCA MAIS. Austregésilo Carrano Bueno. Disponível em
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