Conspiração dos Iguais

No final do século XVIII, a Europa vivenciou alguns dos momentos de maior impacto de sua história. O principal fator que levou às intensas mudanças políticas, sociais e econômicas do período foi a Revolução Francesa, iniciada em 1789. Nesse contexto, a tomada da Bastilha em Paris, em julho do mesmo ano, marca, simbolicamente, a queda do Antigo Regime na França e o início de uma fase revolucionária que duraria dez anos.

Esse período, da queda do absolutismo francês à chegada de Napoleão Bonaparte ao poder, pode ser dividido em três fases principais: monarquia constitucional; convenção nacional; e Diretório.

A primeira fase foi marcada pela aprovação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) e da primeira Constituição da França (1791), enquanto a segunda fase foi marcada pela disputa entre três principais grupos políticos, os girondinos, os jacobinos e a planície, até o momento em que teve início o radical Período do Terror, liderado pelos jacobinos. Por fim, a fase do Diretório é marcada pela retomada do poder pelos girondinos e pela aprovação de uma nova Constituição (1795), que anulou conquistas obtidas anteriormente, devolvendo privilégios à burguesia.

A Conspiração dos Iguais, de 1796, ocorreu nesta última fase, e para melhor compreensão do movimento, é importante destacar outras características do governo do Diretório. Como mencionado, nesse período, especificamente em 1795, foi aprovada uma nova Constituição, a terceira desde o início da Revolução (as anteriores datam de 1791 e 1793). Nela, foi estabelecido o fim do voto universal masculino e implementado o voto censitário, provocando a insatisfação de grande parte da população francesa, proibida de votar.

Durante o governo do Diretório a França vivenciou uma crise econômica, gerando instabilidade e tentativas de derrubada do governo por diversos grupos, combatidos pelo exército, fortalecido por vitórias no exterior. É nesse cenário que o jovem general Napoleão Bonaparte se destaca, e que surge a Conspiração dos Iguais.

Liderado pelo jacobino radical e jornalista François Babeuf, nascido em 1760 e conhecido como Gracchus Babeuf, o movimento lutava pela igualdade entre todas as pessoas, em uma sociedade na qual a terra pertenceria a todas elas, ou seja, propunha o fim da propriedade privada.

François-Noël_Babeuf, 1794.

A conspiração pode ser vista como o primeiro movimento de caráter de fato revolucionário no contexto da Revolução Francesa e como precursora do movimento socialista moderno. Suas intencionalidades foram registradas no Manifesto dos Iguais, redigido por Babeuf em 1796. No texto, dirigido ao “povo da França”, há questionamentos, promessas e afirmações. A luta por igualdade é tema central e a Revolução Francesa é mencionada como antecessora de uma revolução mais intensa e defendida pelos Iguais:

Desde tempos imemoriais se vem repetindo hipocritamente: os homens são iguais. Mas desde há longo tempo que a desigualdade mais vil e mais monstruosa pesa insolentemente sobre o gênero humano. [...]

Todos somos iguais, não é verdade? [...] Pois bem, o que pretendemos é viver e morrer iguais já que como iguais nascemos: queremos a igualdade efetiva ou a morte. [...]

A Revolução Francesa não é mais do que a vanguarda de outra revolução maior e mais solene: a última revolução. [...]

Quais os sinais que nos permitem reconhecer as qualidades de uma Constituição? Aquela que se apóia integralmente sobre a igualdade é, na realidade, a única que te convém, a única que satisfaz as tuas aspirações (Babeuf, 1796).

No entanto, pouco depois de surgir, o movimento foi denunciado e esmagado pelo Diretório. Seus líderes foram presos ainda em 1796, e condenados à morte na guilhotina. Babeuf foi executado em 1797, mas a derrota da conspiração não significou seu fim definitivo, uma vez que inspirou movimentos posteriores na luta por uma sociedade igualitária.

Referências:

BABEUF, Gracchus. Manifesto dos Iguais, 1796. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/a_pdf/babeuf_manifesto_dos_iguais.pdf. Acesso em: 01 abr. 2019.

HARVEY, David. Paris, a capital da modernidade. São Paulo: Boitempo, 2015.

MARTINEZ, Luciano. Condutas antissindicais. São Paulo: Saraiva, 2013.

MELLO, Sérgio Cândido. Norberto Bobbio e o debate político contemporâneo. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2003.

SPINDEL, Arnaldo. O que é socialismo. São Paulo: Brasiliense, 1991.

VOVELLE, Michel. A Revolução Francesa explicada à minha neta. São Paulo: Editora Unesp, 2007.

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