Fernando Henrique Cardoso

Fernando Henrique Cardoso (1931- ) é um sociólogo, professor universitário, político e escritor brasileiro. Foi Ministro das Relações Exteriores e Ministro da Fazenda.

Foi presidente do Brasil por dois mandatos, de 1995 até 2002. Consolidou o Plano Real, estabeleceu reformas constitucionais, privatizou empresas estatais instituindo o neoliberalismo no país.

Biografia

Fernando Henrique Cardoso nasceu no Rio de Janeiro, no dia 18 de junho de 1931. Como o pai era militar, em 1934, mudou-se com a família para São Paulo. Em 1952 formou-se em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP).

Em 1953 casa-se com a antropóloga Ruth Cardoso e juntos tiveram três filhos. Nesse mesmo ano especializou-se em Sociologia, tornando-se doutor em 1961.

Antes de se graduar, foi professor da Faculdade de Economia da USP, graças ao sociólogo Florestan Fernandes, de quem se tornaria o primeiro assistente em 1955.

Fernando Henrique Cardoso

Além disso, foi também assistente do professor Roger Baptiste e analista de ensino da cadeira de Sociologia, da Faculdade de Filosofia da USP, em 1953.

Em 1954 foi eleito representante dos ex-alunos, tornando-se o mais jovem membro do Conselho Universitário da USP.

Em 1960 integrou a direção do Centro de Sociologia Industrial e do Trabalho (Cesit), fundado na USP. Cursou pós-graduação no Laboratoire de Sociologie Industrielle da Universidade de Paris em 1962 e 1963.

Em 1964, com Golpe Militar, Fernando Henrique, acusado de subversão, foi obrigado a se exilar, permanecendo três anos no Chile.

Ali, trabalhou na Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e no Instituto Latino Americano e Planejamento Econômico e Social (ILPES). Lecionou na Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (Flacso) e na Universidade do Chile.

Foi convidado para ensinar na França e se mudou em 1967 para Paris, onde lecionou na Universidade de Paris-Nanterre. Em 1968, de volta ao Brasil, conquistou a cátedra de Ciência Política na USP, retornando a carreira acadêmica.

Com o AI-5 seria aposentado compulsoriamente como professor da universidade aos 37 anos. Funda o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) que se tornaria uma fonte de resistência intelectual ao regime militar. Da mesma forma, leciona em várias universidades estrangeiras, pois estava impedido de fazê-lo no Brasil.

Em 1974, o líder da oposição, Ulysses Guimarães, o procura para elaborar o programa do MDB às eleições e mais tarde, o próprio Fernando Henrique concorreria a um cargo político.

VEJA TAMBÉM: Ditadura Militar no Brasil (1964-1985)

Carreira Política

Em 1978, Fernando Henrique Cardoso torna-se suplente de Franco Montoro, para o Senado, pelo MDB, com 1 milhão de votos.

Em 1983, com a eleição de Franco Montoro para o governo de São Paulo, Fernando Henrique assumiu como Senador. Nesse mesmo ano, torna-se articulador da campanha pelas “Diretas já”.

Fernando Henrique e Lula durante a campanha para o Senado, em 1978

Em 1985 perde as eleições para a prefeitura de São Paulo para Jânio Quadros. Em 1986 foi reeleito para o Senado e nesse mesmo ano fundou o Partido Social Democrático Brasileiro (PSDB).

O novo partido trazia membros do PMDB que eram mais afins às posições do centro que faziam críticas ao presidente José Sarney e não se identificavam mais com esta legenda.. Em 1988 foi membro da Assembleia Nacional que elaborou a Constituição.

Em 1992, no governo de Itamar Franco, ocupou a pasta das Relações Exteriores e um ano mais tarde foi nomeado Ministro da Fazenda.

Plano Real

Sua principal tarefa neste Ministério era conter a inflação e reorganizar a economia. Com um grupo de economistas elaborou um plano gradual de estabilização.

Em março de 1994 foi criada a Unidade Real de Valor (URV). Este era um indexador que passaria a corrigir diariamente preços, salários e serviços, como se fosse uma espécie de moeda.

Em 1.º de julho foi introduzida uma nova moeda, o real, com o valor de uma URV, equivalente a 2 750 cruzeiros, moeda que desapareceu. Com a introdução do real a inflação foi a níveis mínimos.

Fernando Henrique tornou-se candidato natural dos partidos do governo às eleições presidenciais. Baseando sua campanha no êxito do Plano Real, venceu as eleições no primeiro turno. O novo presidente assumiu o cargo em 1.º de janeiro de 1995.

Primeiro Mandato (1994-1998)

Além do Plano Real, o aspecto do programa de governo foi uma série de reformas constitucionais, consideradas essenciais para modernizar o país e garantir a estabilidade econômica.

Seu governo foi marcado pela quebra do monopólio estatal do petróleo, das telecomunicações e da energia elétrica e a privatização de estatais.

Várias dificuldades surgiram e somaram-se aos reflexos da crise asiática e da crise da Rússia. A saída do governo foi recorrer aos empréstimos e assessoria técnica do FMI.

Índice de Inflação

Reforma do Estado e Privatizações

O governo Fernando Henrique foi marcado pela reforma do funcionalismo público e pelas privatizações.

Com o fim de obter a redução de gastos estatais, FHC conseguiu terminar - em parte - com a estabilidade do serviço público. Assim, os governos estaduais foram obrigados a reduzir o número de empregados de suas agências.

Igualmente, liberou a contratação de serviços terceirizados por parte de empresas públicas e privadas, acabando com o emprego estável.

Quanto às privatizações, elas atingiram tanto às empresas estaduais quanto às federais. Bancos, empresas de eletricidade, ferrovias e telefonia foram privatizadas durante os oito anos de governo de FHC.

Valores das privatização na época de Fernando Henrique. Fonte: Folha de SP.

Segundo Mandato (1998-2002)

A fim de conseguir apoio para sua reeleição, em 1998, o PSDB mandou ao Congresso um projeto de lei que garantia a reeleição para os cargos do Executivo.

A lei foi aprovada e em meio quadro de crise econômica ocorreram as eleições de outubro de 1998. Com o êxito do combate à inflação, Fernando Henrique conseguiu reeleger-se.

Contudo, o desemprego e a inflação voltando a ameaçar o Brasil, o governo realiza novos acordos com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Este exige o controle do gasto público e aumento da produção como condição para novos empréstimos. Isto leva a criação da Lei de Responsabilidade Fiscal para estados e municípios

Apesar das várias crises externas que impactaram a economia brasileira durante os quatro anos do segundo governo e graças à continuidade do Plano Real, a inflação se manteve baixa.

Mesmo assim, os problemas históricos como a má distribuição de renda, desigualdade social e precariedade na saúde e na educação não foram resolvidos.

Por esta razão, em 2002, não conseguiu fazer o candidato do PSDB, José Serra, ganhar as eleições que foram vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva naquele ano.

Após a Presidência

Após o término do mandato, Fernando Henrique Cardoso não concorreu a nenhum cargo político, mas continua ativo dando entrevistas, publicando livros e participando de debates sobre a situação política brasileira. Tornou-se uma das vozes dissonantes do governo Lula criticando algumas decisões do seu governo.

A fim de preservar o legado do seu governo, criou em São Paulo o Instituto Fernando Henrique Cardoso, aberto a todos os interessados em conhecer mais sobre este período da história do Brasil.

Em 2008, falece a sua esposa Ruth Cardoso, o significou uma grande perda para o ex-presidente. Alguns anos mais tarde, em 2014, faria a união estável com uma ex-funcionária do seu Instituto, Patricia Kundrát.

Em 2013, tomou posse como acadêmico na Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de nº36 e lançou em 2017, o primeiro de uma série de livros chamados "Diários da Presidência" que abordarão sua estada como presidente da República.

Obras

  • Negros em Florianópolis: relações sociais e econômicas, 1955
  • Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional, 1962
  • Mudanças sociais na América Latina, 1969
  • Dependência e Desenvolvimento na América Latina (com Enzo Faletto), 1970
  • Política e desenvolvimento em sociedades dependentes, 1971
  • Empresário Industrial e desenvolvimento econômico no Brasil, 1972
  • O modelo político brasileiro: e outros ensaios, 1973
  • Autoritarismo e democratização, 1975
  • As ideias e seu lugar: ensaios sobre as teorias do desenvolvimento, 1980
  • A construção da democracia: estudos sobre política, 1993
  • Mãos à obra, Brasil: proposta de governo, 1994
  • Por um Brasil mais justo: ação social do governo, 1996
  • Política de defesa nacional, 1996
  • Desenvolvimento sustentável, mudança social e emprego, 1997
  • Avança Brasil: mais 4 anos de desenvolvimento para todos: proposta de governo, 1998
  • A outra face do presidente: discursos do senador Fernando Henrique Cardoso, 2000
  • Brasil 500 anos: futuro, presente, passado, 2000
  • A Arte da Política, 2006
  • Cartas a um Jovem Político, 2006
  • Cultura Das Transgressões No Brasil, 2008
  • Brasil Globalizado, 2008
  • América Latina: Governabilidade, globalização e políticas econômicas para além da crise, 2009
  • Relembrando o que Escrevi, 2010
  • Xadrez Internacional e Social-Democracia, 2010
  • A Soma e o Resto, 2011
  • O Improvável Presidente Do Brasil, 2013
  • Pensadores que Inventaram o Brasil, 2013
  • A miséria da Política, 2015
  • Diários da Presidência - 1995-1996, 2015

Leia mais:

  • Neoliberalismo no Brasil
  • Brasil República
  • Reforma Política Brasileira
  • Democracia no Brasil
  • Terceirização
  • O que é Sociologia?
  • Liberalismo Econômico
  • Mensalão
Juliana BezerraBacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.
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