O que é uma Revolução?

A palavra revolução, tradicionalmente, é muito utilizada nas Ciências Humanas e geralmente com grande conotação política. No entanto, a primeira vez que se acredita que o termo foi utilizado pela primeira vez no estudo da astronomia. Em 1543, Nicolau Copérnico publicou seu livro intitulado Das revoluções das esferas celestes.

Nesta obra, Copérnico quebrava a teoria do geocentrismo, em que a Terra era o centro do universo, e afirmava que ela era apenas mais um corpo celeste que revolucionava (ou girava) em torno do Sol, eis a ideia central da teoria heliocêntrica.

Folha de rosto da edição de 1566 da obra Das revoluções das esferas celestes (em latim: De Revolutionibus Orbium Coelestium), de Nicolau Copérnico.

Portanto, a palavra revolução surge com o sentido de algo que gira. De certa forma, esse sentido foi absorvido pelas Ciências Humanas, uma vez que uma revolução consiste em uma alteração radical da ordem estabelecida. Por exemplo, As Revoluções Inglesas do Século XVII (Revolução Puritana e a Revolução Gloriosa), balançaram a ordem política e econômica da Inglaterra, derrubando o absolutismo, em que o rei reinava soberano, e concedendo amplos poderes ao Parlamento em detrimento do poder real – como foi firmando no Bill of Rights (Declaração de Direitos) de 1689 –, assim como a burguesia amplia a sua participação na política.

Outros tradicionais processos revolucionários são a Revolução Industrial inglesa, em que há uma significativa transformação econômica, atribuindo este como o grande marco da transição de fase do capitalismo do mercantil para o industrial. Aqui, observa-se uma expressiva mudança no modo de produção, não apenas em função da mecanização, mas também porque a produção passa a ser em larga escala, diferentemente de antes. Já a Revolução Francesa de 1789, tem um percurso similar às Revoluções Inglesas, a burguesia francesa lidera um movimento que culminará com a queda do absolutismo e o estabelecimento de um governo republicano.

A Revolução Mexicana (1910), a Revolução Russa (1917), a Revolução Chinesa (1949), assim como a Revolução Cubana (1959) também são exemplos de importantes revoluções que ocorreram ao longo da História. Porém, é necessário ter cuidado com este termo que muitas vezes é empregado de forma incorreta.

A chamada Revolução de 1930, processo que culminou na ascensão de Getúlio Vargas no poder e marca o início da era Vargas (1930), embora seja classicamente chamada de revolução, esse processo, na verdade, foi um golpe de Estado. Embora exista a queda das oligarquias cafeicultoras do poder, o Brasil permanece um país capitalista, republicano e com um regime presidencialista – ainda que o presidente não tenha sido devidamente eleito, mas tomou o poder do vencedor.

Ainda que largamente empregada pelas Ciências Humanas com uma conotação política e social, um processo revolucionário não se limita a estes aspectos, ele pode estar ligado às ciências e tecnologia, à cultura, à religião, entre outros. O próprio Nicolau Copérnico é um dos grandes precursores daquilo que se convencionou chamar de Revolução Científica do Século XVII, protagonizada pelas teorias de Galileu Galilei e Johannes Kepler.

De acordo com o historiador Modesto Florenzano, a tradição de associar revoluções a alterações políticas inicia-se na Idade Moderna, quando a burguesia começa a ganhar o protagonismo neste cenário. Tanto que as grandes revoluções deste período são encabeçadas pelos burgueses.

Um outro conceito tradicionalmente atrelado ao termo em questão é a ideia de contrarrevolução. E tal como sugere a palavra consiste em um processo de oposição à revolução, por exemplo, quando Prússia, Rússia, Áustria e Inglaterra unem forças para lutar contra os exércitos revolucionários franceses. Naquele contexto, os estados absolutistas temiam que os ares revolucionário franceses impregnassem seus territórios e culminassem em outras revoluções. Ou ainda “autores como Clóvis Rossi chamaram o golpe de 1964 de falsa contrarrevolução” (Silva; Silva, 2009), uma vez que durante sua estadia no poder, os militares brasileiros, insistiam em chamar a tomada do poder em 1964 de revolução – também um exemplo do emprego incorreto do termo revolução com a conotação de abrandar o fato ocorrido.

Revolta é outro termo importante de distinguir de revolução. Ao contrário desta, uma revolta consiste em um descontentamento popular sobre algum ou alguns fatores, como exemplos tradicionais de revoltas temos a Inconfidência Mineira (1789), a Conjuração Baiana (1798), a Revoluta dos Malês (1835) e a inda a Revolução Praieira (1848), que a historiografia cunhou sob o termo de revolução, mas ao analisarmos os fatos, nota-se que se trata de mais uma revolta entre as elites pernambucanas.

Portanto, o que chamamos de revolução, de um modo quase consensual entre os especialistas, consiste em uma alteração radial – e geralmente abrupta – das estruturas vigentes.

Bibliografia:

FLORENZANO, Modesto. As revoluções burguesas. São Paulo: Brasiliense, 1998.

HOBSBAWM, Eric J. A Era das revoluções: Europa 1789-1848. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2007.

SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique, Revolução. In: Dicionário de conceitos históricos. São Paulo, Editora Contexto, 2009, p. 362-366.

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