10 exemplos de cordel para conhecer literatura popular

April 2023 0 4K Report

10 exemplos de cordel para conhecer literatura popular

window.sg_perf && performance.mark('img:visible'); Márcia Fernandes Professora licenciada em Letras

Os poemas da literatura de cordel são uma manifestação da cultura popular brasileira que surgiu no Nordeste. Escritos em linguagem popular, são ricos em rimas e na perfeição das métricas dos seus versos.

Confira esta seleção de poemas de cordel de temas variados e conheça um pouco sobre os seus autores.

1. A seca do Ceará, de Leandro Gomes de Barros

Seca as terras as folhas caem, Morre o gado sai o povo, O vento varre a campina, Rebenta a seca de novo; Cinco, seis mil emigrantes Flagelados retirantes Vagam mendigando o pão, Acabam-se os animais Ficando limpo os currais Onde houve a criação.

Não se vê uma folha verde Em todo aquele sertão Não há um ente d’aqueles Que mostre satisfação Os touros que nas fazendas Entravam em lutas tremendas, Hoje nem vão mais o campo É um sítio de amarguras Nem mais nas noites escuras Lampeja um só pirilampo.

(...)

Sobre o cordel: estas são as duas primeiras estrofes de "A seca do Ceará", cordel composto por 18 estrofes e que tem como tema a realidade da seca no sertão nordestino.

Sobre o autor: Leandro Gomes de Barros (1865 - 1918) era paraibano. Começou a escrever cordel com 24 anos e ganhou a sua vida com eles. Foi considerado o "rei dos poetas populares" do seu tempo.

Leia o cordel na íntegra em Domínio Público.

2. ABC do Nordeste, de Patativa do Assaré

A — Ai, como é duro viver nos Estados do Nordeste quando o nosso Pai Celeste não manda a nuvem chover. É bem triste a gente ver findar o mês de janeiro depois findar fevereiro e março também passar, sem o inverno começar no Nordeste brasileiro.

B — Berra o gado impaciente reclamando o verde pasto, desfigurado e arrasto, com o olhar de penitente; o fazendeiro, descrente, um jeito não pode dar, o sol ardente a queimar e o vento forte soprando, a gente fica pensando que o mundo vai se acabar.

C — Caminhando pelo espaço, como os trapos de um lençol, pras bandas do pôr do sol, as nuvens vão em fracasso: aqui e ali um pedaço vagando... sempre vagando, quem estiver reparando faz logo a comparação de umas pastas de algodão que o vento vai carregando.

D — De manhã, bem de manhã, vem da montanha um agouro de gargalhada e de choro da feia e triste cauã: um bando de ribançã pelo espaço a se perder, pra de fome não morrer, vai atrás de outro lugar, e ali só há de voltar, um dia, quando chover.

Sobre o cordel: estas são as quatro primeiras estrofes de "ABC do Nordeste", cordel composto por 24 estrofes. Cada uma delas começa com as 23 letras do antigo alfabeto, de A a Z, e tem mais uma estrofe que finaliza o cordel. Este poema tem como tema a dura realidade da seca e as suas consequências.

Sobre o autor: Antônio Gonçalves da Silva, conhecido como Patativa do Assaré (1909 - 2002) era cearesense. Considerado um dos maiores poetas populares brasileiros, aprendeu a ler com 12 anos e com 13, escreveu os seus primeiros versos.

3. Nas asas da leitura, de Costa Senna

Neste Cordel falarei sobre meu melhor amigo, que me ajuda a encontrar lazer, trabalho, abrigo. Desde meus primeiros anos, ele é parte dos meus planos e segue sempre comigo.

Leio livro em minha cama, em ônibus, metrô ou trem, em navio ou avião, ou mesmo esperando alguém. Leio para o povo ouvir. Leio para transmitir a riqueza que ele tem.

Sobre o cordel: este cordel fala sobre a leitura, tema ligado à educação, assim como muitos outros poemas deste autor.

Sobre o autor: Costa Senna é um cordelista do nosso tempo, além de cantor e ator. Cearesense, foi para São Paulo em 1990, levando com ele a literatura de cordel.

4. A greve dos bichos, de Severino Milanês da Silva

Muito antes do Dilúvio era o mundo diferente, os bichos todos falavam melhor do que muita gente e passavam boa vida, trabalhando honestamente.

O diretor dos Correios era o doutor Jaboty; o fiscal do litoral era o matreiro Siry, que tinha como ajudante o malandro Quaty.

O rato foi nomeado para chefe aduaneiro, fazendo muita "moamba" ganhando muito dinheiro, com Camundongo ordenança, vestido de marinheiro.

O Cachorro era cantor, gostava de serenata, andava muito cintado, de colete e de gravata, passava a noite na rua mais o Besouro e a Barata.

Sobre o cordel: estas são as quatro primeiras estrofes de "A greve dos bichos", cordel extenso composto por mais de 60 estrofes e que tem como tema o cotidiano do trabalho, mas feito por animais em vez de pessoas.

Sobre o autor: Severino Milanês da Silva (1906 - 1956/1967) era pernambucano e um poeta de gabinete, ou seja, não cantava os seus versos, apenas os escrevia. Sua obra mostra influência do cordelista Leandro Gomes de Barros.

5. A corrida da vida, de Bráulio Bessa

Na corrida dessa vida é preciso entender que você vai rastejar, que vai cair, vai sofrer e a vida vai lhe ensinar que se aprende a caminhar e só depois a correr.

A vida é uma corrida que não se corre sozinho. E vencer não é chegar, é aproveitar o caminho sentindo o cheiro das flores e aprendendo com as dores causadas por cada espinho.

Aprenda com cada dor, com cada decepção, com cada vez que alguém lhe partir o coração. O futuro é obscuro e às vezes é no escuro que se enxerga a direção.

(...)

Aí sim, lá na chegada, onde o fim é evidente, é que a gente percebe que foi tudo de repente, e aprende na despedida que o sentido da vida é sempre seguir em frente.

Sobre o cordel: estas são as três primeiras e a última estrofes de "A corrida da vida", cordel composto por 10 estrofes. Ele tem como tema a vida e a rapidez com que ela passa, motivo pelo qual precisa ser aproveitada.

Sobre o autor: Bráulio Bessa é cearense e nasceu em 1985. Fã do cordelista Patativa do Assaré, começou a escrever seus versos com 14 anos. Ficou muito conhecido no Brasil quando ganhou um quadro fixo num programa da rede Globo.

6. Redes sociais, de Bráulio Bessa

Lá nas redes sociais o mundo é bem diferente, dá pra ter milhões de amigos e mesmo assim ser carente. Tem like, a tal curtida, tem todo tipo de vida pra todo tipo de gente.

Tem gente que é tão feliz que a vontade é de excluir. Tem gente que você segue mas nunca vai lhe seguir. Tem gente que nem disfarça, diz que a vida só tem graça com mais gente pra assistir.

(...)

Mudou até a rotina de quem tá se alimentando. Se a comida for chique, vai logo fotografando. Porém, repare, meu povo: quando é feijão com ovo não vejo ninguém postando.

Sobre o cordel: estas são as duas primeiras e a quarta estrofes de "Redes sociais", cordel composto por 12 estrofes. Ele tem como tema as redes sociais e a vida de ilusão que ela pode trazer para alguns.

Sobre o autor: Bráulio Bessa é cearense e nasceu em 1985. Fã do cordelista Patativa do Assaré, começou a escrever seus versos com 14 anos. Ficou muito conhecido no Brasil quando ganhou um quadro fixo num programa da rede Globo.

7. Saias no cordel, de Dalinha Catunda

A mulher abriu caminhos Difíceis de percorrer Pôs os pés na estrada Pra demonstrar seu saber Foi bem grande sua luta Mas ficar sempre oculta Impossível conceber.

Durante muito tempo Fomos só inspiração Musa que os poetas Traziam no coração Sonhávamos ter um dia Nossa popular poesia Com farta publicação.

Não estou insinuando Que a mulher não atuava Ela já fazia seus versos Apenas não publicava Mostrava sua alegria Nas rodas de cantoria E aplauso conquistava.

(...)

Mas tudo modificou Hoje a coisa é diferente O cordel está em festa E a mulherada presente Homem agora é parceiro Até virou companheiro No cordel e no repente.

Sobre o cordel: o cordel "Saias no cordel" tem como tema o espaço da mulher na literatura de cordel.

Sobre o autor: Maria de Lourdes Aragão Catunda, conhecida como Dalinha Catunda (1952), nasceu no Ceará, mas foi para o Rio de Janeiro, onde começou a escrever poesia. Dalinha conquistou o seu lugar na literatura de cordel, abrindo espaço para outras mulheres cordelistas.

8. Entre o amor e a espada, de José Camelo de Neto Resende

O amor quando se alberga no peito do rico ou pobre se torna logo um guerreio com capacete de cobre e só obedece a honra porque a honra é mais nobre

Se o amor é soberano a honra é sua coroa portanto um amor sem honra é como um barco sem proa é como um rei destronado no mundo vagando a toa.

Sobre o cordel: o cordel "Entre o amor e a espada" tem como tema o amor, o sentimento mais frequente na poesia.

Sobre o autor: José Camelo de Neto Resende (1885 - 1964) era paraibano. Começou a escrever na década de 20 e seus poemas destacavam-se pela perfeição da métrica e das rimas. É considerado um dos maiores cordelistas brasileiros.

9. O Pequeno Príncipe em cordel, de Josué Limeira

Então recebi conselhos Pra não desenhar jiboias: — Dedique-se à geografia Ou até mesmo à história, Ao cálculo e à gramática, Deixe dessa paranoia.

Escolhi uma profissão E fuim enfim, pilotar. Descobri no avião Que meu sonho era var. A geografia me ajudou A saber onde pousar.

Eu consigo, num relance Distinguir a antiga China. Ao var no Arizona Sua beleza me fascina. Ser piloto é um sonho Que minha vida ilumina.

Sobre o cordel: estas são algumas estrofes do livro O Pequeno Príncipe em Cordel, uma transposição do clássico da literatura, O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry.

Sobre o autor: José Limeira nasceu em 1965 em Recife e é formado em Gestão de TI. Com o livro O Pequeno Príncipe em Cordel foi finalista do Prêmio Jabuti em 2016.

10. Amor de uma estudante ou O poder da inteligência, de João Martins de Athayde

A beleza e o amor tem poder absoluto, na terra todo mortal cada qual rende o seu culto pagando a estes dois Deuses, um verdadeiro tributo.

Mas as vezes a beleza cem sua soberania, perde ante a inteligencia a sua supremacia: fica o amor vacilando, nesta tremenda porfia

Leitores a inteligencia enaltece todo ser inda sendo um pestilento todo mundo quer lhe ver pois o maior dos tesouros, é o que se chama saber.

Sobre o cordel: o cordel "Amor de uma estudante" ou "O poder da inteligência" tem como tema o gosto pelo conhecimento.

Sobre o autor: João Martins de Athayde (1880 - 1959) era paraibano. Com 18 anos, publicou o seu primeiro folheto. Foi um admirador de Leandro Gomes de Barros.

Leia também: Literatura de Cordel: o que é, origem, características e poemas

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FERNANDES, Márcia. 10 exemplos de cordel para conhecer literatura popular. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/exemplos-de-cordel/. Acesso em:

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