Narrador heterodiegético

O narrador heterodiegético é conhecido por não participar da história, isto é, por não fazer parte do universo narrativo, apenas contando o que acontece. Assim sendo, ele pode ser considerado uma espécie de narrador “apagado”.

A presença desse narrador pode ser encontrada na obra Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, no seguinte trecho:

“Os parabéns que Miss Bingley mandou para o irmão pelo casamento próximo foram tudo o que havia de mais afetuoso e insincero”.

1. Como é classificado este tipo de narrador

De acordo com os estudos de Gerard Genette, crítico literário francês, o tipo do narrador heterodiegético é aquele que aparece em terceira pessoa, pois não participa do evento narrado, não é um personagem em si na história.

Seu principal objetivo é mediar as narrativas de fora, apenas contando os fatos como aconteceram.

2. Foco narrativo

Antes de exemplificar e concluir o entendimento desse tipo de narrador, é interessante perceber o foco narrativo da obra. Tão importante quanto identificar o tipo de narrador por trás da história, é identificar o seu foco narrativo.

O foco narrativo nada mais é do que a perspectiva do narrador diante daquilo que ele é capaz de narrar. Ele deve criar uma relação comunicativa entre o narrador e o público. É a “voz” que o leitor ouve.

Logo, esse tipo de narrador, que não participa, só narra a história, não tem onisciência, limitando-se assim a adentrar no interior dos personagens.

Como explica Jean Pouillon, em O Tempo no Romance (1974): após apresentar as perspectivas do narrador, onde uma delas é a “visão por fora”, entende-se que o narrador heterodiegético se encaixa aí. Conhecido como “narrador observador”.

Conforme dito anteriormente, na visão de fora, ou focalização externa, a perspectiva do narrador é, como o próprio nome já diz, externa.

3. Exemplos do narrador em obras

Podemos identificar de forma mais clara o narrador heterodiegético, na obra Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século (2000), onde Ivan Ângelo, cronista, jornalista e romancista brasileiro, contribui com seus conhecimentos literários com o conto “Bar”:

“A moça constatou contrariada que havia desperdiçado a primeira carga de charme e mostrou novamente seus pequeninos dentes, agora fazendo a precisadinha urgente, dizendo eu posso telefonar? com ar de quem entrega ao outro todas as esperanças.”

Em Os Assassinos, conto de Ernest Hemingway também é possível identificar:

“- O que vão pedir? – perguntou-lhes George. – Não sei. – disse um deles -. O que quer comer, Al?” – Como vou saber? – respondeu Al – Não sei.”

Nos trechos acima, é possível identificar que o narrador em questão não participa da história como personagem, mas sim como um observador. Ele basicamente descreve a situação para o leitor mergulhar de vez no processo narrativo, mas ao mesmo tempo deixa claro que não é ele, o narrador, que está vivendo aquele momento.

4. Como contar uma história

Genette então estabelece uma espécie de “quadro”, quando explica sobre as narrativas. Ele diz em seu discurso que a escolha do escritor não é feita entre duas formas gramaticais, mas sim entre duas atitudes narrativas: fazer contar a história por um dos personagens ou por um narrador estranho a história.

As formas gramaticais, nesse caso, seriam uma consequência mecânica. Logo, o tipo do narrador heterodiegético aparece, nesse caso descrevendo a segunda opção.

Na recorrência do seu trabalho, Genette também explica sobre a focalização, já citada anteriormente. A focalização é literalmente o conhecimento que o leitor tem sobre a história e quem passa essa informação é o narrador. É dele que vem todos os pontos e detalhes para criar o elo entre a narrativa e o leitor.

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