Sintaticização

O que é a sintaticização

Segundo os estudiosos que defendem que a gramática está em constante mudança por motivações da dinâmica da comunicação, as estruturas discurso-pragmáticas mais flexíveis transformam-se em estruturas sintáticas gramaticalizadas estáveis.

Esse processo geral de mudança pode ser resultado de gramatização, sendo que nela há processos interiores e um deles é a sintaticização.

Sendo que essa sintaticização designa as alterações que afetam os arranjos sintagmáticos e sentenciais. Ou seja, é a criação de novas combinações de elementos em uma sentença por decorrência da necessidade dos falantes.

Ocorrências de sintaticização

Assim como a maioria dos processos que envolvem a gramaticalização, a sintaticização ocorre, principalmente, na dinâmica da fala. Ou seja, as construções inovadoras surgem durante os diálogos.

Essas inovações podem ser observadas em diálogos curtos ou em relatos, principalmente orais, mais longos.

Apesar de ser uma característica marcante da fala, a sintaticização pode ocorrer também na escrita. Porém, há uma linha tênue entre o que vem a ser aceito e, assim, cristalizado pela sociedade e o que é sumariamente rejeitado como erro.

Independente do caso, toda mudança linguística ocorre de maneira gradual e se estabelece no decorrer da língua pelos séculos. Por isso, uma construção considerada como um erro hoje pode ser oficializada em algum momento distante.

Exemplos de sintaticização na língua são:

Inversão da ordem lógica das sentenças, ou seja, Sujeito + Predicado

A ordem estabelecida como canônica na língua é a que o sujeito aparece antes de seu predicado. No entanto, dependendo da intenção do falante, essa ordem pode ser invertida:

(1) Como moro longe do emprego, eu acordo muito cedo.

Nesse caso uma parte do predicado foi deslocado para antes do sujeito “eu”. Esse deslocamento é marcado com a vírgula e direciona a justificativa do sujeito acordar “muito cedo”.

Essa inversão provoca direcionamento de foco para o elemento que o falante deseja destacar.

Repetição de vocábulos

No contexto oral é muito comum que o falante repita várias vezes uma informação, ou uma referência da informação, por exemplo:

(2) Quando eu fui no mercado eu comprei uma dúzia de laranjas... Com essas laranjas eu quero fazer um suco de laranja, porque eu ouvi de uma médica que essa fruta é boa para... para desintoxicar e, por isso, eu comprei laranjas.

A princípio essa fala pode parecer fora da realidade, pois, só a palavra “laranjas”, ou sua referência semântica, aparece cinco vezes.

No entanto, se considerarmos que durante uma conversa as construções sintáticas e argumentos são simultâneos a fala, concluímos que tal redundância é normal.

Além disso, essas repetições podem, a depender do contexto, serem usadas com a função de apontar uma sequência de ações ou um reforço de afirmações positivas e/ou negativas.

Ausência de preposições que regem verbos

As preposições são extremamente importantes para a interpretação e organização lógica de uma sentença, por exemplo:

(3) Eu estava na casa em que morava o João.

Quem mora, mora em algum lugar, ou seja, a proposição “em” rege o verbo “morar” e por isso deve aparecer antes dele.

No entanto, podemos observar na fala informal sentenças como:

(4) Eu estava na casa que morava o João.

Frases fragmentadas

A fragmentação de frases em decorrência da ausência das conjunções acontece devido a simultaneidade da organização do pensamento e a fala.

Por exemplo:

(5) Liguei no banco. Ninguém atendeu.

Nessa sentença é esperado a marcação de um conector com valor adversativo, como “no entanto”, “porém”, mas, pela dinâmica da fala, há apagamento dele.

Concluindo

A partir do que vimos, concluímos que a sintaticização é a criação de novas estruturas e combinações em uma sentença em virtude do contexto comunicativo dos falantes.

Referências bibliográficas:

FERNANDES, Flávia Orci. Sintaticização e semanticização das construções andar, continuar, ficar, viver + gerúndio na história do português paulista = Sintaticization and semanticization of the verbal periphrasis andar, continuar, ficar, viver + gerund in the history of Paulista Portuguese. 2012. 150 p. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem., Campinas, SP. Disponível em: . Acesso em: 18 de janeiro de 2021.

FORTUNATO, Isabella Venceslau. Universidade Federal da Bahia – FAPESB. Gramaticalização e lexicalização das lexias complexas no português arcaico. Disponível em: . Acesso em: 18 de janeiro de 2021.

https://www.daaula.net/2016/11/sintaticizacao.html

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