O morfologização é um dos subprocessos da gramaticalização. Esta última, por sua vez, segundo os linguistas, pode ser dividida em três subprocessos que ocorrem de maneira simultânea e sem hierarquia.
Apesar de fazer parte do processo, nem todo caso de morfologização pressupõe um processo de gramaticalização.
Isso acontece, pois, a passagem de uma estrutura sintática para o nível lexical, por exemplo, não implica, necessariamente, uma mudança do estatuto lexical para outro gramatical ou de um estatuto menos gramatical para outro mais gramatical.
De maneira resumida, o processo de morfologização diz respeito a ação de alterar a constituição de determinada palavra ou expressão com o intuito de criar novas palavras. Essas palavras, por sua vez, são objetos de estudo da morfologia.
A aglutinação da preposição “em + a” (na) é observada no lugar da crase em sentenças e, com isso, antepondo-se o local a que se vai:
- “Fui até lá na escola pedir o meu histórico escolar”
Aglutinação “na” substituindo a locução prepositiva:
- “Eu fiquei irritada na hora em que ele começou a falar”.
Para indicar a retomada a um lugar físico a gramática indica o uso do pronome relativo “onde”, já a palavra “aonde” indica a ideia de movimento:
- “Comece a procura por onde você viu pela última vez”;
- “Aonde eu vou não há tristeza”.
No entanto, em situações de conversação, ocorre a morfologização com o intuito de fazer referência a um objeto:
- “Este é o contrato, aonde foi estabelecido que eu sou a dona prioritária dessa empresa”.
A gramática determina que é preciso usar o advérbio para indicar situações em que ocorre uma ação verbal:
- “Maria falou suavemente”.
Porém, em situações informais há uma morfologização em que um adjetivo é usado na do lugar do advérbio, com isso, é retirado o sufixo designador de “modo”, “mente” da construção:
- “Ela fala suave”.
Durante a fala, os falantes podem acabar por substituir a forma do verbo imperativo por uma forma do indicativo, porém, buscando manter a mesma ideia:
- “Fale o alfabeto árabe”;
- “Fala o alfabeto árabe” (morfologização do verbo).
A palavra “gente” pode ser usada no sentido de “homem” ou de “ser humano”, quando isso acontece os elementos que se referem a palavra que, originalmente, é feminina são flexionadas no masculino:
- “A gente foi chamado na recepção do hotel”.
Aqui o item “chamado” aparece como masculino, mesmo que o substantivo seja feminino.
- “A gente não tinha que ser desclassificado”.
Nesse caso, a palavra “desclassificado”, que se refere a “gente”, aparece conjugada no masculino, o que mostra que a relação estabelecida aqui é com a ideia de “ser humano” e não com o substantivo feminino.
A partir do que foi apresentado, vimos que a morfologização é um processo pelo qual palavras podem ser criadas tendo por base unidades linguísticas pré-existentes.
O que motiva o processo dessas criações e a dinamicidade da língua, o que, além de motivar, permite essas mudanças.
Essas novas palavras passam a ser usadas em contextos formais e informais da comunicação de todos os falantes.
Por fim, esse é um processo comum a todas as línguas.
Referência:
FORTUNATO, Isabella Venceslau. Universidade Federal da Bahia – FAPESB. Gramaticalização elexicalização das lexias complexas no português arcaico. Disponível em: Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/linguistica/morfologizacao/
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