Publicado por Bernardo Guimarães em 1875, o romance “A Escrava Isaura” toma como assunto o drama de uma escrava aparentemente branca, educada e muito bonita, numa época em que começava a se levantar questões sobre os “abomináveis e hediondos” crimes da escravidão e o rebaixamento da pessoa humana em função de sua raça e classe social.
Apesar de tratar de um grave problema social e humano, a escravidão negra no Brasil, o tema principal que sustenta a narrativa são os sofrimentos em função do amor: o amor da infeliz escrava impedida de amar a quem desejasse; o amor egoísta do seu senhor, que se achava não só dono de suas vontades, mas também dono dos seus sentimentos.
Isaura constitui o vértice de um triângulo de amor e ódio, em que se defrontam: Leôncio, brutal escravocrata – o vilão e Álvaro, honrado e sincero abolicionista – o herói. A trama segue o esquematismo da narrativa romântica: o vilão é o obstáculo que separa o herói da heroína e que precisa ser superado para que se tenha um final feliz.
Ao descrever os personagens, o narrador o faz de maneira a associar seus traços fisionômicos à conduta social. Assim, não é difícil prever o final do romance: o bem se sobrepondo ao mal conduzirá decisivamente a história ao fim que se espera – a união de Isaura e Álvaro. O obstáculo maior é o fato de Isaura ser legítima propriedade de Leôncio. Mas isso não impede Álvaro de ir à luta. Ele descobre a falência de Leôncio, compra-lhe todos os bens, inclusive os escravos. Assim, nada mais o separa de Isaura, a quem oferece a mão de esposo, desafiando a sociedade escravocrata da época.
Álvaro é rico, por isso tem o “poder” de desafiar essa sociedade. É essa a idéia que transparece no discurso bastante lúcido do Dr. Geraldo, quando lhe afirma: “És rico, Álvaro, e a riqueza te dá bastante independência, para poderes satisfazer os teus sonhos filantrópicos e os caprichos de tua imaginação romanesca”. Sabe-se perfeitamente que essa verdade não se restringe apenas àquela época.
Isaura é, durante toda a narrativa, a escrava submissa que sabe reconhecer o seu lugar. Ela suporta resignada e dócil as investidas de Henrique, a perseguição de Leôncio, as desconfianças de Malvina, sem nunca se revoltar, nem deixar de ser emocionalmente escrava, mesmo tendo recebido uma educação que excedia a das ilustres damas da época.
O sucesso desse romance rendeu a Isaura fama internacional, já que sua foi história adaptada para a televisão e divulgada em diversos países da América, Europa e até da Ásia, fascinando milhões de telespectadores.
Fontes FONSECA, Maria Nazareth Soares. Fada? Anjo? Deusa? Escrava. In: Bernardo Guimarães – A Escrava Isaura. 27 ed. São Paulo, Ática, 1998.
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