Tendo seu início no século VIII, a conquista muçulmana da península Ibérica (futuramente os territórios modernos de Portugal e Espanha) é intimamente relacionada à queda do império romano do ocidente. Com seu último governante deposto em 476, os antigos domínios de Roma tornaram-se vulneráveis às invasões dos povos germânicos, que se estabeleceriam nas regiões conquistadas e se converteriam ao cristianismo. Após a morte em 632 do fundador do islamismo, o profeta Maomé, os domínios muçulmanos também conheceram uma significativa expansão a partir da Ásia. No caso, os muçulmanos procuravam não apenas expandir sua fé ao converter outros povos, mas também conquistar novas terras e riquezas. Após dominar o norte da África, eles chegaram à Península Ibérica em 711.
Embora houvesse vários pequenos reinos na região, parte expressiva do território ibérico era dominada pelos visigodos. Este povo tinha um sistema de monarquia eletiva, aclamando um novo monarca quando o anterior falecia. E era isso que acontecia em 710, quando morreu o monarca Vitiza. Em meio ao processo de eleição de um novo soberano, o filho de um antigo rei, Roderic, dominou a parte sul do reino em meio a um golpe de estado; a parte norte ficou sob o controle do filho de Vitiza, Ágila. Procurando recuperar o território perdido, Ágila pediu auxílio aos senhores do norte da África, os muçulmanos, que concordariam. Liderados pelo general Tarik ibn Ziyad, soldados atravessaram o estreito de Gibraltar de barco; em 31 de julho de 711, ocorreria a batalha de Guadalete (também conhecida como batalha de Gradibeca), quando o exército muçulmano derrotou as forças de Roderic, morto em combate. Tarik ibn Ziyad ainda tomaria as cidades de Córdoba e Toledo antes de receber reforços do governador, que possibilitariam conquistar pouco a pouco parte esmagadora da província, incluindo as terras dos visigodos. Aproximadamente na década de 750, toda a região – com exceção do reino de Astúrias ao norte, que expulsaria os invasores em definitivo para o sul em 754 – estaria sob controle islâmico no chamado Califado Omíada.
Em breve, porém, lutas internas entre os muçulmanos ibéricos enfraqueceram o califado, que passou a sofrer ataques dos reinos cristãos ao seu redor. Em 1139, a grande vitória na batalha de Ouriques pelo futuro rei português D. Afonso I iniciou uma série de derrotas islâmicas, numa tendência que fortificaria a Reconquista cristã. Embora o domínio muçulmano na Península Ibérica eventualmente chegasse ao fim com a queda do reino de Granada perante Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão, as contribuições culturais dos invasores persistiram pelos séculos, mesmo com a aplicação da chamada ‘política da terra arrasada’ pelos cristãos no decorrer da retomada dos territórios. Além de possibilitarem diversas inovações nas áreas de matemática, medicina e astronomia, os conhecimentos islâmicos da bússola e do astrolábio seriam mais tarde fundamentais para as Grandes Navegações. Além disso, os muçulmanos introduziram na Península Ibérica o conhecimento da fabricação da pólvora e do papel, e novas culturas como a laranjeira e a amendoeira. Centenas de palavras utilizadas hoje nas línguas portuguesa e espanhola também tem origem árabe, como, por exemplo, açúcar, alcachofra, azeitona, tapete, masmorra e almirante.
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