Entre a Ciência e Sapiência

ENTRE A CIÊNCIA E SAPIÊNCIA (Rubem Alves)

“O que é científico?” (I)

O texto contempla uma dialética muito interessante entre duas pessoas buscando respostas ao que é aceito ou não pela ciência. Para tanto utiliza um conto indígena explanando o assunto “o diferente”, o homem em seu contexto não aceita “o diferente”. Principalmente por só acreditar no palpável ou comprobatório. Em que não se deve ter nenhum tipo de mudança, quando mais estático melhor, o dinâmico é inaceitável. O científico comprova suas teorias com estudos concretos e reais, enquanto o escritor é um sonhador, ou melhor explicando, escreve através de suas experiências, logo não é aceito pelo científico. O cientista busca respostas fazendo experiências com a realidade.

O conhecimento não está somente na linha de raciocínio, é algo amplo e constantemente está em transformação, pois o que é certo hoje amanhã pode não ser, ou ter outra explicação. As linhas de raciocínio podem ser diferenciadas? Sim, cada qual com o seu devido valor, para poderem em um dado momento dialogizar e tirar o melhor dos diferentes raciocínios, pois o tal do “pior” não tem existência de fato. Em todo conhecimento propõem-se uma parte valorativa. É vitupério afirmar tudo está acabado, principalmente quando se trata do conhecimento.

“O que é científico?” (II)

Rubem Alves expõe o seu ponto de vista sobre o científico fazendo uma analogia entre o estômago e a mente. Inicialmente e aparentemente parece ser qualquer estômago, porém no decorrer do texto o estômago mais viável para tanto é o da vaca. A comparação do estômago com a mente transcorre por todo o texto, já que o estômago processa uma variedade de substâncias para finalmente tirar o melhor, o necessário. A mente também é bombardeada por uma infinidade e diferentes informações, podendo este selecionar o que é propício e enriquecedor ao conhecimento.

Buscar um paralelo entre o concreto e o abstrato do ponto de vista da analogia é extremamente produtivo. Isso também deverá ser ponto de reflexão no âmbito educacional. O texto mostra diferentes tipos de estômagos e logo diferentes tipos de mentes, com capacidades em diferentes áreas individualmente ou simultaneamente. Toda esta dialética com o objetivo de mostrar que a ciência é um tipo de estômago possível, porém não é obrigatoriamente o principal. Não se pode ter uma única visão ou um único saber. A ciência tem a sua visão, mas não poderá ou taxará como única detentora do saber.

“O que é científico?” (III)

O texto faz uma breve apresentação sobre a filosofia. Deixa claro os pormenores da filosofia. Filosofia não é passar idéias já existentes, é conseguir formular as suas próprias. A filosofia tem seus ideais amplos, por isso encontra-se nas imagens, na música, no cotidiano, nos livros, na educação, na política, ou seja, onde houver conhecimento, onde tiver espaço para ser explorado o saber. Filosofar é estar atento a tudo a que acontece no seu meio extrínseco e intrínseco. Observar com o olho crítico e ouvir de forma reflexiva e na medida do possível transformar o meio.

Como o autor afirma que são nas pequenas atividades e situações que montam as partes e regras do ato de filosofar, de maneira que ocorre diariamente e acabamos deixar despercebidos.

Lembrou-me um exemplo muito claro de se burla a lei, é exatamente o que faz os advogados procuram brechas na lei, ou melhor, “burlam” a lei para trabalhar a favor de seus clientes. Sempre que possível “burlar” as regras para se atingir um objetivo. Já na educação atual, o professor precisa estar atento ao que é cobrado pelo sistema educacional e encontrar meios sempre que se fizer necessário para “burla” o tipo de educação tradicional, principalmente a calcada somente na prática da gramática. A Língua Portuguesa não pode ser só direcionada a “gramatiquice”, existe um vasto campo na Língua Portuguesa como: literatura, interpretação textual, redação, poesia, criação produtiva e lingüística.

O conhecimento científico deve caminhar paralelamente ao conhecimento artístico, cotidiano, literário, filosófico, psicológico, no qual pequenos atos e reflexões são muito importantes.

“O que é científico?” (IV)

As palavras chaves para o texto lido são: cientistas, filósofo da ciência, regras, linguagem, realidade, hipótese e ciência.

O ser humano no decorrer de sua curta vida especializa-se em alguma área, seja humana ou exata. Os cientistas especializam-se nas áreas exatas, logo buscam criar, descobrir, explicar e comprovar tudo. E o que não é explicado ou comprovado? Acaba sendo estereotipado como “não sendo científico”. Surgindo até um preconceito em relação às áreas humanas. Quando se trata da linguagem é algo que não se pode ser medido, contado, testado. Ocorre de forma espontânea, então não é aceito pela ciência, porém existe de fato.

A ciência procura por uma constante verdade, contudo esta verdade pode se encontrar em uma área do conhecimento e outra não. Sem sombra de dúvida o que é verdade para a ciência pode do ponto de vista da filosofia, sociologia não ser. Nada é falho de erro. O que é uma regra dentro da ciência, não é utilizado como regra dentro da psicologia. Poderá a psicologia buscar respostas divergentes da ciência, não podendo ser entendida como totalmente certa ou errada, depende do ponto de vista de cada pessoa, da linha de raciocínio de quem está empreendendo.

“O que é científico?” (V)

Já de início as palavras de Rubem Alves me fazem lembrar Paulo Freire afirmando que um bom professor é um mediador e como tal pode assumir em vários momentos a função de aprendiz. Para Paulo Freire as experiências são válidas e logo o professor aprende com as experiências do educando.

Quando o ser humano assume o papel de único detentor do saber, acaba fechando-se em uma redoma em que apenas um único conhecimento tem espaço na redoma, também chamado de conhecimento egocêntrico. Colocando-se em uma situação na qual mantenha relações apenas com o próximo que tenha o mesmo interesse que o dele. A opinião divergente da dele é podada, aniquilada ou inválida.

É ingênuo acreditar que existe uma única verdade ou que ela é unívoca. Até porque o ser humano está em constante mudança, logo o conhecimento e verdades estão em constantes transformações, em constante aprimoramento. As convicções e dogmas acabam intitulados como esdrúxulos, pois permeia o exagero de quem as manipulam. Os dogmas podem ser fonte de desprazer, principalmente quando impossibilita a inteligente de fluir, ou em poucas palavras estaciona a inteligência.

“O que é científico?” (VI)

A ciência quando não utilizada como um dogma, certamente tem seu valor dentro das revoluções para melhorar a vida em sociedade. Mas quando utilizada como único saber transforma-se em uma doença, em uma única existência. O texto vai exemplificar de forma bem clara situações reais e cotidianas da existência de dogmas. De achar somente uma única visão, usando esta como certa, incondicionalmente.

Fazendo-se uma analogia entre acontecimentos do dia-a-dia, ao mau uso das idéias da ciência. Um bom exemplo disso no texto é a história do jogador de xadrez, que transformou literalmente o seu conhecimento em dogma, não usando produtivamente o conhecimento que tinha. Utilizava o xadrez como um direcionamento para a sua vida, sem se alertar de outros conhecimentos. Como o texto afirma: a vida é uma rede de vários jogos, não se sabe qual é o melhor. Enquanto o nosso jogador só se especializou no jogo do xadrez.

Afirma o autor que a ciência é um só jogo, com regras preestabelecidas e predefinidas, excluindo qualquer outro jogo ou regra. Os cientistas que fazem parte dessas regras buscam anos a fio um tipo de conhecimento, o que pode ser chamado de especialização, porém somente em sua área. Não afirmo ser errado uma especialização em sua própria área, porém observar-se-á que terá outras linhas de raciocínio e terá o seu valor.

“O que é científico?” (VII)

A ciência preocupa-se em planejar no caso do arquiteto, trabalhar o espaço físico, precisa ainda da matemática, da química para ficar uma construção física completa. Em relação à construção não há uma preocupação de âmbito emocional, no qual o indivíduo vai se sentir bem ou mal. Se o objeto é de prazer ou dor. A ciência não se preocupa com estes que são considerados pormenores.

O “eu” do ser humano não é tratado dentro da ciência, na verdade nem existe para a ciência. A ciência trata e estuda as partes físicas, mas não engloba as partes psicológica, humana, espiritual, pensamento e memórias. São áreas que em conjunto formam o ser humano.

A ciência preocupa-se em tornar a vida do homem mais produtiva, versátil e confortável. Mas não se preocupa com as relações do homem com os objetos criados. Isso fica claro quando o autor exemplifica a criação de diversas tintas, contudo não subjetiva a relação do homem com a tinta. Mostra a praticidade da tinta na vida do homem, entretanto não transcorrem os sentimentos que provocam no homem. Quando tratei nas entre linhas sobre produtiva, versátil e confortável não tem nenhuma ligação se vai trazer sofrimento ou felicidade. É o caso do objeto ser cômodo sem estar diretamente ligado aos sentimentos.

“O que é científico?” (VIII)

O texto vê-se fazendo uma explanação sobre pianos do ponto de vista físico, fala sobre os melhores, como são feitos, medidos calculadamente, testado. Os pianos são produzidos iguais e quantitativamente. Há uma preocupação com números.

Ouvir a música que saí do piano para os cientistas é buscar aprimorar a parte física, enquanto para o pianista e demais ouvintes é a sensação do prazer. Como Freud já afirmava o homem é um ser promovido de desejo e este desejo move uma boa parte das pessoas a irem até um concerto, sentir prazer. O texto afirma que o desejo do prazer move o mundo. E o desejo nada mais é que de cunho qualitativo. A parte chamada de qualitativa não é bem aceita pela ciência, pois só se vale a parte quantitativa. A qualitativa pode aparecer de diferentes formas no ser humano, de modo que uns vão gostar e outros não. É exatamente o que a ciência não poderá medir o “gostar” ou o “não gostar”, logo tem como resposta “isso não é científico”.

FontesALVES, Rubem. Entre a Ciência e Sapiência.

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