Linguagem e Escola: uma perspectiva social

Magda Soares, professora da Universidade Federal de Minas Gerais, analisa neste livro as três teorias que justificam o fracasso escolar no Brasil: a teoria da deficiência lingüística, a teoria das diferenças lingüísticas e a teoria do capital lingüístico escolarmente rentável.

Ela considera que a teoria da deficiência lingüística e a teoria das diferenças lingüísticas atribuem à escola a função da adaptação do aluno à sociedade. Mostra que a diferença existente nas duas teorias está na solução para o fracasso escolar: a primeira faz uma proposta educacional – a educação compensatória – inaceitável dada a falsidade de seus pressupostos, enquanto que a segunda propõe o bidialetalismo funcional.

Já a teoria do capital lingüístico escolarmente rentável, segundo a professora, tem suas origens na análise de determinantes sociais e econômicos da escola, numa sociedade disposta em classes, recusando a possibilidade de soluções para o problema da discriminação das classes populares na escola.

A autora enfatiza o ponto em que as três teorias concordam: a distância existente entre a linguagem das camadas populares e a linguagem da classe dominante, seja qual for o nome atribuído a essa distância. Segundo ela, é essa distância que vai explicar a crise no ensino da língua materna.

Fica esclarecido, através do processo de democratização do ensino, o porquê das camadas populares fracassarem na escola. Isso se deu pela ascensão da classe desprivilegiada ao ensino escolar, sem que, no entanto, a escola se preparasse para receber esses alunos. Desta forma, houve um crescimento quantitativo de escolas, mas não houve uma formulação da nova função da escola. Nessa perspectiva, o fracasso da escola está em não atender as necessidades educacionais da massa popular.

Ela afirma que a teoria da deficiência lingüística e a das diferenças lingüísticas concebem a escola como redentora, pois ela será a responsável pelas distorções e desvios na linguagem popular. Já a teoria do capital lingüístico escolarmente rentável enfatiza que não há soluções educacionais para o problema de discriminação das classes populares na escola. Assim, percebe-se que o antagonismo presente nas duas respostas é conseqüência de uma diferença na leitura do papel social da escola nas diferentes teorias.

Dentro dessa perspectiva, surge a proposta pedagógica de uma “escola transformadora”, que se fundamenta nas três teorias e propõe um “bidialetalismo transformacional”, que servirá como arma para as classes populares lutarem contra a discriminação social.

É somando as contribuições de todas essas teorias que se deve incorporar à escola o processo de transformação social, em busca de uma sociedade mais justa, liberta de preconceitos lingüísticos e, conseqüentemente, culturais.

Desta forma, compreende-se que o ensino de língua materna, além de ser uma tarefa técnica, a de lutar contra o fracasso na escola (que é, na verdade, da escola), é uma tarefa política, pois deve ser um instrumento utilizado na luta contra as discriminações e desigualdades sociais.

FontesSOARES, Magda. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 15 ed. São Paulo, Ática, 1997.

More Questions From This User See All

Recommend Questions


A importância da Educação Física nas escolas
Foi em 1930, na Era Vargas, que a Educação Física passa a ser obrigatória nos diferentes níveis de ensino, como uma mane

A preservação da autoestima estudantil
Há anos, penso em escrever sobre uma situação que ocorreu com uma estudante do 7º ano. Eu lecionava Artes para aquela tu

Alfabetização em isolamento social
Até então, as instituições de Ensino Superior formavam professores desta etapa para trabalharem em sala de aula tendo co

Metodologias ativas no ensino de termoquímica
PALAVRAS-CHAVE: Metodologia. Ativa. Ensino. Termoquímica.

Acolhimento e educação integral em uma experiência de mudança de gênero
Esquecem-se que, na sua frente, está sobretudo um ser humano. Alguém que também chora, ri, sente dor, alegra-se, paga im

Deficiência intelectual - uma experiência de inclusão no ensino de História
Eu me formei em uma das melhores universidades do Brasil e, durante minha graduação, senti falta disso. É claro que muit

Desafio de ensinar em área diferente da sua formação
A realidade no ambiente laboral muitas vezes não corresponde ao imaginário profissional dos tempos de formação estudanti

Maquete do mundo: a construção do espaço no ensino de História
Cada vez que leio (e ainda leio!) esse tipo de resposta, questiono-me sobre o meu ofício de professora de História. De q

A importância da afetividade na relação professor-aluno
Palavras-chave: Educação – Ensino-Aprendizagem – Afeto – Vocação.

Caracterização da Área de Geografia
Foi a partir do pós-guerra que essa realidade modificou-se e a Geografia Tradicional não deu mais conta de analisar e ag

Smile Life

Show life that you have a thousand reasons to smile

Get in touch

© Copyright 2024 ELIB.TIPS - All rights reserved.