Leia os versos a seguir, de Carlos Drummond de Andrade:
“As casas espiam os homens Que correm atrás das mulheres.”
Observe que o eu lírico atribui uma ação própria dos seres humanos – espiar - a seres inanimados, “as casas”, personificando-as. A esse recurso estilístico chamamos prosopopeia.
Essa figura de linguagem consiste em atribuir vida e sentimentos humanos às coisas inanimadas e fazer falar a ausentes e mortos. Pires afirma existir dois casos de prosopopéia:
1. Personificação - reconhece traços e reações físicas de pessoas em coisas. Ex. “Os prédios são altos e se espreitam traiçoeiramente com binóculos na sombra”. (Rubem Braga) 2. Animismo – reconhece reações espirituais nas coisas. Ex. “Naquela noite serena”.
Veja outros exemplos de prosopopéia:
“O cipreste inclina-se em fina reverência e as margaridas estremecem, sobressaltadas. (Cecília Meireles)
“A ventania às vezes surpreendia as janelas abertas do meu lar e então as doces sombras se moviam trêmulas, trêmulas a bailar”. (Jorge de Lima)
“Bailando no ar, gemia inquieto vagalume: - Quem me dera que fosse aquela loura estrela, Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!” (Machado de Assis)
A prosopopéia é bastante comum nas fábulas e apólogos, uma vez que nelas os animais e seres inanimados ganham vida e expressam características humanas: falam, pensam, brigam e expressam seus sentimentos.
Fontes CEREJA, William Roberto e MAGALHÃES, Thereza Cochar. Literatura Brasileira em diálogo com outras literaturas. 3 ed. São Paulo, Atual editora, 2005, p.39. PIRES, Orlando. Manual de Teoria e Técnica Literária. Rio de Janeiro, Presença, 1981, p. 102. SAVIOLE, Francisco Platão. Gramática em 44 lições. 15 ed. São Paulo, Ática, 408 TUFANO, Douglas. Estudos de Língua Portuguesa – Minigramática. São Paulo, Moderna, 2007.
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