Qual o tratamento e cuidados para quem tem pé diabético?

O tratamento do pé diabético deve ser, idealmente, multidisciplinar. O mais importante é prevenir o seu aparecimento. Abordarei primeiro as medidas para quem já tem pé diabético e, mais importante, para evitar seu surgimento, que devem ser adotadas por TODO paciente diabético. Em seguida, citarei as modalidades de tratamento.

Vários estudos têm demonstrado que programas para cuidados com os pés, incluindo orientação do paciente, exame regular dos pés e classificação do risco, podem reduzir a ocorrência das lesões nos pés em até 50%. Há cinco pontos básicos para a prevenção:

  • Inspeção regular e exame dos pés e dos calçados;
  • Identificação dos pacientes de alto risco, que deverá ser feita pelo médico endocrinologista ou clínico geral que segue o paciente;
  • Educação do paciente, da família e dos profissionais de saúde;
  • Uso de calçados apropriados;
  • Tratamento das doenças não ulcerativas, como calos e micose cutânea nos pés.

Uma abordagem terapêutica conservadora deve envolver um programa de caminhadas, uso de calçados adequados, suspensão do fumo e tratamento rigoroso da pressão alta e dislipidemia, caso não haja úlcera ou gangrena presentes.

Anormalidades biomecânicas são consequências frequentes da neuropatia diabética e acarretam pressão plantar anormal no pé. Uma combinação de deformidades dos pés e neuropatia aumenta o risco de úlceras.

O alivio da pressão é essencial para a prevenção e cicatrização de uma úlcera. Os calçados e palmilhas devem ser inspecionados com frequência e trocados quando necessário. O paciente nunca deve voltar a utilizar um calçado que já lhe tenha causado ulceração.

Quando estiver presente a úlcera, o tratamento deverá ser multidisciplinar. O controle da infecção, o tratamento da doença vascular, o alívio da pressão e a abordagem da lesão são componentes essenciais no tratamento multifatorial das úlceras.

Quando há lesões, deve ser avaliada a perfusão do membro, feita pelo médico cirurgião vascular. Se houver sinais de obstrução arterial significativa, deverá ser avaliada realização de cirurgia para restabelecer o fluxo sanguíneo ao membro afetado. O diabetes não é razão para adiar a cirurgia, quando esta for necessária, pois as taxas de sucesso e recuperação são similares entre diabéticos e não diabéticos.

O controle rigoroso da glicemia é fundamental para a cicatrização da úlcera. Além do controle da glicemia, é fundamental o controle da infecção do pé diabético, pois esta é uma ameaça ao membro e deve ser tratada empiricamente e de forma incisiva.

Sinais e sintomas de infecção, tais como febre, leucocitose, elevação do VHS, podem estar ausentes em pacientes diabéticos com úlceras infeccionadas nos pés. Uma infecção superficial é frequentemente causada por bactérias Gram-positivas, enquanto infecções mais profundas, por vários micro-organismos, envolvendo bactérias Gram-negativas e anaeróbicas.

Em uma infecção profunda e grave do pé, a remoção cirúrgica do tecido infeccioso é essencial. Uma abordagem multidisciplinar, constando de debridamento, cuidado meticuloso da lesão, adequado suprimento vascular, controle metabólico, tratamento antibacteriano empírico e alivio da pressão, é essencial no tratamento da infecção do pé.

O tratamento do pé diabético e a sua prevenção deverão ser orientados pelo médico endocrinologista ou clínico geral.

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