São chamados de animais híbridos aqueles que resultam do cruzamento de espécies diferentes, porém geneticamente próximas entre si. Estes indivíduos apresentam diferenças morfológicas, como o formato do corpo, coloração, entre outros, e comportamentais em relação às espécies parentais.
A hibridização, ou seja, o processo através do qual espécies diferentes se reproduzem, gerando um descendente, não é considerada um fenômeno muito comum na natureza. Isto acontece porque, em geral, as espécies apresentam um número distinto de cromossomos, as estruturas celulares que contém os genes. Essas diferenças no número de cromossomos podem inviabilizar o desenvolvimento do embrião, pois o alinhamento de cromossomos equivalentes provenientes da fêmea e do macho é necessário para que ocorra a divisão da célula fertilizada. Quando este alinhamento não ocorre, a célula não se reproduz e morre. Porém, em alguns casos, mesmo com a falta de pares de cromossomos, a reprodução entre espécies diferentes é bem-sucedida, gerando o híbrido. Contudo, o nascimento do indivíduo não significa que sua sobrevivência está garantida. Muitas vezes, o híbrido gerado é mais fraco que os seus progenitores e não sobrevive; já em outros casos, o híbrido pode adaptar-se melhor ao ambiente do que as espécies que o conceberam.
A hibridização de animais pode ocorrer na natureza por diversos motivos. A falta de parceiros sexuais pode levar indivíduos de espécies diferentes a procriarem, como foi observado para duas espécies de antílope na África do Sul. As populações das espécies Hippotragus niger variani e Hippotragus equinus conhecidas, respectivamente, como a palanca-negra-gigante e palanca-vermelha, diminuíram consideravelmente como resultado da caça predatória, e seus indivíduos passaram a reproduzir entre si, formando híbridos.
Outro fator relacionado à produção de híbridos naturais consiste na sobreposição de território por espécies similares, situação cada vez mais recorrente devido às mudanças climáticas. Um dos principais exemplos que ilustra essa relação corresponde à hibridização das espécies de urso polar Ursus maritimus e urso pardo Ursus arctos horribilis. O deslocamento de populações de urso pardo do Canadá e Alasca, sua região natural de ocorrência, para o Ártico, foi associado ao aumento da temperatura global. Durante a colonização dessa nova área, houve o cruzamento de indivíduos dessa espécie com o urso polar, levando à criação do híbrido urso-pardo-polar.
A bioinvasão, processo através do qual uma espécie é translocada para uma área fora de sua distribuição natural, também tem relação com o processo de hibridização. O mexilhão-do-mediterrâneo Mytilus galloprovincialis foi introduzido na costa do Chile e passou a se reproduzir com indivíduos de espécies nativas como o mexilhão-comum Mytilus edulis e o mexilhão-chileno Mytilus chilensis, gerando preocupações em relação ao impacto desse invasor sobre a biodiversidade e os processos ecossistêmicos locais.
Experiências relacionadas à criação de organismos híbridos em laboratório, principalmente para fins medicinais, constituem uma prática em países como o Japão, embora este procedimento seja considerado antiético e esteja proibido na maior parte do globo.
Historicamente, animais híbridos são considerados inférteis, ou seja, incapazes de gerar descendentes. É o caso da mula, que resulta do cruzamento entre cavalos (Equus caballus) e asnos (Equus asinus), limitando a criação de um novo indivíduo ao cruzamento entre as duas espécies citadas. No entanto, o avanço da ciência têm revelado a existência de híbridos férteis como o peixe conhecido popularmente como cachapinta, híbrido das espécies surubim-cachara Pseudoplatystoma reticulatum e o pintado Pseudoplatystoma corruscans. A fertilidade em híbridos causa preocupações em relação à biodiversidade, pois estes animais poderiam acasalar com indivíduos de linhagem pura, reduzindo a riqueza de espécies. No entanto, evidências recentes vêm apontando a importância evolutiva de híbridos férteis na criação e adaptação das espécies, como por exemplo os cinco membros do gênero Panthera (leões, tigres, leopardos, jaguares e leopardos da neve). Estudos revelaram o “empréstimo” de genes relacionados ao nervo óptico entre jaguares e leões, processo que teria se dado via hibridização em vários momentos ao longo da evolução destas espécies.
Referências:
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National Geographic. Human-pig hybrid created in the Lab. Disponível em: https://www.nationalgeographic.co.uk/science-and-technology/human-pig-hybrid-created-lab
Oyarzún, P. A.; Toro, J. E.; Cañete, J. I.; Gardner, J. P. Bioinvasion threatens the genetic integrity of native diversity and a natural hybrid zone: smooth-shelled blue mussels (Mytilus spp.) in the Strait of Magellan. Biological Journal of the Linnean Society, v. 117, p. 574-585. 2016.
Quanta magazine. Interspecies hybrids play a vital role in evolution. Disponível em: https://www.quantamagazine.org/interspecies-hybrids-play-a-vital-role-in-evolution-20170824/
Revista Pesquisa Fapesp. Quando os híbridos são férteis. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/quando-os-h%C3%ADbridos-s%C3%A3o-f%C3%A9rteis/
Science News for Students. The mixed-up world of hybrid animals. Disponível em: https://www.sciencenewsforstudents.org/article/mixed-world-hybrid-animals
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/biologia/animais-hibridos/
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