Caracterizado por pequenas partículas de plástico com até 5 milímetros de diâmetro, o microplástico representa um dos maiores problemas enfrentados pela biota de ecossistemas marinhos, e seus impactos são propagados até os sistemas humanos.
O plástico é o principal detrito em ecossistemas marinhos: desde 1950, estima-se que 8,3 bilhões de toneladas foram produzidas como resultado da fabricação de material sintético em larga escala, dentre as quais apenas 9% são efetivamente recicladas. O restante (91%) é despejado no meio ambiente, e acaba indo parar no mar carreado por ventos, chuvas ou até mesmo em partículas no esgoto doméstico e industrial. Este detrito pode ser encontrado em diversas formas e tamanhos, mas aqueles que possuem até 5 milímetros de diâmetro são denominados microplásticos. Estes podem ser categorizados como primários ou secundários, dependendo de sua fonte. Os microplásticos primários consistem em pequenas partículas para uso comercial encontradas, por exemplo, em cosméticos como esmalte de unhas, produtos de limpeza de pele, microfibras de tecidos têxteis e até mesmo redes de pesca. Já os microplásticos secundários são aqueles que resultam da quebra de produtos maiores como garrafas plásticas, a qual é causada tanto pela radiação solar, quanto pelas ondas e correntes oceânicas.
A maioria dos polímeros sintéticos (i.e. microplásticos) flutuam na superfície da água, facilitando seu transporte por longas distâncias e subsequente acúmulo em praias, manguezais e outros ecossistemas na interface mar-continente. No entanto, organismos microscópicos como bactérias e diatomáceas, podem aderir à superfície dos microplásticos, e criar um microfilme que altera suas propriedades hidrofóbicas (i.e. característica que repele a água) e de flutuabilidade, fazendo-os afundar, e transformando o substrato dos oceanos e outros ecossistemas aquáticos em um repositório dessas partículas.
Os microplásticos podem apresentar diversos impactos para a saúde ambiental e humana, os quais podem estar relacionados à sua composição. Estes polímeros sintéticos raramente são utilizados em sua forma pura, sendo frequentemente misturados à aditivos como ftalatos e bisfenol A, os quais são responsáveis pelo aumento de sua maleabilidade, para que este seja utilizado, por exemplo, no papel filme que embala sanduíches e outros alimentos. Estes componentes, por sua vez, têm efeitos adversos na fauna silvestre que o ingere, bem como nos seres humanos, causando a desregulação de hormônios sexuais relacionados à sua fertilidade (provocando infertilidade). Os ftalatos e bisfenol A também foram correlacionados, em casos mais extremos, ao surgimento de câncer de mama e problemas cardiovasculares na espécie humana.
Outra problemática relacionada aos microplásticos diz respeito à persistência de poluentes no ambiente marinho. Algumas substâncias tóxicas como derivados do petróleo, são hidrofóbicos e, portanto, não são diluídos na água do mar. No entanto, esses materiais podem ser adsorvidos em microplásticos, permanecendo disponíveis por mais tempo no ambiente aquático, onde podem ser ingeridos ou filtrados pela fauna marinha. A ingestão, acidental ou não, de microplásticos representa uma importante ameaça para a fauna marinha e seres humanos, pois consiste em uma via de entrada de poluentes e aditivos tóxicos no organismo, os quais podem gerar doenças graves quando acumulados no indivíduo. Devido ao seu pequeno tamanho, os microplásticos também podem circular na corrente sanguínea e no sistema linfático, alcançando órgãos como o fígado, e comprometendo seu funcionamento, além de bloquear fisicamente (quando ingeridos em excesso) vias respiratórias e digestivas em pequenos animais.
Referências:
Iberdrola. How do microplastics affect? Disponível em: https://www.iberdrola.com/environment/microplastics-threat-to-health
eCycle. Ftalatos: o que são, quais seus riscos e como se prevenir. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/2183-ftalatos.html
National Geographic. Microplastics. Disponível em: https://www.nationalgeographic.org/encyclopedia/microplastics/
National Oceanic and Atmospheric Administration (NOOA-USA). What are microplastics? Disponível em: https://oceanservice.noaa.gov/facts/microplastics.html
do Sul, J. A. I.; Costa, M. F. The present and future of microplastic pollution in the marine environment. Environmental pollution, v. 185, p. 352-364. 2014.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/ecologia/microplastico/
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