Um total de 89 espécies de tubarões habitam a costa brasileira, e muitos desses predadores estão correndo perigo de extinção.
Os tubarões pertencem à classe dos Condrictes, que também compreende as raias e quimeras. Esses peixes têm como principal característica um esqueleto cartilaginoso leve e flexível que facilita sua natação e, consequentemente, as migrações realizadas entre diferentes habitats e a caça de presas. Como um dos mais eficazes predadores da natureza, a anatomia dos tubarões é cheia de adaptações que auxiliam na obtenção de alimento: seu corpo é revestido por escamas placóides, que aumentam o desempenho hidrodinâmico através da redução de atrito com a água; múltiplas fileiras de dentes serrilhados; e ampolas de Lorenzini, uma rede de canais localizados em seu focinho capazes de detectar campos elétricos e outras mudanças sutis na água. No entanto, a grande maioria das espécies de tubarão apresentam um crescimento lento e maturação tardia: a fêmea da espécie de cação-bico-doce Galeorhinus galeus, por exemplo, leva entre 10 e 15 anos para estar apta a se reproduzir. Tal característica tem grande influência no tempo de recuperação dos tubarões após distúrbios ambientais e/ou antropogênicos, como a sobrepesca.
O mais recente inventário de condrictes revelou um total de 89 espécies de tubarões habitando a extensa costa brasileira. Dentre estas, 37 estão sob diferentes níveis de ameaça de extinção ou são consideradas regionalmente extintas no Brasil. Neste último caso, enquadram-se o tubarão-dente-de-agulha (Carcharhinus isodon) e o tubarão-lagarto (Schroederichthys bivius), cuja extinção regional está ligada aos efeitos da sobrepesca.
O gênero Carcharhinus contêm a maior riqueza de espécies (S=15), inclusive ameaçadas (S=12), dentre as quais o tubarão-das-galápagos Carcharhinus galapagensis, o tubarão-galhudo Carcharhinus plumbeus e o cação-azeiteiro Carcharhinus porosus destacam-se por seu status de ‘criticamente ameaçadas’, classificação baseada nos declínios significativos que suas populações sofreram nos últimos anos. Outras 12 espécies de tubarões dos gêneros Isogomphodon (S=1), Sphyrna (S=5), Galeorhinus (S=1), Mustelus (S=2), Notorynchus (S=1), Cetorhinus (S=1) e Carcharias (S=1) também estão criticamente ameaçadas de extinção (CR), totalizando 15 espécies que habitam a costa brasileira e estão enquadradas nesta categoria, a qual é caracterizada pelo risco extremamente alto de extinção.
As categorias restantes representam menores, porém significativas, chances de extinção. As espécies cação-fidalgo Carcharhinus obscurus, tubarão-martelo-grande Sphyrna mokarran e boca-de-velha Mustelus canis estão classificadas como ‘em perigo de extinção’ (EN), o que significa que apresentam um risco muito alto de serem extintas da costa do Brasil (2ª categoria após CR). Por outro lado, nove espécies são consideradas como ‘vulneráveis’ (VU), e estão em risco de extinção do litoral brasileiro (3ª categoria após CR), entre as quais pode-se citar o carismático tubarão-baleia Rhincodon typus e o tubarão-lixa Ginglymostoma cirratum.
‘Quase ameaçada’ e ‘pouco preocupante’ são outras duas categorias relacionadas ao status de conservação dos tubarões, compostas por 8 e 6 espécies, respectivamente. A primeira compreende espécies como o cação-lombo-preto Carcharhinus acronotus e o tubarão-galha-preta Carcharhinus limbatus, que ainda não estão ameaçadas de extinção, mas podem apresentar tal risco em um futuro próximo. Já a segunda trata de espécies que não estão ameaçadas de extinção, e um exemplo é o cação-espátula Apristurus parvipinnis. Outras 16 espécies de tubarões não foram avaliadas até o presente momento, e se enquadram na categoria de insuficiência de dados (DD), o que ocorre quando há poucas informações sobre sua distribuição e abundância.
Entre os principais fatores que ameaçam a sobrevivência das populações de tubarão na costa brasileira pode-se citar a sobrepesca (alta captura de indivíduos, acima da capacidade de recuperação do estoque), relacionada à comercialização e o alto consumo de carne de cação; a captura acidental, resultado do uso de apetrechos de pesca não-seletivos; e a perda de habitat adequado para o seu desenvolvimento (alimentação, reprodução e sobrevivência), devido à poluição e alterações realizadas pelo ser humano. Tais pressões, aliadas ao crescimento lento e maturidade tardia características das espécies de tubarão, podem explicar sua alta tendência à extinção.
Referências:
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Avaliação do risco de extinção dos elasmobrânquios e quimeras no Brasil: 2010-2012. 2016. 67p.
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume VI - Peixes. In: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Org.). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio. 2018. 1234p.
Rosa, R. S., Gadig, O. B. F. Conhecimento da diversidade dos Chondrichthyes marinhos no Brasil: a contribuição de José Lima de Figueiredo. Arquivos de Zoologia, v. 45, p. 89-104. 2014.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/biologia/tubaroes-que-habitam-o-litoral-do-brasil/
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