Argumentum ad Nauseam

Nos dias atuais, especialmente em discussões em redes sociais na internet, as discussões a respeito dos mais variados temas têm-se tornado cada vez mais comuns. Devido à velocidade da informação e da rapidez com que passa-se de um tema a outro, os debates passaram a ser cada vez mais rápidos, a fim de atender às necessidades imediatas desenvolvidas na sociedade. No entanto, a agilidade em argumentações nem sempre favorecem aos debates e são raros aqueles que possuem a habilidade de argumentar de maneira rápida com argumentações corretas e bem fundamentadas, o que faz com que sejam frequentes as argumentações falaciosas, quer dizer, que não fundamentam corretamente, acidental ou intencionalmente, suas conclusões.

Ilustração: autumnn / Shutterstock.com

Destes modos de argumentação falaciosa, um das que se pode ver recorrentemente é o chamado Argumentum ad Nauseam (literalmente “argumento até a náusea”, em latim), também conhecido como argumento pela repetição. Esta forma de falácia pode ser vista em discussões onde um dos debatedores tenta ganhar seu oponente pelo cansaço, como se diz popularmente, ao repetir até à exaustão (ad nauseam) seu argumento sobre o assunto, conforme o exemplo abaixo:

A – O ex-presidente Lula é inocente e deve ser solto da prisão.

B – Mas o que prova que ele é inocente?

A – Ele é inocente. Seu julgamento foi injusto e, portanto, deve ser anulado.

B – Sim, eu entendo sua posição. Mas quais são as provas?

A – A prova é que ele não fez nada.

B – (desiste da discussão)

Aqui, vemos como A é tão convicto de sua conclusão a respeito da inocência do ex-presidente que, para ele, basta sua própria afirmação, considerando-a um argumento suficiente. Em geral, quem assume essa forma de posição considera-se, ao fim do debate, vencedor, tendo em vista que o adversário, a seu ver, não foi capaz de rebater seus argumentos, enquanto este, na verdade, apenas cansou do debate.

Mas não é só em debates nas redes sociais que esta argumentação pode ser encontrada. Na história dos embates entre religião e ciência esse modo de argumentação é tão comum dentro do tema que é frequentemente utilizado como exemplo nas fontes que se propõe a explicar o Argumentum ad Nauseam.

A – Se a Bíblia diz que Deus existe, então é verdade.

B – Mas que evidências você encontra da existência de Deus?

A – Eu encontro na Bíblia.

B – Ok. Você já falou isso. Mas, e as evidências?

A – Minha evidência é a Palavra de Deus.

Ainda que a crença e a descrença sejam igualmente possíveis, bem como a existência ou não de uma entidade espiritual superior, seja o Deus cristão ou um orixá do candomblé, a argumentação do exemplo acima é logicamente insuficiente por não demonstrar nenhuma comprovação da verdade do argumento. Nesse caso, mais uma vez, o que resta para a defesa do argumento é a repetição do mesmo.

Outro exemplo, menos explícito que os apresentados acima, pode ser o seguinte:

As pessoas burras são muito chatas! Elas mostram a sua burrice falando coisas burras!

Neste exemplo, quem enuncia a afirmação não fundamenta a verdade de seus argumentos, apenas repete seu juízo. Pode-se perceber que essa fórmula pode ser repetida à exaustão.

O Argumentum ad Nauseam pode, claramente, ser utilizado de maneira maliciosa por alguém que não deseja ser vencido em um debate, mas este não é o único caso. Muitas vezes acontece de uma pessoa não ter conhecimento suficiente do assunto para prover nenhuma evidência para além de suas certezas.

Aparentemente, esta forma de falácia é relativamente recente na história da lógica de maneira geral e nos debates, sejam públicos ou privados, de modo a ser difícil encontrar referências e estudos acadêmicos sobre este caso.

Referências:

LOGICALLY FALLACIOUS. Argument by Repetition. Disponível em: https://www.logicallyfallacious.com/tools/lp/Bo/LogicalFallacies/49/Argument-by-Repetition. Acesso em: 20 de nov. 2019.

LOGICAL FALLACIES. Argument from Repetition. Disponível em: https://www.logicalfallacies.org/argument-from-repetition.html. Acesso em: 20 de nov. 2019.

RATIONALWIKI. Argumentum ad Nauseam. Disponível em: https://rationalwiki.org/wiki/Argumentum_ad_nauseam. Acesso em: 20 de nov. 2019.

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