Os filósofos iluministas foram pensadores que viveram e desenvolveram seu pensamento durante o século XVIII em diferentes países do continente europeu. Foram, como o nome aponta, os representantes do Iluminismo, doutrina filosófica que exalta a confiança na razão humana e seu uso para a libertação da humanidade dos dogmas da tradição, dos preconceitos morais, das superstições religiosas, das relações desumanas entre os seres humanos e das tiranias políticas. Fundados nestes princípios iluministas, tais filósofos buscaram, portanto, a emancipação da humanidade tendo a razão como fundamento, de modo a priorizar o conhecimento empírico, quer dizer, o conhecimento adquirido através da experiência e que pode ser verificado pela razão (portanto, um conhecimento científico). Foram influenciados pelos escritos de filósofos como Isaac Newton (1643 – 1727), David Hume (1711 – 1769), herdando deste também o pensamento cético, e John Locke (1632 – 1704).
Denis Diderot (1713 – 1784). foi um dos principais defensores dos valores Iluministas. Contribuiu como editor geral e participante, juntamente com outros filósofos franceses, da produção da Enciclopédia, um compêndio de interpretação e análise da tecnologia e das ciências do século XVIII. Em sua obra Pensamentos filosóficos, demonstrou ser um deísta convicto, polemizando tanto contra uma religião “supersticiosa”, fazendo críticas a religiões positivas, particularmente ao cristianismo, quanto contra o ateísmo. Fez também críticas à rejeição das paixões humanas, típica da filosofia clássica, e defendeu as grandes paixões como sendo aquilo o que leva os seres humanos a fazer grandes coisas. Contudo, não rejeitou a razão. Sendo fiel aos valores iluministas, acreditava na razão mas não em sua onipotência, defendendo uma postura cética, quer dizer, que duvida de todas as coisas, como o primeiro passo em direção à verdade.
Jean d’Alambert (1717 – 1783) foi filósofo e matemático. Colaborou por alguns anos com Diderot na produção da Enciclopédia. Refletindo sobre as diferentes ciências empíricas (medicina, física, química, etc.), que se dedicam à observação dos fatos, ele afirmou que todos os conhecimentos humanos podem ser divididos entre “diretos” e “reflexos”. Os conhecimentos diretos são adquiridos imediatamente pelas sensações, os reflexos, aqueles adquiridos quando a razão opera sobre sobre os conhecimentos diretos, comparando-os e combinando-os. Assim, defendia que a filosofia deveria ser a ciência dos fatos, pois as ideias começam pelas sensações. No que diz respeito à religião era, como Diderot, um deísta. Afirma que Deus é autor e ordenador do universo e que se pode saber que existe pelas leis imutáveis da natureza. No entanto, é estranho aos acontecimentos humanos, sendo indiferente às questões morais.
Voltaire é o pseudônimo de François-Marie Arouet (1694 – 1778). Ficou famoso por escrever peças de teatro e poemas e, mais tarde, tornou-se uma grande influência na divulgação da filosofia de Isaac Newton. Escreveu extensivamente sobre religião e moral. Assumia uma posição cética, empírica e humanista. Não era um cético radical, mas duvidava das afirmações metafísicas dos filósofos sistemáticos e da teologia das religiões institucionais por não encontrar evidências que lhes dêem suporte. Em seu empirismo, Voltaire estimula os seres humanos a se contentarem com com o conhecimento falho e limitado das experiências cotidianas e do método das ciências empíricas. No que diz respeito a seu humanismo, era radical defensor da tolerância social e religiosa, pois ninguém é capaz de saber o suficiente a ponto de ser justificável a perseguição daqueles que discordam. Afirmava que a vida humana, mesmo com suas imperfeições, é valiosa e significativa por si mesma. Apesar de fazer críticas a doutrinas puramente teológicas, que considerava sem sentido, era firmemente convicto da existência de um Deus bom que, através do senso moral, estimula os seres humanos a amarem uns aos outros como irmãos e irmãs. É devido a esse sentido moral que Voltaire criticava a intolerância do cristianismo estabelecido.
Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) foi um filósofo contratualista, majoritariamente conhecido por suas ideias políticas e por suas reflexões a respeito da natureza humana. Em seu ensaio Discursos sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens (1755), Rousseau explica a condição moderna do ser humano partindo de seu estado natural. Nesse estado, ele é semelhante aos animais, porém possuindo uma simpatia especial pelos de sua espécie. Ao desenvolver a razão e a linguagem, distanciam-se do estado natural mas mantém aquela simpatia, compreendendo-se como indivíduos e formando comunidades. Daí surge a divisão do trabalho e a propriedade privada e os seres humanos se alienam uns dos outros. É desta concepção que se origina a frase “o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”, atribuída a Rousseau. Também tratou sobre o governo e sobre a liberdade entre os homens na conhecida obra O contrato social (1762).
Immanuel Kant (1724 – 1804) foi um filósofo iluminista alemão bastante influenciado por Rousseau e, como outros iluministas, por Isaac Newton. Tinha como sua principal preocupação justificar a autoridade da razão. Afirmava que, através de um adequado exame dos poderes da razão, é possível distinguir as afirmações sem sem justificativa da tradição filosófica anterior (a tradição metafísica) dos princípios exigidos pelas necessidades teóricas dos seres humanos, que o determinam em sua experiência no mundo, e por sua necessidade prática de lidar com outras vontades racionais. Assim, esses princípios, por serem necessários e detectáveis, combatem tanto o empirismo quanto o ceticismo e, porque eles se mostram como simples orientações coerentes para experiência humana, distinguem-se do racionalismo e do dogmatismo. Afirmava que todo conhecimento humano só pode ser relacionado aos fenômenos espaço-temporais e que princípios religiosos possuem apenas um fundamento moral, não podendo ser conhecidos pela razão. Assim, Kant abre espaço para a fé. Um dos elementos mais importantes de sua filosofia foi a chamada “revolução copernicana”, que considera como os objetos de conhecimento podem se conformar às representações da razão humana e não que a razão humana deva, necessariamente, se adequar à forma dos objetos.
Estes são alguns dos mais importantes filósofos do Iluminismo, mas muitos outros podem ser identificados, como os franceses Condillac e Montesquieu e os alemães Mendelssohn e Lessing.
REFERÊNCIAS
AUDI, Robert. The Cambridge Dictionary of Philosophy. New York: Cambridge University Press, 1999.
ANTISIERI, Dario; REALE, Giovanni. História da filosofia: Do romantismo até os nossos dias. São Paulo: Paulus, 1991.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/filosofia/filosofos-iluministas/
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