Barreiras atitudinais podem ser definidas como meios que dificultam o acesso de pessoas com deficiências a diferentes locais. Porém, não de forma a não existir acesso físico, mas sim, de existirem atitudes de preconceito ou de não-inclusão por parte das pessoas que frequentam os espaços. Essas atitudes podem ser conscientes ou não, derivadas de um preconceito explicito ou não. O termo se relaciona com o conceito de Capacitismo, uma forma de preconceito contra as pessoas com deficiência em que se julgam incapazes ou que tem a necessidade de serem tuteladas por uma incapacidade de conviver ou realizar atividades.
As barreiras atitudinais se caracterizam por atitudes que impedem o pleno acesso aos espaços e atividades pelas pessoas com deficiência. Isto ocorre porque existem maneiras de se comportar que podem inibir, coibir, oprimir, desencorajar, restringir ações e permanências nos espaços por essas pessoas a partir das pessoas que não possuem deficiências. O ato de não planejar um espaço para pessoas com deficiências pode ser um exemplo de barreira atitudinal, pois a atitude de não pensar na diversidade e nas diferentes necessidades para o uso do espaço estão presentes. Outras situações como o preconceito, a infantilização, tratar com desrespeito ou de forma que a pessoa se sinta deslocada e incapacidade de realizar suas atividades plenamente também são exemplos destas situações.
As barreiras atitudinais se relacionam com a forma como se compreende a deficiência na sociedade. A deficiência e as capacidades das pessoas com deficiências são pensadas em termos do que lhes “falta”, característica de uma deficiência e se relaciona com a ideia de corpos normativos, como no conceito de Capacitismo. Porém, a barreira atitudinal vai além ao demonstrar como as barreiras construídas socialmente são mais intransponíveis que as barreiras relacionadas ao espaço.
Conferir o valor de “pessoas” àqueles que tinham e têm deficiência foi uma ação muito relevante para a conquista da cidadania das pessoas com deficiência. E isso só ocorreu [...], em torno de 1981, quando a ONU “atribuiu” o valor de pessoas àqueles que tinham deficiência, igualando-os em direito e dignidade à maioria dos membros de qualquer sociedade ou país. No Brasil, conferiu-se, pela primeira vez, o títulos de Pessoa a um indivíduo com deficiência na constituição de 1988. (LIMA & SILVA, 2008, pp. 24-25)
Assim, para Lima & Silva, a relação com as pessoas com deficiência e seu acesso à cidadania é um elemento recente, na forma de perceber as pessoas com deficiência como pessoas integrais e não inferiores de alguma maneira ou incapazes.
Existem diferentes tipos de barreiras atitudinais, segundo os autores, como: ignorância das capacidades da pessoa, medo, rejeitar interagir com a pessoa com deficiência, percepção de menos-valia, piedade, adoração do herói e exaltação do modelo (considerando a pessoa como um exemplo de superação), efeito de propagação, estereotipo, compensação, negação, substantivação da diferença (pensar na deficiência como uma parte faltante), entre muitas outras.
Percebe-se que, pelos exemplo, as barreiras atitudinais são veiculadas cotidianamente na vida de pessoas com deficiência e na sociedade em geral e algumas podem aparecer como uma falsa ideia de inclusão, como a piedade, ou a exaltação do modelo, muito comum em casos de palestras motivacionais que incentivam o desenvolvimento pessoal apesar das dificuldades. Pode-se considerar como uma barreira atitudinal e não uma atitude de inclusão pois o que é explorado nas imagens e histórias são as deficiências e o foco na deficiência e não na pessoa humana em si e em todas as suas capacidades. Percebe-se essa barreira pois a pessoa com deficiência apenas figura nos casos como um estereotipo anedótico e não como um exemplo ou com lugar para se manifestar e contar a sua própria história. Assim, a deficiência é instrumentalizada.
A suposição do professor de que ter um aluno com deficiência é uma providencia divina para que ele possa praticar o bem e a ética constitui igualmente uma barreira atitudinal. Nessa linha, alguns professores manifestam a crença de que a pior coisa que pode acontecer a um estudante é nascer com deficiência. Na verdade, uma das piores coisas para um aluno é não ser visto como sujeito social, pessoa humana com conhecimentos preexistentes, expectativas, sonhos, desejos, etc. (LIMA & SILVA, 2008, p. 29).
Desta forma, pode-se perceber que as barreiras atitudinais se referem a barreiras sociais que tornam as relações sociais das pessoas com deficiências impeditivas ou inacessíveis de alguma maneira. Elas podem derivar ou dar origem a preconceitos e podem se manifestar mesmo com boas intenções quando estas não se referem a atitudes de inclusão e sim, a atitudes de tutela para com as pessoas com deficiência. É interessante notar que, quando se refere a barreiras atitudinais, é comum a prática e a discussão com pessoas com deficiências, mas essas barreiras também podem se estender a outros grupos que carecem de inclusão social.
REFERENCIAS
LIMA, Francisco José de ; SILVA, Fabiana Tavares dos Santos. Barreiras atitudinais: obstáculos à pessoa com deficiência na escola. Itinerários da inclusão escolar: múltiplos olhares, saberes e práticas, p. 23-31, 2008. Disponível em: https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=uExDXSnlb_MC&oi=fnd&pg=PA23&dq=barreiras+atitudinais&ots=uzxQtQ50hB&sig=ijEOyUTWPJXzA6_g4anNo8ZCBs0#v=onepage&q&f=true
TAVARES, Fabiana; LIMA, Francisco. Barreiras atitudinais e a recepção da pessoa com deficiência. TAVARES, Liliana Barros. Notas Proêmias–Acessibilidade Comunicacional para Produções Culturais. Pernambuco: CEPE, 2013. Disponível em: http://www.cultura.pe.gov.br/wp-content/uploads/2016/12/Livro_Acessibilidade_Cap2.pdf
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/sociologia/barreiras-atitudinais/
Show life that you have a thousand reasons to smile
© Copyright 2024 ELIB.TIPS - All rights reserved.