A coesão social, essencialmente, é o que mantem um grupo social unido e operando de forma constante dentro da sociedade. Ela tem a ver com a identidade que um grupo é capaz de criar e reproduzir para si e para os outros, e também tem a ver, então, com suas normas e valores, que o caracterizam. A coesão social pode ser trabalhadas em grupos menores da sociedade, mas é mais correto buscar percebê-la para uma sociedade em si. Como a sociedade pode ter subgrupos muito plurais, a forma de manter controladas as diferenças também entra no debate sobre coesão social.
Pode-se entender a coesão social através de diferentes teorias sociológicas, porém alguns autores se destacam neste assunto, como Émile Durkheim. Este autor trabalhará esta ideia em seu livro Da divisão do Trabalho Social, publicado pela primeira vez em 1893. Neste texto, o autor discute como aparecem os elementos da coesão social para sociedades tradicionais e modernas.
O que diferencia a sociedade moderna das tradicionais, de acordo com Durkheim, é uma mudança fundamental no modo da coesão social. O advento da industrialização fez com que evoluísse uma nova forma de solidariedade. (THORPE et al, 2016, p.36)
A coesão das sociedades tradicionais deriva do seu compartilhar de costumes, valores, normas e crenças sociais, de forma que ela é bastante homogênea. A nova coesão que surge para as sociedades modernas deriva do oposto. Com a industrialização e a maior complexidade do trabalho de algumas sociedades, a coesão social deriva da interdependência das partes do sistema, já que cada trabalho colabora com uma parte da produção social. Para Durkheim, esse movimento de coesão se chamará solidariedade, pensando em como as partes do social colaboram para a produção do trabalho. As sociedades tradicionais teriam uma solidariedade mecânica, e as sociedades modernas uma solidariedade orgânica.
Porém, não apenas Durkheim tratou o tema da coesão social, como também os demais autores clássicos da sociologia e ainda Talcott Parsons. Nesta última visão, o autor defende que a coesão é mantida através de um consenso sobre os valores da sociedade. E estes valores são transmitidos e mantidos por instituições sociais, como família, a escola e as mídias. Esse consenso ainda seria fruto da ação individual, que buscaria manter a coesão a partir da sua participação e compartilhamento desses valores.
Outros autores como Karl Marx e Max Weber seguem uma linha de pensamento distinta sobre esse aspecto, devido aos estudos de ambos sobre os tipos de dominação que aparecem nas sociedades modernas industriais. Para o primeiro, a dominação de classes sociais com mais ênfase, e para o segundo, os diferentes tipos de dominação social e sua relação com o Estado.
“Em vez disso, o consenso pode refletir o poder de alguns grupos de moldar as coisas de acordo com interesses próprios. Essa ideia está mais ligada à Perspectiva de Conflito e à obra de Karl Marx e Max Weber, que argumentaram que coesão e ordem são, até certo ponto, criadas e mantidas por coerção e dominação, sobretudo por meio de instituições como o Estado. Sociedades em que há minorias oprimidas, por exemplo, podem continuar a exibir coesão social não só por causa de um verdadeiro consenso de valores, mas porque talvez temam que, se ousarem exigir justiça social, poderão ser vítimas de ainda mais violência e perseguição.” (JOHNSON, 2016, pp. 41-42).
Assim, os autores refletem um pouco sobre como a coesão tem como contrapartida associada a coerção, que pode ser física, jurídica ou moral. A coerção é uma maneira de se obrigar o respeito às normas sociais. No caso exemplificado, a coerção pode inclusive manter situações de desigualdade. Os autores argumentam que esse poder para manter desigualdades também pode aparecer quando se deseja na sociedade um tipo de valores e normas que serão base da coesão social, que podem ser controlados por alguns grupos sociais que tem capacidade de propagar as ideias que terão o consenso de uns e o receio de outros. Desta forma, a perspectiva de Marx e Weber traz mais complexidade ao pensamento de Durkheim e auxilia a interpretar outras situações sociais.
Assim, podemos entender por coesão social tanto a atitude social como a configuração de um sistema que será entendido como um bloco e que compartilha valores, normas, condutas e símbolos. E que tem como contrapartida a coerção social, já que esta obriga o cumprimento dessas atitudes que promovem a identidade social. A coesão, dependendo de qual linha teórica se persegue, pode incluir os graus de conflito e poder e divergências ou focar no consenso social dos indivíduos com seu grupo ou focar na interdependência das partes do sistema social.
“Coesão é o grau em que os indivíduos que participam de um sistema social se identificam com ele e se sentem obrigados a apoiá-lo, especialmente no que diz respeito a normas, valores, crenças e estrutura.” (JOHNSON, 1997, p.41).
Referências:
JOHNSON, A.G. Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1997.
THORPE, C. et al. O livro da Sociologia. São Paulo: GloboLivros, 2016.
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