A misandria é uma forma de discriminação sexual que se caracteriza pelo ódio ou aversão ao sexo masculino ou a figura do homem. De certa forma, é o oposto da misoginia, apesar de alguns movimentos não entenderem desta forma, como discorreremos adiante. A misandria deriva do grego em que misos é traduzido como “ódio” e andria como homem ou masculino. A misandria pode chegar a ser um discurso de ódio, pelo que se entende a fala e argumentos que busquem a inferiorização de uma classe ou grupo.
Existem alguns segmentos da sociedade, porém, que não consideram a misandria como o oposto da misoginia pela sua forma de atuação e pelo impacto político, econômico, social e psicológico de cada um. Enquanto a misoginia está relacionada, atualmente, a diversas situações de violência contra a mulher e é relacionada às situações de depreciação do que é feminino e da pessoa da mulher socialmente. A misandria não afeta os homens enquanto grupo social, apesar de não se poder dizer que não afeta individualmente quem sofre misoginia. Esse ponto é importante para se refletir os argumentos levantados a favor da misandria, que em geral aparecem como uma reação de ódio à classe que detém benefícios sociais em relação à outra.
[...] el machismo, como reproductor de una estructura de poder que favorece al varón, [...]Kaplan (2011) se refiere a la misandria como el odio o la aversión hacia los varones. También hace referencia a la tendencia psicológica (y especialmente de tipo cognitivo) consistente en el desprecio al varón como sexo, y a todo lo considerado como masculino. [...]En su extremo, las personas misándricas, normalmente mujeres, consideran a los varones como seres nocivos socialmente, personas tóxicas, e incluso inútiles, propugnado, por ejemplo, formas de concepción de nuevos seres que excluyan el tener relaciones sexuales con un varón. (CLEMENTE; REIG-BOTELLA; ANTÓN, 2016, p. 14).
Estudos da Universidade de Corunha, na Espanha, realizaram comparações com grupos de entrevistados quanto a artigos publicitários que tinham teor neutro, misândrico e misógino. O que os estudos concluíram é que existe uma maior tolerância com a misandria do que com o machismo, mas ambas são rechaçadas em 80%. Os sentimentos que a misandria produz, segundo o estudo, são de graça, enquanto os sentimentos que o machismo das propagandas produz é humilhação e raiva.
O estudo ainda aponta que : “Una actitud machista implica claramente la legitimación de la violencia.” (CLEMENTE; REIG-BOTELLA; ANTÓN, 2016, p. 19) ou “Uma atitude machista implica claramente na legitimação da violência” (em tradução livre). O mesmo não ocorre necessariamente com a misandria.
A misandria, assim, tem um caráter ambíguo entre as pessoas já que, em determinados momentos, aparece como uma forma de resistência às estruturas machistas. Porém, existem diferentes discursos misândricos que inferiorizam e degradam tudo que é masculino e percebe-se situações de violências que derivam destes discursos.
É necessário observar que o número de vítimas entre a misandria e o machismo ou misoginia é quantitativamente diferente e o impacto social de ambas também. Segundo o IPEA: “De acordo com o Ipea, 40% de todos os homicídios de mulheres no mundo são cometidos por um parceiro íntimo. Em relação ao homem isso não ocorre. Apenas 6% dos assassinatos de homens são cometidos por uma parceira.”. Como se percebe uma desigualdade de gêneros e sexos ou uma desigualdade entre homens e mulheres, percebe-se porque os atos mais brandos de misandria são mais aceitos que os atos de machismo. Isto, porém, não exclui o fato de se tratar de uma forma de discriminação sexual.
A misandria é, então, considerada um tipo de discurso de ódio, que pode levar a crimes de ódio, e por isso fere tanto a Constituição Federal, em seu artigo 5º, quanto os Direitos Humanos, pois ambos rejeitam a discriminação e desigualdade entre sexos e gêneros. A relação das pessoas com a misandria pode se apresentar em diferentes graus, o que leva as pessoas a terem maior simpatia pela misandria do que pela misoginia. Pois a primeira pode muitas vezes ser lida como uma reação contra as estruturas de discriminação sexual perpetradas pelo machismo, e a última apenas a reafirmação destas estruturas, que se traduzem em violência sexual, física, psicológica etc. Porém, não se deve entender que a reação misândrica é aprovada pela lei ou pela sociedade como um todo. Ainda deve-se lembrar que a atuação da misandria em relação à misoginia tem impacto social muito menor, pois mesmo sendo um discurso de ódio que pode fazer vítimas, ela não tem poder para marcar a sociedade e a atuação masculina na sociedade, pensando em seus papeis de gênero.
Referências:
CLEMENTE, Miguel; REIG-BOTELLA, Adela; ANTÓN, Mercedes Fernández. Machismo y misandria: su estudio a través de los anuncios de televisión. In: Mundos emergentes: cambios, conflictos y expectativas. 2016. p. 13-21.
HICKMANN, Ana. Sobre misandria e a reação do oprimido. Geledés. 15 ago 2015. Disponível em: https://www.geledes.org.br/sobre-misandria-e-a-reacao-do-oprimido/
IPEA. Brasil Econômico (SP): Lei Maria da Penha não reduz número de mortes. Disponível em:http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_alphacontent&ordering=3&limitstart=11160&limit=20
POLZONOFF JR., Paulo. "O que é misandria, o ódio contra os homens que fez uma ‘gamer’ perder o emprego". Gazeta do Povo. 29 jun. 2019. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/o-que-e-misandria-odio-contra-os-homens-que-fez-gamer-perder-emprego/
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