Intertextualidade

É muito comum um texto dialogar com outro, seja de modo explícito ou implícito. Segundo Fiorin e Savioli (1999, p.19), “a esse diálogo entre textos dá-se o nome de intertextualidade”. Vamos entender a relação que se estabelece entre textos? Quais são os objetivos da construção da intertextualidade? Para entendermos esse fenômeno linguístico, sugiro que você leia o texto abaixo:

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A que gênero pertence o texto acima? O texto em questão é uma propaganda de um evento do “Hortifruti”. Como a intertextualidade é construída na propaganda? Ela é construída, tendo como referência a “Operação Lei Seca”. A frase “Se beber, sorria” relaciona-se implicitamente com “Se beber, não dirija”, assumindo um tom afirmativo, já que se trata de um suco, não de uma bebida alcoólica.

Repare que na legenda da propaganda, que foi veiculada em uma das redes sociais da empresa, há outros elementos que atuam na construção da intertextualidade com o universo do trânsito: a frase “nesse evento que é um sinal verde pra saúde”, acompanhada do desenho do semáforo; a expressão “#AlertaLeiSuco” e “#Sucometro”, em alusão ao bafômetro. O uso da intertextualidade confere à propaganda um tom interessante e divertido. Com isso, o texto atrai o público de forma inovadora.

Vale ressaltar que a compreensão da intertextualidade pressupõe a partilha de saberes entre os envolvidos com o ato comunicativo. Podemos afirmar que o público, em geral, sabe dessas informações relativas ao trânsito e, por isso, faz as associações/alusões necessárias à compreensão da propaganda. A intertextualidade é utilizada por diferentes áreas do conhecimento, atendendo aos mais diversos objetivos. Além da alusão ou referência, há outros tipos de intertextualidade. Que tal conhecê-los?

Citação

Note que no princípio deste artigo, há uma citação. Trata-se da transcrição de parte de um texto alheio, que é indicada com aspas (poderia ser com o itálico também) e com a menção à autoria. O uso da citação assegura veracidade às informações veiculadas e funciona como argumento de autoridade no texto. Reveja:

Segundo Fiorin e Savioli (1999, p.19), “a esse diálogo entre textos dá-se o nome de intertextualidade”.

Epígrafe

É um texto curto ou fragmento de texto alheio transcrito no início de um capítulo ou em página única de uma obra. No romance “Mary Barton”, de Elizabeth Gaskell, há uma epígrafe no início de cada capítulo. Ela tem a finalidade de introduzi-lo e, por isso, relaciona-se com o conteúdo dele. Confira, por exemplo, a epígrafe do capítulo 3, p. 28, intitulado “A desgraça de John Barton”:

Mas quando a manhã surgiu, sombria e triste Gelada com a chuva que veio cedo Suas pálpebras se fecharam em silêncio O amanhecer dela era diferente do nosso Hood*

Vale ressaltar que a epígrafe não se mistura com a obra. No romance citado, ela aparece com letra em tamanho menor em comparação com o texto e o asterisco aponta para a sua referência no rodapé da página.

Paráfrase

É a reelaboração das falas alheias, mantendo-se o sentido original. É dizer o que o outro disse com as nossas próprias palavras. O autor da paráfrase faz menção à autoria, como neste trecho da reportagem “Consumidor pode remarcar viagem a praias atingidas por mancha de óleo”, em que a jornalista cita a pessoa entrevistada e cuja fala é importante para noticiar o fato:

A presidente nacional da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Magda Nassar, disse que se há realmente uma macha de óleo que prejudicará o turista de qualquer forma, a viagem tem que ser reagendada ou até mesmo cancelada.

Flávia Albuquerque. Disponível em: .

Paródia

É a recriação de um texto, geralmente conhecido, com o intuito de contestar, ironizar, criticar, ou fazer refletir. Por que uma recriação? Porque o autor da paródia rompe com as ideias presentes no texto que serviu de base. Veja a seguir um exemplo de paródia:

Poema de sete faces

Carlos Drummond de Andrade

Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada.

[...]

Com licença poética

Adélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda envergonhada. Aceito os subterfúgios que me cabem, sem precisar mentir. Não sou feia que não possa casar, acho o Rio de Janeiro uma beleza e ora sim, ora não, creio em parto sem dor. Mas o que sinto escrevo.  Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos — dor não é amargura. Minha tristeza não tem pedigree, já a minha vontade de alegria, sua raiz vai ao meu mil avô. Vai ser coxo na vida é maldição pra homem. Mulher é desdobrável. Eu sou.

Vale acrescentar que o pastiche e a tradução também são formas de intertextualidade. Enfim, os diversos tipos de intertextualidade reforçam o quão a linguagem é criativa e, sobretudo, interativa!

Referências:

ANDRADE, Carlos Drummond. Poema de sete faces. Disponível em: . Acesso em: 14 de outubro de 2019.

ALBUQUERQUE, Flávia. Consumidor pode remarcar viagem a praias atingidas por mancha de óleo. Disponível em:

Acesso em: 14 de outubro de 2019.

FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. As relações entre textos. In: ___Para entender o texto: leitura e produção. 15 ed. São Paulo: Ática, 1999, p.19-25.

GASKELL, Elizabeth. Mary Barton. Tradução de Julia Romeu. 1.ed. Rio de Janeiro: Record, 2017. Título original: Mary Barton.

Hortifruti. Operação Lei Suco. Disponível em: . Acesso em: 13 de outubro de 2019.

PRADO, Adélia. Com licença poética. Disponível em: . Acesso em: 14 de outubro de 2019.

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