Linguagem formal e informal

Como os nomes indicam, a linguagem formal é a aquela que segue a forma, o modelo. Já a linguagem informal (o prefixo “in” exprime a ideia de negação) é aquela que não segue a forma, o padrão. De que forma estamos falando? A forma refere-se ao conjunto de regras gramaticais instituído pela língua. Para entendemos melhor a diferença entre essas linguagens, peço que leia o diálogo abaixo, extraído do livro “Poesia e Prosa”, de Carlos Drummond de Andrade:

– Mãe, taqui seus chocolates!

– Que chocolates, meu anjo?

– A senhora não sabe que, no Dia das Mães, dê chocolate pra ela? [...]

– Alfredinho, o médico me proibiu de comer chocolate.

– E daí? Esquece o médico. Não é Dia dos Médicos, é Dia das Mães, dia da senhora.

Podemos observar que, no geral, o filho empregou predominantemente a linguagem informal. Na primeira fala, a informalidade surge com o uso de “taqui”, que é resultado da aglutinação do verbo “tá” (redução de “está”) com o advérbio de lugar “aqui”. Em “[...] dê chocolate pra ela? [...]”, temos a redução da preposição “para” e também a regência informal do verbo “dar” (“dê pra ela” no lugar de “dê a ela”). Na passagem “– E daí? Esquece o médico. [...]”, a informalidade revela-se com o emprego do verbo “Esquece”, substituindo a forma no imperativo “Esqueça”. Em suma, há marcas da linguagem informal, sobretudo no tocante à oralidade, nas falas do filho, Alfredinho.

As falas da mãe de Alfredinho “– Que chocolates, meu anjo?” e “– Alfredinho, o médico me proibiu de comer chocolate.” foram construídas predominantemente em linguagem formal. Não se trata de um grau elevado de formalidade, mas é formal. Enfim, a linguagem dos dois está condizente com a situação comunicativa, em que se encontram.

O uso da linguagem informal ou formal depende da situação comunicativa. Sobre isso Silva (1999, p.14) explica que “a intuição do falante nativo contribui para a seleção da variante a ser usada em cada contexto. Em outras palavras sabemos o que falar, para quem, como, quando e onde”. Agora, veja este suposto bilhete que Alfredinho escreveu para convencer a mãe a aceitar os chocolates como presente:

Mãe,

Receba estes chocolates de sabor inigualável! Já posso antever a sua recusa, tendo em vista as restrições impostas pelo médico. Todavia, não é momento para receios, é momento para celebrar. O Dia das Mães acontece uma vez por ano! Sob esse prisma, a senhora disporá de 364 dias para abster-se dessa iguaria. Espero que compreenda, sem relutância, as minhas mais sinceras e afetuosas intenções ao proporcionar-lhe mais doçura em sua vida.

Seu filho que a ama demasiadamente,

Alfredinho

O que podemos dizer da linguagem empregada no referido bilhete, hein? Muito formal, não é mesmo? Soa até cômico, já que a formalidade não faz parte, no geral, desse gênero de texto. Somado a isso, temos o fato de que se trata de uma comunicação entre membros de uma mesma família, ambiente marcado majoritariamente pela informalidade.

Os verbos “Receba”, “antever”, “disporá”, “abster-se”, “proporcionar-lhe”; os adjetivos “inigualável” e afetuosas”; os substantivos “restrições”, “receios”, “iguaria”; o advérbio “demasiadamente”; a conjunção “Todavia” e expressões como “Sob esse prisma” e “sem relutância” compõem o vocabulário culto da língua. A princípio, podemos pensar que a linguagem está inadequada para um bilhete. Mas, e se a intenção do Alfredinho for surpreender a mãe e/ou criar um efeito cômico para a restrição ao chocolate? Aí, nesse caso, há adequação. Por isso, cabe evidenciar que a linguagem (formal ou informal) precisa estar em consonância com o contexto comunicativo.

Referências:

ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988.

SILVA, Taís Cristófaro. Fonética e Fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. 2.ed. São Paulo: Contexto, 1999. p.11-47.

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