A morte cerebral ou morte encefálica é quando o cérebro e o tronco cerebral perdem irreversivelmente as suas funções e é o fator utilizado pelos médicos para determinar se um paciente está morto ou não. Legalmente também é usado este critério. A pessoa com morte cerebral pode ter seu coração ainda batendo por algum tempo, mas ela não é mais capaz de respirar nem digerir comida sem a ajuda de aparelhos e não possui chances de se recuperar.
Porém, tão instigante quanto a pergunta sobre “de onde viemos?” é a questão que envolve a determinação do fim da vida. Ao mesmo tempo em que o desenvolvimento de tecnologias que permitem substituir as funções dos pacientes em estado grave permitiram uma melhora significativa no atendimento destes pacientes, elas também tornaram ainda mais incerto determinar quando é hora de dizer adeus: é possível manter um corpo vivo através de aparelhos que até respiram por ele, mesmo que a pessoa nunca mais vá recobrar a consciência. Foi o que aconteceu, em 1993, com a norte-americana Trisha Marshal que foi internada em uma UTI após ser baleada na cabeça. Grávida de três meses Trisha foi dada como clinicamente morta (seu cérebro não voltaria a funcionar), porém sua família insistiu que os médicos a mantessem ligada aos aparelhos até que seu filho nascesse. E assim o bebê nasceu de uma mãe clinicamente morta havia três meses. Ou seja, seu corpo continuou funcionando mantido pelos aparelhos mesmo que Trisha já estivesse clinicamente morta.
Até hoje essa questão é cercada de polêmicas, ainda mais quando se entra na discussão sobre quando interromper o sofrimento de alguém que está em estado vegetativo (a chamada eutanásia), e embora pareça haver um consenso, ainda há muito o que discutir.
Até o século XIX eram usadas diversas técnicas (algumas até bizarras) para determinar se o defunto estava mesmo morto. Valia desde puxar a língua do defunto por três horas seguidas até colocá-lo em câmaras mortuárias para que ficasse lá, com outros corpos, sendo vigiado até começar a apodrecer.
Felizmente, hoje em dia, graças a Eugene Bouchut e Paul Brouardel ainda no século XIX, além de outros avanços da medicina, existem técnicas confiáveis para se determinar quando não há mais atividade cerebral. Veja a seguir as técnicas que podem ser utilizadas pelos médicos contemporâneos:
- Antes de tudo são realizados exames toxicológicos e de temperatura corporal para verificar se há alguma condição que possa alterar o resultado dos testes como ingestão de bebidas alcoólicas ou drogas;
- Pupilas fixas: é direcionado um facho de luz (como de uma lanterna) nos dois olhos abertos do paciente um de cada vez. Em um paciente vivo isso provoca retração das pupilas, em um paciente com morte encefálica nada acontece;
- Reflexo oculocefálico: também chamado de “olhos de boneca” esse exame consiste em abrir os olhos do paciente e virar sua cabeça para ambos os lados. Se o paciente estiver mesmo morto seus olhos permanecerão fixos, em um paciente com cérebro ainda ativo, os olhos deverão se movimentar em sentido contrário ao da cabeça;
- Flacidez: em um paciente com morte encefálica não há qualquer reação ou resistência a movimentação de seus membros. Em um paciente com cérebro ainda vivo pode haver alguma reação ou resistência aos movimentos;
- Reflexos da córnea: o médico passa um cotonete nos dois olhos abertos do paciente, se o cérebro ainda estiver vivo haverá a reação de piscar;
- Estimulação supra-orbitária: o médico pressiona fortemente com o polegar a saliência da sobrancelha do paciente. Se o cérebro ainda estiver vivo haverá reações dos chamados reflexos posturais primitivos;
- Reflexo Oculovestibular: o médico examina o canal auditivo do paciente para verificar se não há alguma lesão ou cera que prejudique o teste e em seguida aplica com o auxílio de uma seringa soro gelado nos dois ouvidos do paciente. Se seu cérebro ainda estiver vivo a diferença brusca de temperatura no ouvido provocará uma reação violenta dos olhos do paciente;
- Engasgar: o médico pode abaixar (pressionar levemente) a traquéia do paciente ou ainda inserir um tubo. Em um paciente vivo isso fará com que ele engasgue. Se houver morte encefálica, nada acontecerá;
- Apnéia: este é o teste mais polêmico e o último a ser realizado. O médico remove ou desliga os aparelhos que auxiliam o paciente a respirar e aguarda até que seus níveis de dióxido de carbono no sangue cheguem a 55 mmHg. Um cérebro vivo tentará respirar espontaneamente, já um cérebro morto não. Porém, alguns médicos defendem que este teste pode chegar a matar um paciente que poderia se recuperar por privar o cérebro de oxigênio ou ainda causar lesões sérias no cérebro do paciente.
- Além de todos estes testes podem ainda ser solicitados pelo médico para confirmação de que não há mesmo atividade cerebral, os exames de eletroencefalograma (EEG) que mede os impulsos elétricos no cérebro (um paciente vivo possui ao menos um mínimo de impulsos cerebrais) e um outro que avalia o fluxo sanguíneo cerebral, o que não existe em um paciente com morte encefálica;
É importante lembrar que a morte cerebral é diferente do coma. Os pacientes em coma mantêm algum nível de sinal cerebral que pode ser detectado em uma eletroencefalograma e pode variar muito de intensidade de acordo com o caso, porém ainda tem chances de se recuperar ainda que o quadro possa evoluir para morte cerebral. Já o paciente com morte cerebral não apresenta sinal algum e o quadro é irreversível.
Fontes http://super.abril.com.br/superarquivo/2005/conteudo_418494.shtml http://saude.hsw.uol.com.br/morte-cerebral1.htm
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