Embora o Aquecimento Global e seus efeitos já sejam sentidos e observados no mundo todo, uma pequena parcela da população mundial continua a negar a existência deste efeito. Seja por ignorância, seja por influência política ou econômica, o negacionismo do Aquecimento Global é uma corrente ideológica tão perigosa quanto o próprio fenômeno de mudanças climáticas, potencializando seus efeitos danosos.
Os negacionistas do Aquecimento Global tentam embasar seus argumentos majoritariamente na ideia de que o planeta Terra passa por fluxos contínuos de flutuação de temperatura ao longo dos milênios. Segundo essa ideia, o que estamos passando seria apenas um aquecimento normal do sistema terrestre, precedendo uma era de resfriamento e glaciação. Contudo, essas pessoas falham ao não enxergar ou não aceitar debater dados robustos obtidos por diversos grupos científicos ao redor do mundo que comprovam que as taxas de aquecimento atuais são inéditas para a história da Terra e coincidem com a Revolução Industrial da humanidade (período que marca o início da queima e liberação de gases do efeito estufa em concentrações elevadas).
Outro argumento dessa vertente ideológica é o de que os invernos em muitos locais têm sido mais frios, contradizendo a ideia de aquecimento divulgada por cientistas e pela mídia séria. Essa generalização é simplista e infantil, demonstrando a falta de capacidade argumentativa desse grupo. O Aquecimento Global não se trata apenas do aumento das temperaturas médias globais. Um dos principais efeitos secundários deste fenômeno é a ocorrência de climas extremos, sejam eles mais frios, mais quentes, mais úmidos ou mais secos. Isso evidencia a falta de equilíbrio do componente climático como um todo, induzindo extremos que são deletérios para os componentes bióticos e abióticos dos ecossistemas em que tais fenômenos ocorrem. O aumento da incidência de tornados, tufões e chuvas torrenciais, por exemplo, pode causar grandes danos a áreas que antes não eram afetadas por tais fenômenos. Isso pode ainda dificultar mais a vida daqueles que já sofriam com essas catástrofes naturais, mas que agora passam por efeitos potencializados.
Segundo os negacionistas, o Aquecimento Global (defendido por eles como “natural”) apresenta ainda efeitos positivos, como a capacidade de induzir o aumento da produção agrícola global e o de tornar terras inacessíveis ou inférteis em cultiváveis (principalmente no extremo hemisfério norte, como no Canadá e Rússia). Diversos pesquisadores têm estudado nas últimas décadas os efeitos de uma atmosfera mais rica em CO2 sobre o crescimento vegetal de diversas variedades de interesse agrícola. O que eles têm observado é que, embora inicialmente haja um crescimento mais proeminente, o valor nutricional destas plantas cai, o que anula qualquer ganho. Sobre o ganho de terras cultiváveis em países do hemisfério norte, basta pesar na balança o quão devastador seria um degelo intenso dos polos sobre a vida e a economia global para se compreender que esse ganho de território não deve ser celebrado, mas sim evitado.
Comumente as pessoas que defendem o negacionismo do Aquecimento Global tem algum interesse político, econômico ou ideológico com a manutenção do sistema poluidor vigente. Muitos são cientistas, lobistas ou políticos financiados por industrias petrolíferas ou associadas a ramos altamente poluidores (como carvão mineral e mineração). Como vivemos em um mundo majoritariamente capitalista, a influência e o poder exercidos pelo dinheiro ainda causam muitos problemas.
Compreender que somente a mudança de atitude de produção e consumo humana será capaz de reverter o quadro vigente de aquecimento global é a chave para a tomada de decisões e iniciativas efetivas no controle das emissões de gases do efeito estufa. Como o negacionismo é contrário a isto, ele se torna tão danoso quanto o próprio fenômeno de aquecimento, educando erroneamente muitas pessoas que são influenciáveis no sentido de faze-las acreditar que nada está errado. A busca por informações verdadeiras e embasadas em pesquisa de qualidade é a melhor maneira de cobrar as autoridades uma postura menos negacionista e mais ativa contra o Aquecimento Global.
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Referências:
Baigorri, A. and Caballero, M., 2018. Negacionismo, políticas demoscópicas y currículum de fracasos. El caso del cambio climático en España. Aposta. Revista de Ciencias Sociales, 77, pp.8-58.
Norgaard, K.M., 2006. “We don't really want to know” environmental justice and socially organized denial of global warming in Norway. Organization & Environment, 19(3), pp.347-370.
Weart, S., 2011. Global warming: How skepticism became denial. Bulletin of the atomic scientists, 67(1), pp.41-50.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/ecologia/negacionismo-do-aquecimento-global/
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