Os resíduos oriundos das práticas agrícolas são um tipo de poluição próprio que resulta na contaminação do solo e da água, degradando os ecossistemas naturais do entorno das plantações e pondo em risco vidas humanas e a sobrevivência da fauna e flora. A poluição causada pela agricultura pode ocorrer de modo pontual (em um local especifico e identificável) ou de modo difuso, atingindo grandes extensões territoriais, sem respeitar as fronteiras estabelecidas pela humanidade.
Existem alguns elementos especialmente preocupantes e que geram a maior parte dos poluentes agrícolas:
Substancias usadas no controle de pragas, os pesticidas costumam ser produtos químicos sintéticos com efeito especifico sobre determinado tipo de organismo (fungo, bactéria, insetos). O acumulo de pesticidas no solo pode afetar a microbiota local, que é essencial para o crescimento vegetal sadio. Além disso, se o produto utilizado for de amplo espectro, ele pode causar a morte da fauna local, incluindo organismos polinizadores que são benéficos para a agricultura. Seu maior risco é a lixiviação, processo que os carreia pelo interior do solo até fontes de água subterrânea, contaminando-as. O produto a ser utilizado, o modo de aplicação e as concentrações usadas são cruciais para evitar danos ambientais.
A adição de nutrientes para favorecer o crescimento das plantações é uma pratica milenar. Contudo, o uso sem controle de grandes quantidades de fertilizantes pode afetar os ciclos biogeoquímicos de nutrientes essenciais como o nitrogênio e o fosforo, ambos presentes no fertilizante comercial mais utilizado, o NPK. O nitrogênio se acumula no solo, afetando inclusive a atmosfera por gerar poluentes voláteis (como o N2O que pode destruir a camada de ozônio). Outro grande problema é a eutrofização de corpos d’água nas proximidades das áreas fertilizadas, pois a chuva ou a irrigação constante podem carrear o nitrogênio e o fosforo para lagos e rios, induzindo a floração de microalgas e cianobactérias que afetam gravemente a estabilidade ecológica do ambiente aquático.
A introdução de metais pesados (como cadmio, mercúrio e arsênio) ocasiona uma série de efeitos danosos aos componentes bióticos e abióticos dos ecossistemas, e ocorre principalmente através de práticas agrícolas indevidas. O uso de resíduos industriais ou da pecuária como fertilizantes pode carrear contaminantes se não houver grande cuidado com o tratamento destes resíduos. Outra fonte de metais seria o uso de áreas previamente contaminadas ou que naturalmente tem uma formação geológica rica em metais sem um estudo de viabilidade prévio. O uso e manejo do solo é essencial ao longo de toda a pratica agrícola para evitar erosão e o acumulo destes sedimentos.
O transporte de contaminantes, pestes e organismos invasores foi fortemente influenciado pelas ações humanas. Espécies vegetais que causam distúrbios ecológicos e competem com as plantas locais podem danificar as plantações e, além das cercas, causar a destruição de ecossistemas naturais, com extinções locais. Além das medidas legais de controle e monitoramento estabelecidas por órgãos públicos, é importante disseminar conscientização entre a população, evitando que haja o transporte indevido de espécies.
Grandes produtores de milho e soja no mundo já utilizam versões geneticamente modificadas dessas espécies para aumentar sua produção. Contudo, é importante ressaltar que este uso deve ser sempre muito cuidadoso e monitorado, pois estes OGMs podem hibridizar com plantas nativas (quando eles são férteis) ameaçando a diversidade e o equilíbrio ecológico. Vale ressaltar que muitos OGMs podem ser aliados contra a poluição agrícola, uma vez que existem variedades naturalmente mais resistentes que reduzem a necessidade de uso de fertilizantes e pesticidas.
Somente um manejo eficiente e sustentável pode minimizar os impactos das atividades agrícolas. Algumas das ações mais aconselhadas são o uso racional de produtos defensivos, com aplicação pontual, manejo do solo através da rotatividade das culturas, preservação de corredores naturais e fragmentos florestais nas proximidades das fazendas, uso consciente de água e busca por métodos de fertilização e adubagem mais naturais (substituindo fontes químicas ou artificiais).
Leia também:
Referências:
Arao, T., Ishikawa, S., Murakami, M., Abe, K., Maejima, Y. and Makino, T., 2010. Heavy metal contamination of agricultural soil and countermeasures in Japan. Paddy and water Environment, 8(3), pp.247-257.
Conway, G.R. and Pretty, J.N., 2013. Unwelcome harvest: agriculture and pollution. Routledge.
Moss, B., 2008. Water pollution by agriculture. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, 363(1491), pp.659-666.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/ecologia/poluicao-causada-pela-agricultura/
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