Predicado é o termo da oração que desempenha o papel de fazer uma declaração sobre algo ou alguém; tal função é denominada predicação. Ao identificarmos o elemento que exerce a função de núcleo do predicado, podemos, também, determinar o tipo de predicação presente na oração. Nesse sentido, se identificamos um verbo como elemento nuclear na formação do predicado, temos uma predicação verbal.
Entretanto, a predicação verbal tem como núcleo dessa declaração um verbo significativo, ou seja, um verbo que traz uma ideia nova sobre o sujeito. Por essa razão, os verbos de ligação (ou copulativos) não participam do processo de predicação verbal, pois não introduzem uma ação, mas o estado do sujeito. Assim, desempenham a função de introduzir o predicativo do sujeito na oração e formam o tipo de predicado nominal.
Porém, é necessário dedicar atenção especial a esses casos e ao contexto em que são aplicados os verbos, pois ora eles atuam como verbos de ligação (ou copulativos), ora como verbos significativos. Veja exemplos dos verbos ficar, estar continuar, andar e viver para entender essa diferença:
- Rodrigo ficou doente na madrugada antes da prova. (doente = predicativo do sujeito) - Fiquei na sala enquanto esperava o atendimento.
- As mesas e cadeiras estão deterioradas. (deterioradas = predicativo do sujeito) - Estavas em casa naquela tarde.
- As flores continuam exuberantes. (exuberantes = predicativo do sujeito) - Continuamos a marcha em direção à prefeitura.
- Daniel anda cabisbaixo, os amigos vivem preocupados com ele. (anda e cabisbaixo = predicativos do sujeito) - Andei muito hoje. Vivo bem nesta cidade.
Em cada par de orações, temos o seguinte:
Vale lembrar quais são os principais verbos de ligação: ser, estar, permanecer, ficar, tornar-se, andar (no sentido de estado circunstancial = anda cabisbaixo), parecer, virar, continuar, viver (expressa um estado constante = vivem preocupados).
Para que se compreenda qual é o tipo de predicação estabelecida na oração, é importante entender, também, o conceito de transitividade verbal, processo por meio do qual a ação verbal se transmite (ou transita) a outros termos da oração, que atuam como seus complementos.
Dessa forma, quanto à predicação, os verbos apresentam a seguinte classificação: 1) verbos intransitivos; 2) verbos transitivos diretos, indiretos, e diretos e indiretos (bitransitivos).
Há verbos cujos sentidos não dependem de complementos, pois eles já contêm em si mesmos uma ideia, uma ação. Esses verbos apresentam, portanto, predicação completa e classificam-se como verbos intransitivos. Veja os exemplos:
Nossas encomendas chegaram. As plantas morreram. Os peixes nadam. Em agosto, as cerejeiras florescem.
Observe que, para a compreensão da informação sobre o sujeito das orações acima, não necessitamos de outros complementos além do verbo. Isso é possível porque os verbos destacados apresentam ideia de ação completa.
Por outro lado, há verbos que trazem consigo a necessidade de complementação por outros termos para formarem o predicado. São verbos que apresentam predicação incompleta e são denominados verbos transitivos. Veja exemplos:
José puxou a rede no fim da tarde. No sábado, nós assistimos ao desfile. Eu comprei os melhores livros da promoção. Sebastião encontrou o dinheiro embaixo da cama.
Percebe-se que os verbos acima, sem os respectivos complementos, apresentam informação incompleta. A fim de facilitarmos a identificação do verbo quanto à predicação, podem-se fazer perguntas a ele: puxou - o quê? Assistimos - a quê? Comprei - o quê? Encontrou – o quê?
As perguntas acima indicam que a relação entre os verbos transitivos e os complementos pode se estabelecer de diferentes modos. Em algumas vezes, os verbos ligam-se aos complementos diretamente (verbos puxar e comprar); outras vezes, o próprio verbo transitivo irá indicar o uso de uma preposição que faça essa ligação (verbo assistir “solicita” a preposição "a" antes do complemento – verbo encontrar).
Por isso, os verbos transitivos classificam-se em a) diretos, b) indiretos, e, também, c) diretos e indiretos (bitransitivos):
Verbos transitivos diretosSão os verbos cuja relação com o seu complemento é construída de modo direto, ou seja, sem a presença de preposições que se interponham entre eles. Assim, nessa relação, o complemento verbal é denominado objeto direto. Considere os seguintes exemplos:
João trazia suas ferramentas na mala. (trazia = verbo transitivo direto / suas ferramentas = objeto direto)
Nós adotamos os cães. (adotamos = verbo transitivo direto / os cães = objeto direto)
Naquela noite, ela usou o longo vestido negro. (usou = verbo transitivo direto / o longo vestido negro = objeto direto)
Comprei o terreno e construí a casa. (comprei e construí = verbos transitivos diretos / um terreno e a casa = objetos diretos)
Verbos transitivos indiretosSão aqueles que necessitam de uma preposição para se ligarem ao complemento verbal, fazendo com que a relação entre eles seja estabelecida de modo indireto. Seu complemento denomina-se, portanto, objeto indireto. Veja exemplos:
Os filhos obedecem aos pais. (obedecem a - obedecer a = verbo transitivo indireto / os pais = objeto indireto)
“Ansiava pelo novo dia que vinha nascendo.” (Fernando Sabino) (ansiava por - ansiar por = verbo transitivo indireto / o novo dia = objeto indireto)
Ele crê na sua absolvição em breve. (crê em - crer em = verbo transitivo indireto / a sua absolvição = objeto indireto)
Observe que nos casos acima as preposições e os artigos estão contraídos, ou seja, estão unidos para que formem uma única palavra, mesmo que em alguns casos sofram alguma redução. Veja como foram construídos:
Obedecem aos pais = prep. a + art. definido os
Ansiava pelo novo dia = prep. por + art. definido o
Ele crê na sua absolvição = prep. em + art. definido a
Verbos transitivos diretos e indiretos (bitransitivos)São verbos que necessitam de dois complementos, dois objetos - direto e indireto, respectivamente - para transmitirem a ação verbal. Alguns exemplos:
Dona Rosa oferecia refeições aos pobres. (oferecia – oferecer = verbo transitivo direto e indireto / refeições = objeto direto / aos pobres = objeto indireto)
A professora ensinou a matéria aos alunos. (ensinou – ensinar = verbo transitivo direto e indireto / a matéria = objeto direto / aos alunos = objeto indireto)
Sem que fosse visto, o menino entregou a carta ao pai. (entregou – entregar = verbo transitivo direto e indireto / a carta = objeto direto / ao pai = objeto indireto).
Percebe-se que, nos exemplos acima, os verbos “solicitam” que o complemento indique: o que se oferecia (refeições) e a quem (aos pobres); o que se ensinou (a matéria) e a quem (os alunos); e o que se entregou (a carta) e a quem (o pai).
Em alguns casos, é o emprego do verbo na oração que vai determinar a sua transitividade. Ou seja, alguns verbos podem apresentar variação na transitividade a depender do contexto em que forem utilizados. Um exemplo disso é o verbo pagar. Veja exemplos:
Ronaldo pagou o boleto. (verbo transitivo direto)
O menino pagou ao vendedor. (verbo transitivo indireto)
Paguei o ordenado ao meu funcionário. (verbo transitivo direto e indireto)
Bibliografia:
ABAURRE, M. L. M.; ABAURRE, M. B. M.; PONTARA, M. Português: contexto, interlocução e sentido. Manual do professor. Vol. 2. São Paulo: Moderna, 2008. 864p.
CEGALLA, D. P. Nova Minigramática da Língua Portuguesa – Novo Acordo Ortográfico. 3ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009. 409 p.
CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 6ª ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2013. 800 p.
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