Reprodução em cativeiro

Quando falamos sobre um animal ou planta em cativeiro, nos referimos a ele estar em um espaço físico sem liberdade, em condições artificias, controlado por humanos. Como exemplo, temos os jardins zoológicos, mantenedores e criadouros de fauna, os aquários, os jardins botânicos, bancos de sementes, etc.

Os jardins botânicos mantêm coleções vivas e exsicatas (exemplares não vivos, que mantém características das plantas), muito importante para identificação de espécies e informações de plantas ameaçadas. Algumas instituições chegaram a criar banco de sementes, que são coleções com grande potencial nos esforços de conservação.

Colecionadores de animais, com intuito de entretenimento, aparecem há séculos na história da humanidade. Há registros no Egito Antigo e na China de homens que usavam as coleções para ostentar um tipo de poder. Só na era Moderna os Zoológicos passaram a ser centros de pesquisa e apesar do objetivo principal ser a exposição de animais, hoje, eles podem ser grandes aliados à conservação.

Objetivo

A reprodução em cativeiro pode manter as coleções vivas, sem a necessidade de retirar nenhum indivíduo da natureza. Por isso, há trocas de indivíduos entre instituições do mundo todo.

Ter coleções de animais e plantas ex situ, pode ser uma importante estratégia para conservação de espécies. Em países tropicais, com tamanha diversidade, como o Brasil, há poucos estudos sobre todas as espécies na natureza e ter uma espécie em cativeiro é uma forma de fazer pesquisas diversas. Entendendo sobre o manejo, dados nutricionais, genética, etc. A conservação ex situ é uma ferramenta poderosa para evitar a extinção de espécies e ela é complementar à conservação in situ.

O objetivo maior da reprodução em cativeiro é manter populações cativas viáveis. Para isso, muitas técnicas têm sido desenvolvidas com o intuito de aumento das taxas reprodutivas, evitando acasalamento entre parentes próximos, para não gerar deriva genética e depressão endogâmica. Dentre elas, podemos ter a inseminação artificial, adoção cruzada, incubação artificial de ovos, transferência de embriões, entre outras.

Conservação

Da mesma forma, o conhecimento adquirido por criadores profissionais legalizados, aquários, e outras entidades, pode contribuir com a conservação. Os programas de reprodução em cativeiro de espécies ameaçadas podem ser realizados por Zoológicos, Criadouros Científicos de Fauna Silvestre, Centros de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) e Centros de Triagem de Animais Silvestres (CETAS).

Um exemplo clássico da literatura e um dos mais antigos é o da espécie Elaphurus davidianus, Cervo de Père David, que foi extinta na natureza e voltou a ter uma população viável depois da reprodução com 12 animais sobreviventes, em cativeiro. Existem vários outros casos pelo mundo, como Furão de Pés Negros, Bisão Europeu, Órix da Arábia, etc. No Brasil, o projeto mais antigo é o programa internacional para reprodução em cativeiro do mico leão dourado, em 1972, para reintrodução em locais onde haviam sido extintos. Em 1984 foram reintroduzidos os primeiros indivíduos e em 2008 a população já estava acima de 1500 animais.

Cervo de Père David (Elaphurus davidianus). Foto: Sandra Standbridge / Shutterstock.com

Hoje, no país existem os Planos de Ações Nacionais para a Conservação de Espécies Ameaçadas, que podem pedir a reprodução em cativeiro, como parte do programa. Um desses planos é para o Mutum do Nordeste (Pauxi mitu), que é uma ave extinta na natureza e chegou a ter apenas 4 indivíduos em cativeiro. Graças à reprodução em cativeiro, hoje existe mais de uma centena de animais que estão sendo manejados para o desenvolvimento de uma população viável e futura reintrodução.

Temos o caso da Jacutinga (Aburria jacutinga), também extinta em várias áreas de ocorrência de Mata atlântica. SAVE Brasil iniciou em 2010 o Programa para a Conservação das Aves Cinegéticas na Mata Atlântica – Projeto Jacutinga, que já apresenta reintrodução bem-sucedida de indivíduos reproduzidos em cativeiros.

Outro caso que levanta a bandeira para a conservação da biodiversidade é o Projeto Ararinha na Natureza, que pretende devolver à natureza a espécie ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), a qual tem seus últimos exemplares apenas em cativeiro. Com estudo genético e manejo correto, a reprodução ex situ pode levar à reintrodução desta espécie em seu habitat natural.

Referência:

PRIMACK, Richard; RODRIGUES, Efraim. Biologia da Conservação. Londrina: E. Rodrigues, 2001.

PIRATELLI, A. J; FRANCISCO, M. R. (org), Conservação da biodiversidade: dos conceitos às ações. Rio de Janeiro: Technical Books, 2013.

https://revistapesquisa.fapesp.br/2017/01/09/a-gaiola-que-salva/

http://www.savebrasil.org.br/jacutinga/

http://www.savebrasil.org.br/ararinha-na-natureza/

http://www.revistaea.org/pf.php?idartigo=1434

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