Durante os anos 1970, se popularizou uma teoria que previa o resfriamento do planeta até a ocorrência de uma era glacial eminente. Esta teoria se baseava em anomalias registradas na temperatura atmosférica global causada pela intensa liberação de aerossóis que causava queda de temperatura em algumas regiões do planeta. Contudo, ao longo dos anos, diversos grupos de pesquisa foram desmistificando essa teoria e demonstrando através de dados e modelos robustos que a real preocupação climática está no aquecimento global.
Embora a maior parte dos artigos científicos publicados internacionalmente em 1975 discutissem os perigos dos gases do efeito estufa e do aquecimento do planeta, uma parte dos cientistas da época (cerca de 10%) acreditavam que os dados de medição térmica acumulados ao longo dos anos revelavam uma tendência de resfriamento global. Apesar dessa grande diferença, o público em geral rapidamente passou a discutir a possibilidade de uma nova era glacial, induzido pela mídia e por corporações interessadas em desviar a atenção das suas emissões poluidoras.
Segundo os modelos de resfriamento, o clima global seria intensamente afetado por aerossóis contendo sulfatos que reduziriam a radiação solar que chega até a superfície do planeta, o que causaria a diminuição das temperaturas médias globais. Esses aerossóis específicos são liberados por combustão incompleta de combustíveis e pelo uso direto de certos compostos. Com o passar do tempo e o estabelecimento de regulamentações ambientais, os processos de combustão em veículos e industrias tem se tornado cada vez mais eficiente. Além disso, diversos aerossóis considerados danosos para o meio ambiente foram proibidos de serem utilizados no mundo todo. Assim, os principais efeitos causadores do suposto resfriamento global deixaram de existir na equação climática, revelando o real perigo das ações humanas como principais contribuintes das mudanças do clima mundial.
Embora durante toda a década de 1970 e início de 1980 o resfriamento global tenha sido assunto de debates científicos, ressurgindo pontualmente na atualidade, esta teoria pode ser considerada como refutada. Porém, para parte da mídia e dos líderes políticos, essa discussão entre pesquisadores e a aparente incerteza entre resfriamento ou aquecimento global, produziu uma impressão de insegurança nos resultados das pesquisas. Isto foi usado por muitos anos como álibi para inocentar grandes empresários e governos na sua omissão em tomar decisões efetivas contra o aumento das concentrações de CO2 e outros gases na atmosfera. Adicionalmente, muitos grupos de cientistas sérios entenderam que parte do que era visto como resfriamento na verdade representava efeitos regionais do escurecimento global, outro fenômeno relacionado a poluição de origem humana na atmosfera.
Um dos últimos e mais recentes argumentos apresentados sobre o resfriamento global diz respeito a um efeito direto do aquecimento global. Com o aumento da temperatura e a intensificação do processo de degelo tanto das calotas polares quanto do gelo continental, o governo dos Estados Unidos financiou um estudo para avaliar se o acréscimo de toneladas de água de origem polar seria capaz de afetar o equilíbrio da termohalina das correntes oceânicas profundas do oceano atlântico norte. A preocupação era que a modificação térmica das águas do oceano pudesse afetar os ciclos térmicos atmosféricos, induzindo a formação de intensas massas de ar frio. A conclusão deste estudo foi que este efeito poderia vir a acontecer, mas somente daqui a mais de 8 mil anos, quando geologicamente estaríamos saindo de um período interglacial. É curioso ressaltar que este estudo foi a inspiração para o filme “Um dia depois de amanhã”, de 2004, enquanto os efeitos do aquecimento global nunca foram propriamente representados em uma grande produção de Hollywood.
Referências:
Gribbin, J., 1975. Cause and effects of global cooling. Nature, 254(5495), pp.14-14.
Jungclaus, J.H., Haak, H., Esch, M., Roeckner, E. and Marotzke, J., 2006. Will Greenland melting halt the thermohaline circulation?. Geophysical Research Letters, 33(17).
Peterson, T.C., Connolley, W.M. and Fleck, J., 2008. The myth of the 1970s global cooling scientific consensus. Bulletin of the American Meteorological Society, 89(9), pp.1325-1338.
Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/geografia/resfriamento-global/
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