A Cidade e as Serras é uma obra de Eça de Queirós, autor do Realismo português, que apresenta características da escola Naturalista.
Publicada em 1901, o romance que tem 16 capítulos, é uma crítica à vida urbana, à tecnologia e à revolução industrial.
O romance é narrado por José Fernandes, amigo do nosso protagonista Jacinto.
A narração tem início com a apresentação de Jacinto e sua família. De origem portuguesa, Jacinto vive em Paris.
Seu avô (Jacinto Galião) havia deixado Portugal para viver na França quando D. Miguel (irmão de D. Pedro I) mudou-se para a França.
O avô de Jacinto tinha grande gratidão por D. Miguel pelo fato de ele o ter ajudado.
Cintinho, o pai de Jacinto (que também se chamava Jacinto), tinha sido uma criança doente e triste. Morreu jovem, antes de Jacinto nascer.
Jacinto foi uma criança feliz e tudo lhe corria bem. Por esse motivo, seu amigo José Fernandes o tinha apelidado de “O Príncipe da Grã-Ventura”.
José Fernandes tinha sido expulso da Universidade em Portugal e foi para a França. Tempos depois ele recebe uma carta de um tio pedindo que ele regresse a Portugal para cuidar das terras da família, pois o tio não tinha mais condições de o fazer.
José Fernandes vai e, sete anos depois, volta para Paris, onde encontra seu amigo rodeado de inovações tecnológicas: telégrafo, elevador, aquecedor, entre outros.
Ao longo do romance, são narrados episódios em que acontecem falhas nos equipamentos modernos de Jacinto na mansão onde vive, no n.º 202 dos Campos Elíseos: falta de luz, problemas no elevador e no encanamento.
Deste modo, Jacinto, que tinha crescido tão feliz, saudável, inteligente e rodeado de inovações, começa a se desiludir com a sua vida.
Então, o amigo aconselha que ele vá viver para o campo para descansar dos ares citadinos. Jacinto recusa de forma imediata.
Nesse ínterim, José Fernandes vai viajar por inúmeros lugares na Europa e sente a importância que dá às suas origens.
Por essa altura, Jacinto não tinha mais paciência com aquilo que outrora teria sido o seu prazer: festas, luxos, equipamentos modernos.
Um dia, Jacinto recebe a notícia de que a igrejinha onde os restos mortais dos seus antepassados estavam tinha sido soterrada.
Dá ordens para que seja gasto o dinheiro necessário para a sua reconstrução. Quando é avisado de que a obra foi concluída resolve ir para Portugal.
Sua ida para Portugal foi preparada com três meses de antecedência. Jacinto enviou todo o mobiliário de Paris para Portugal porque queria encontrar lá o mesmo ambiente da mansão em que vivia na França.
Quando chega a Tormes (Portugal), a mudança ainda não havia chegado e ele tem de passar dias dormindo em um colchão de palha e comendo modestamente.
Desconfortável, Jacinto decide que deve passar uns tempos em Lisboa, mas ele gosta da paisagem e isso faz com que ele permaneça no campo.
Ao regressar da cidade onde tinha ido visitar sua tia, Zé Fernandes encontra o amigo bem disposto e alojado em Tormes.
O amigo não se preocupava mais com a mudança que nunca tinha chegado, pois tinha sido enviada para Tormes, na Espanha.
Um dia, Jacinto encontra uma criança pobre e a acompanha até a sua casa. A família da criança é empregada de Jacinto e ele se impressiona com a situação de miséria em que eles vivem.
Jacinto resolve ajudar e promete melhorar as condições dos seus empregados com aumento de salários e construção de infraestruturas. As pessoas se encantam e passam a expressar uma certa devoção a Jacinto.
Finalmente, Jacinto conhece uma moça chamada Joaninha, com quem se casa tempos depois.
Nessa altura, a mobília e equipamentos enviados de Paris chegam a Portugal. Com exceção de algumas coisas (o telefone, por exemplo), a maior parte é guardada no sótão.
"O meu amigo Jacinto nasceu num palácio, com cento e nove contos de renda em terras de semeadura, de vinhedo, de cortiça e de olival.
No Alentejo, pela Estremadura, através das duas Beiras, densas sebes ondulando pôr e vale, muros altos de boa pedra, ribeiras, estradas, delimitavam os campos desta velha família agrícola que já entulhava o grão e plantava cepa em tempos de el-rei d.Dinis. A sua Quinta e casa senhorial de Tormes, no Baixo douro, cobriam uma serra. Entre o Tua e o Tinhela, pôr cinco fartas léguas, todo o torrão lhe pagava foro. E cerrados pinheirais seus negrejavam desde Arga até ao mar de âncora. Mas o palácio onde Jacinto nascera, e onde sempre habitara, era em Paris, nos Campos Elísios, nº.202."
"Numa dessa manhãs – justamente na véspera do meu regresso a Guiães – o tempo, que andara pela serra tão alegre, num inalterado riso de luz rutilante, todo vestido de azul e ouro, fazendo poeira pelos caminhos, e alegrando toda a natureza, desde os pássaros até os regatos, subitamente, com uma daquelas mudanças que tornam o seu temperamento tão semelhante ao do homem, apareceu triste, carrancudo, todo embrulhado no seu manto cinzento, com uma tristeza tão pesada e contagiosa que a serra entristeceu. E não houve mais pássaro que cantasse, e os arroios fugiram para debaixo das ervas, com um lento murmúrio de choro."
"Em fila começamos a subir para a Serra. A tarde adoçava o seu esplendor de Estio. Uma aragem trazia, como ofertados, perfumes das flores silvestres. As ramagens moviam, com um aceno de doce acolhimento, as suas folhas vivas e reluzentes. Toda a passarinhada cantava, num alvoroço de alegria e de louvor. As águas correntes, saltantes, luzidias, despediam um brilho mais vivo, numa pressa mais animada. Vidraças distantes de casas amáveis flamejavam com um fulgor de ouro. A Serra toda se ofertava, na sua beleza eterna e verdadeira. E, sempre adiante da nossa fila, pôr entre a verdura, flutuava no ar a bandeira branca, que o Jacintinho não largava, de dentro do seu cesto, com a haste bem segura na mão. Era a bandeira do Castelo, afirmara ele."
Confira a obra na íntegra, fazendo o download do PDF aqui: A Cidade e as Serras.
O romance trata de uma análise à vida rural e à vida urbana. José Fernandes apoia a primeira, enquanto Jacinto, a segunda.
Jacinto não consegue se imaginar sem as modernices dos equipamentos e deseja tudo o que há de mais moderno.
Ele acredita que a felicidade do homem está na modernidade. Ao mesmo tempo, porém, ele considera-se um dependente dessa situação, o que o incomoda.
Seu regresso às origens faz com que Jacinto passe a valorizar a natureza e abrir mão das tecnologias.
Critica a ânsia pela modernidade, embora reconheça a sua importância. Fato que se revela quando mantém o aparelho de telefone em sua casa, na casa de seus sogros, de José Fernandes e do médico.
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